Jornal Raizonline nº 148 de 28 de Novembro de 2011 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - A sociabilidade associal
O velho Kant lá para o século XVIII trouxe para a sócio - filosofia esta terminologia que não será nunca de esquecer até porque mantém toda a sua verdade e universalidade: digamos que é quase «genética» esta verdade, tem passado pelos séculos sem beliscão, sem mexer um ponto visível que seja, enfim e breve, estamos mesmo condenados a ser socialmente associais.
No fundo do que se trata é de uma coisa bastante complexa: encontrar pontos de convergência e de interesse mútuo que façam pender a balança, bastaria um pouquinho só, para o lado do social. Como em todos os casos em que quem coloca de um lado tem de tirar no outro a tarefa tem sido sempre difícil e nalguns casos impossível de levar a cabo.
Mesmo entre as escalas sociais em que um bocado mais de clareza nos raciocínios se coloca quase como evidente as coisas acabam muitas vezes por não resultar senão parcelarmente. A tal defesa do «quintal» ou do «espaço psíquico vital» é uma questão mesclada das mais diversas nuances: quando se parte de coração aberto para um acordo que satisfaça as duas partes, aquilo a que se chama um «negócio em que ambas as partes ganham» o pobre (de espírito, neste caso) desconfia sempre.
Ao longo dos tempos e falando em termos de experiência pessoal tenho-me encontrado com muita gente que não conhece simplesmente, não conhece de todo, aquela gratificação que cada um de nós pode ter por ensinar uma coisa a uma pessoa «de borla».
Depois e em face da relutância quase instintiva do outro e falando agora aqui em termos que podem ser considerados cínicos não posso sequer utilizar o argumento de que se eu ensinar a uma pessoa uma dada coisa que ela não sabe, como é evidente, pelo menos «ganho» o tempo que levaria a dizer-lhe como se faz todas a vezes que essa pessoa precisasse de fazer isso que eu me proponho ensinar. Não posso dizer isso é claro...uma vez que isso seria entendido como havendo um enfado meu em dizer como se faz desde a primeira vez e a resposta seria mais ou menos: «se não queres ajudar tudo bem...etc. etc.».
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