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segunda-feira, 17 de agosto de 2015

A FAMÍLIA TECO-TECO - Conto Infanto-Juvenil de Avómi (Cremilde Vieira da Cruz)

A FAMÍLIA TECO-TECO

Conto Infanto-Juvenil de Avómi (Cremilde Vieira da Cruz)
Ia eu muito contente apanhando pedrinha aqui, florinha ali, olhando as árvores, sorrindo às ervinhas, quando ouvi uma vozinha muito fininha que pedia socorro. Corri para o local donde vinha a voz e deparei-me com um coelhinho que chorava.

- Que te aconteceu, coelhinho?- perguntei-lhe.
- Tive um acidente - respondeu o coelhinho - Parti uma patinha quando fugia dum caçador maroto que queria matar-me, para fazer uma boa almoçarada. O mais grave é que, depois de tanto fugir, não sei onde estou, e não consigo orientar-me para voltar para casa. Os meus pais e irmãos devem estar desesperados.

- Deixa-me ver a tua patinha!... Ah, isto está feio! De certo terás que ir ao veterinário para te tratar e é melhor fazê-lo quanto antes, porque se o não fizeres, podes ficar com a patinha aleijada.
- Terei que ir ao veterinário?! O que é isso?
- O veterinário é um Senhor que trata os animais; é o médico dos animais.
- Ah, nunca tinha ouvido falar!
- Mas o que eu mais queria, era encontrar a minha casa e a minha família. Longe dos meus familiares, sinto-me muito triste.

- Vais dizer-me onde vivem os teus pais e depois de teres a patinha tratada pelo veterinário, levar-te-ei a casa. - disse eu.
- O meu pai é o Senhor Teco-Teco e a minha mãe a Senhora Teco-Teco. A nossa casa é na quinta do Senhor Conde de... Ai que me esqueci do nome do Senhor Conde!... - disse o coelhinho.
- E como se chama a quinta? Se me disseres o nome da quinta e onde fica...
- A quinta fica num Monte e chama-se Quinta da Corticeira.

A nossa toca é muito espaçosa e gostamos muito de lá viver, porque temos sempre ervinhas frescas e aguinha muito limpa, sem precisarmos de ir para longe da toca. A água corre num riacho ali ao pé e faz um barulho tão bonito, que até parece que canta.
- Não te preocupes, que não será difícil encontrarmos os teus pais, pois pelas indicações que me dás, havemos de lá ir ter.
 

- Que bom! Estou tão desejoso de chegar a minha casa e tão preocupado com os meus pais! Eles devem estar aflitíssimos e muito tristes.
- Então vamos lá visitar o Senhor Dr. Pereira que é um veterinário meu amigo, e ele tratar-te-á cuidadosamente. A tua patinha ficará boa num instante. Vem cá para o meu colo, não quero que te esforces a andar. A tua patinha não deve estar partida, mas sim muito magoada, pois se estivesse partida não poderias andar.

Fomos ao consultório do Dr. Pereira que vive numa aldeia ali perto e ele observou logo a patinha do coelhinho Teco-Teco.
- Isto não é nada de grave. A tua patinha está apenas magoada. Vou pôr-te uma pomadinha e daqui a pouco estarás pronto para uma corrida.
 

- Obrigado, Senhor Dr. - disse o coelhinho - O Senhor é muito simpático e bom. Se soubesse o susto que apanhei, quando vi aquele caçador a apontar-me a arma!... Nunca tinha corrido tanto na minha vida. A minha sorte foi ter-me magoado quando já estava bastante longe dele, senão...
Esta amiga socorreu-me e trouxe-me aqui para o Senhor Dr. tratar a minha patinha, pois se assim não fosse estaria ainda no meio do mato, perdido e cheio de dores.
- Onde moras? - perguntou o veterinário.
- Moro na Quinta da Corticeira.

- Essa quinta é muito perto daqui! Estás a ver aquele Monte? É ali a Quinta da Corticeira.
Como estás muito cansado e a nossa amiga também deve estar, levá-los-ei no meu carro, para evitar que subam o monte a pé.
- Obrigado, Senhor Dr. Pereira! Estou tão contente por o ter conhecido!

Quando chegar a casa vou dizer aos meus pais que o Senhor é o melhor médico do mundo e, tenho a certeza que a partir de agora, a Família Teco-Teco há-de vir ao seu consultório sempre que houver qualquer problema de saúde.

Avómi

(Cremilde Vieira da Cruz)



terça-feira, 28 de julho de 2015

Poesia de Cremilde Vieira da Cruz - NÃO ME CITES - CONSCIENTES DE NOSSA INCONSCIÊNCIA - O POEMA QUE QUIS FAZER-TE (A MEUS FILHOS)


Poesia de Cremilde Vieira da Cruz - NÃO ME CITES - CONSCIENTES DE NOSSA INCONSCIÊNCIA - O POEMA QUE QUIS FAZER-TE (A MEUS FILHOS)


NÃO ME CITES


Não deixes que tua sombra te faça sombra,
Nem te despedaces de cansaço de fugir
De ti, num desespero que te assombra
De obscura tristeza, e te faz partir,

Receando o mundo inteiro, na penumbra
De teus passos, no jardim que não viste florir.
Diante de teus olhos nada se vislumbra,
Mas dentro em pouco, a alvorada vai surgir.

Se deslizares pelas ondas esculturais
De teus pensamentos nobres, na descoberta
De cada hora em cada hora certa,

Não me cites, nem recordes que existi.
Encontrarás então uma porta aberta
E deixarás de ter tua alma deserta.

Cremilde Vieira da Cruz


CONSCIENTES DE NOSSA INCONSCIÊNCIA


Percorremos conscientes,
A noite misteriosa,
Sob vagas altas que o mar atira sobre nós.
Ainda agora era a alvorada de nosso amor
Que agora, não sei porquê, é misterioso, mas enorme.
Talvez quando nascemos,
Alguém tenha trocado nossos caminhos.

Devia ser madrugada
E, de luzes apagadas, enganaram-se.
Nascemos para sentir nosso amor e dizer,
Mas esta distância desarrumada,
Quase muda e fria...
Não nascemos para ser aquecidos pelo mesmo sol,
Nem para caminhar na noite iluminada.

Envolve-nos uma escuridão enorme
E um mistério rude,
Mas esta força etérea que sentimos,
Faz-nos caminhar, caminhar...
Caminhamos de olhos fechados, mas conscientes,
Nesta distância desarrumada,
Como que abraçados por um mistério.

Quando abrimos os olhos,
Conscientes de nossa inconsciência,
Estamos abraçados.

Cremilde Vieira da Cruz



O POEMA QUE QUIS FAZER-TE (A MEUS FILHOS)


Quis fazer-te um poema tão belo,
Quanto o é teu coração,
Tão brilhante,
Como o brilho de teu olhar,
Tão grandioso,
Como o amor que te tenho.

Mas os meus pensamentos nublados
E empobrecidos de solidão,
Minha mente fatigada...
Oh, pobre inspiração que ruiu,
Como as paredes do castelo dos meus sonhos...!
Não te fiz o poema.

Todavia, quero que saibas,
Que tenho um poema dentro de mim,
Que sinto e é teu.
O meu poema,
Aquele que quis fazer-te...
Olha-me nos olhos,
Como quando te embalava,
Como quando te abraçavas a mim!

Olha-me nos olhos
E lerás o meu poema.

Cremilde Vieira da Cruz




quinta-feira, 9 de julho de 2015

Poesia de Cremilde Vieira da Cruz


Poesia de Cremilde Vieira da Cruz

ENTRE CORAÇÕES

Permaneço na penumbra das horas
E mais não sou que um pesadelo.
Oiço bater à porta do vizinho,
Oiço tocar o telefone d vizinho,
Oiço o ladrar do cão do vizinho...
Tudo para lá da porta fechada.

Falo com os pinheiros,
Mas olham-me de lado
E mandam-me não sei onde.

Não sei que distância vai
De meu coração a vossos corações,
Mas deve ser enorme,
Porque a percorro há milhões de anos
E não consigo alcançá-los.

O meu medo é que a memória se me apague,
O sangue me gele nas veias,
E o tempo me traia.

Se isso acontecer,
Quero que saibam que vivi
Colada à memória do passado,
No vácuo do delírio do presente.
O futuro não existe.

O amor foi ontem.
Sonho amarrada a fotografias emolduradas,
Balbucio meu amor,
Mas as lágrimas interrompem-me,
Enquanto a noite desce.

Sei lá de que tamanho é minha noite,
Neste dia a começar de madrugada!

Cremilde Vieira da Cruz


CONSCIENTES DE NOSSA INCONSCIÊNCIA

Percorremos conscientes,
A noite misteriosa,
Sob vagas altas que o mar atira sobre nós.

Ainda agora era a alvorada de nosso amor
Que agora, não sei porquê, é misterioso, mas enorme.
Talvez quando nascemos,
Alguém tenha trocado nossos caminhos.
Devia ser madrugada
E, de luzes apagadas, enganaram-se.

Nascemos para sentir nosso amor e dizer,
Mas esta distância desarrumada,
Quase muda e fria...
Não nascemos para ser aquecidos pelo mesmo sol,
Nem para caminhar na noite iluminada.

Envolve-nos uma escuridão enorme
E um mistério rude,
Mas esta força etérea que sentimos,
Faz-nos caminhar, caminhar...
Caminhamos de olhos fechados, mas conscientes,
Nesta distância desarrumada,
Como que abraçados por um mistério.

Quando abrimos os olhos,
Conscientes de nossa inconsciência,
Estamos abraçados.

Cremilde Vieira da Cruz




terça-feira, 23 de junho de 2015

Poesia de Cremilde Vieira da Cruz


Poesia de Cremilde Vieira da Cruz

TEU NOME

O sopro do vento,
A paisagem,
Os fenos estendidos que chamam,
Os segredos que se omitem,
A verdade aberta que as marés clamam.

A paisagem vai e vem,
Agita-se
Como se quisesse falar com alguém
Sem corpo,
Ou como se quisesse precipitar-se
Para lá dos montes,
Para lá do além.

Não há vagas entre os dedos das ervas.
Não há fogo nem porta aberta
Onde resvalam as pedras
No rumor de águas escorridas.
Sem braços que procurem,
Soltam-se à deriva sem desejos,
O mar no meio,
Páginas sem teto,
Paisagem irrequieta sem folhagem.

Quantas páginas precisarei
Para escrever teu nome?
Basta um sopro do vento.
Eu sei!
A quietude do peito,
Teu nome...
Não há mais sílabas nem rumor.

Como tu queiras.
Não tenho membros,
Não tenho nada,
Apenas aquele amor,
Fixado pelo sopro do vento,
Na distância do mar.


Cremilde Vieira da Cruz


METAMORFOSE

Doem-me os braços se escrevo,
Doem-me os olhos se leio,
Dói-me a vida
De angústia envolvida,
Dói-me a alma,
Dói-me a boca.

Dou um ai,
Ninguém o ouve,
E quase me sinto louca.
Também o longe me dói.

Dói-me a monotonia do tempo,
Dói-me se me fala o vento.
Às vezes dói-me a presença.
Dói-me quando a noite cai,
Doem-me as horas que espero,
Dói-me tanto desespero.
Dói-me quando abro a porta,
Se a fecho também me dói.

Dói-me o peso do silêncio,
Dói-me tudo quanto penso,
Dói-me a mudez das paredes,
Dói-me o silêncio das pedras,
Dói-me tudo sem reservas,
Dói-me o nevoeiro denso,
A lonjura do horizonte imenso,
Dói-me o mar se grita às vezes,
Ou se me embrulha nas redes
De tudo quanto me dói.

Cremilde Vieira da Cruz




quinta-feira, 4 de junho de 2015

Poesia de Cremilde Vieira da Cruz


Poesia de Cremilde Vieira da Cruz


TENHO MEDO

Tenho medo de ter medo,
Deste medo que me faz medo.

Tenho medo do medo que tenho.
Tenho medo que tanto medo,
Me faça perder o medo,
De perder o que não tenho.

Tenho medo...

Cremilde Vieira da Cruz


SONHO

Vinhas
Todos
Os dias
E eu
Olhava,
Olhava,
Olhava...
Pr’a ti.

Depois,
Surgiu
Chuva
Miúda,
Molhou
Os sonhos.

Fugi,
Com medo
De te
Amar.

Cremilde Vieira da Cruz


ANOITECER

Espreito quase ininterruptamente à janela,
E para além de vestes abanadas pelo vento,
Rostos desconhecidos,
Não vejo nada.

É um domingo qualquer,
À espera de ti,
E vedam-me a visão,
Persianas envelhecidas,
Paredes intransponíveis,
Nuvens de poeiras esquálidas,
Portas trancadas opacas.

Neste domingo de horas curtas,
Quase no fim,
Ainda espero por ti.
Espero por ti,
Espreito à janela
E apenas se me deparam paisagens mórbidas,
Ou qualquer sonho inatingível.

Apetecia-me o mar,
O longe...
Afaga-me a “Rosa em Botão”
Do poema de Vinicius.
O mar não me chamou,
Partiu não me levou.
O céu não me quis ver,
Partiu sem me dizer.

Havia uma palavra azul
Que me estendia os braços,
Que me levava pela mão,
Que me beijava os dedos,
Mas morreu.
Morreu de sede,
De fome,
E de saudades do mar
Que lhe afagava as raizes.
Costumava falar-me de ti com carinho.
A cada instante,
Embrenhava-me na paisagem tranquila daquelas horas,
E sonhava...

Não sei porque espero por ti.
Não sei porque espero por alguém...
Ainda espreito à janela,
E escorre dos vidros um silêncio negro,
Como o negrume de minha ansiedade.

Escrevo para ti,
Porque não posso falar contigo.
Minhas falas morreram,
E foram com a enchente do rio,
Na hora da tempestade.

Escrevo para ti,
Para estar mais perto de ti,
Nesta hora de crepúsculo
De pensamentos desnudos,
Conscientes da verdade.

Cremilde Vieira da Cruz





segunda-feira, 1 de junho de 2015

O ALBERTÃO, O FRANCISCÃO E O DOMINGÃO


O ALBERTÃO, O FRANCISCÃO E O DOMINGÃO

Conto Infanto / Juvenil por Avómi

(Cremilde Vieira da Cruz)


Encontrei estes três irmãos num dos meus passeios pela floresta africana. Quando me viram, ao contrário do que esperava, dirigiram-se a mim e olharam-me admirados, como que a dizer que o meu lugar não era ali.

Nunca tinha visto veados tão perto e foi uma sorte acontecer naquele dia, pois nos vastos passeios que dei pela floresta com esperança de encontrar estes animais de que tanto me falavam, apenas os tinha avistado a uma distância enorme.

- O que faz aqui uma avozinha solitária? - perguntou o primeiro.
- Gosto dos teus cabelos brancos! - exclamou o segundo.
- Vieste para nos conheceres? - perguntou o terceiro - Tem cuidado! Não devias andar por aqui sozinha.

Então eu disse:
- Em primeiro lugar, gostaria que me dissessem os vossos nomes, pois gosto de tratar os animais, assim como as pessoas, pelos nomes próprios.

- O meu nome é Albertão, este é o Franciscão e aquele o Domingão. - disse o primeiro.
- Muito bem! Têm nomes muito bonitos! Quem escolheu os vossos nomes?

- O meu nome foi escolhido pelo meu pai. Quando nasci era muito grande e o meu pai entendeu que, em vez de me pôr o nome de Alberto que tinha escolhido antes de eu nascer, chamar-me-ia Albertão.

- O meu nome é Franciscão. Foi o meu avô que escolheu. Apesar de eu ter nascido muito pequenino, ele entendeu que eu iria crescer muito e, por isso, achou que não deveria chamar-me Francisco, mas Franciscão.

- Eu sou o Domingão! Foi a minha mãe que escolheu. Como nasci num domingo de Céu azul e Sol radioso e ela achou que tinha sido o domingo mais belo de toda a sua vida, em vez de me chamar Domingo, chamou-me Domingão.

- Não há dúvida que, qualquer de vós é um exemplar imponente! - acrescentei.

Vou então falar-vos de mim:
Chamo-me Avómi, e quem me pôs o nome foi o meu neto, o Tiago que é um menino muito simpático. É pena que não o possa trazer aqui para vos apresentar, pois ele também gosta muito de animais e tenho a certeza que lhe agradaria conhecer-vos.

Tenho vindo aqui dezenas de vezes, sempre só, porque queria ver-vos de perto e falar convosco. Venho sempre só, porque aqueles que poderiam acompanhar-me não acreditam, quando lhes digo que me encontro com os animais e converso com eles. Dizem que sou maluquinha.

- Malucos são eles! - disse o Albertão, erguendo as hastes de que se orgulhava.
- Agradeço o apreço que demonstraste pelos meus cabelos brancos,
Franciscão. Não é vulgar gostar-se de cabelos brancos, sabes? Até há quem os pinte de castanho, de preto, de louro e de outras cores. - disse eu.
- Cada um usa como gosta, não é? - disse o Franciscão - Também há quem não goste das minhas hastes, mas eu gosto e ando sempre de cabeça bem levantada, para que se vejam bem.
- São lindas! - exclamei - Agora que as vi de perto, ainda gosto mais que antes.

Falta responder ao Domingão, o que passarei a fazer:
Agradeço o teu cuidado, Domingão! Tens razão, pois sou um bocado atrevida e desloco-me na floresta como se da minha casa se tratasse. Nunca penso no perigo que isso acarreta. Contudo, tenho tido muita sorte e todos os animais que tenho encontrado têm sido atenciosos e estimam-me bastante.

Há dias, quando vos procurava, dei comigo diante de um leão tão grande, tão grande, que pensei:
Desta vez acontecer-me-á como à Avozinha do "Capuchinho Vermelho". Mas não! O leão foi tão simpático que foi ele próprio a dizer-me que se quisesse encontrar-vos, teria que vir a esta hora.

Acreditei nele e aqui estou, muito contente por estar frente a frente com os veados mais elegantes e agradáveis que jamais tinha imaginado.

1991/10/06

Avómi

(Cremilde Vieira da Cruz)




quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Conto de Avómi (Cremilde Vieira da Cruz) - O NATAL DOS COELHINHOS AZUIS


Conto de Avómi (Cremilde Vieira da Cruz)

O NATAL DOS COELHINHOS AZUIS

Numa coelheira amarela viviam cinco Coelhinhos azuis que às vezes se vestiam de cores garridas, como vermelha, verde alface, amarela e outras cores que agora não me recordo, mas que davam muito nas vistas.

Aproximava-se o Natal e os Coelhinhos começaram a andar numa azáfama, fazendo compras para os familiares e amigos mais chegados. Ainda o Natal vinha sei lá onde, já eles andavam na floresta à procura dum ramo de árvore bonito, para fazerem a Árvore de Natal que, diziam eles, iriam enfeitar de maneira bem diferente do que haviam feito no Natal anterior.

Este Natal, - dizia o Coelhinho Tiago, havemos de fazer uns enfeites bem diferentes! concordam comigo? A nossa Árvore de Natal terá a enfeitá-la muitos bonequinhos e outros brinquedos que depois distribuiremos pelos nossos amiguinhos que não têm a sorte de ter tantos brinquedos como nós.

- Boa!!! – Disse o Coelhinho Miguel – Tiveste uma excelente ideia.
Fixe! – Exclamou a Coelhinha Rita – Afinal, vocês são mais inteligentes do que eu pensava! Não é que me considere a mais inteligente, mas às vezes vejo-vos fazer certas palermices e penso assim: - Estes dois Coelhinhos são tolinhos! Ainda bem que me enganei e que vocês até pensam nos Coelhinhos menos afortunados.

- Eu também penso! – Disse o Coelhinho Diogo –Julgam que eu não sou amigo de todos os Coelhinhos? Até já dei brinquedos meus a alguns que não têm tantos como eu!

- Vocês são mesmo “Daaaah.” – Acrescentou a Coelhinha Margarida – Não sabem que o Pai Natal só passa pelas nossas coelheiras mesmo no dia de Natal? Ele é muito pontual e vem sempre à meia-noite trazer os brinquedos que distribui por todos os Coelhinhos que lhe escreveram uma cartinha com o seu pedido!

- Às vezes O Pai Natal não deixa exactamente o que os Coelhinhos gostariam, mas isso é porque ele também tem muito em que pensar, e esquece-se – disseram os mais velhos.
- Eles estão a brincar connosco e não vão fazer nada do que estão a dizer? - disse a Coelhinha Rita - Eles são uns marotos e passam o tempo a tentar enganar-nos. Além disso, estão sempre à espera que os pais façam todas as tarefas, sejam elas quais forem. O que eles se esquecem é que, apesar de sermos mais novos, gostamos de ajudar os nossos pais e até de surpreendê-los, de vez em quando, por isso, vamos pedir-lhes para sermos nós a organizar tudo o que é alusivo ao Natal, incluindo a ceia. Eles vão aceitar a sugestão, não acham?

- Nós sabemos bem como convencê-los! – disse o Coelhinho Diogo – Não é verdade Coelhinha Margarida?

- Sim, sim! – exclamou a Coelhinha Margarida muito satisfeita - Poremos um bonito ramo, aquele mais bonito que encontrámos há dias na floresta e faremos uma bonita Árvore de Natal. Enfeitá-la-emos com muitos presentes, faremos uma Ceia de Natal à maneira com todas as iguarias que habitualmente se fazem nesta época.Terá que ser em muito maior quantidade, pois havemos de convidar os Coelhinhos das redondezas, cujos pais não têm possibilidades de fazer a Ceia de Natal.

- És uma boa Coelhinha! – Exclamaram todos, dirigindo-se à Coelhinha Margarida, pela ideia que teve.
- Obrigada, mas esta ideia partiu da Coelhinha Rita que pensa muito nos Coelhinhos que não têm brinquedos. Foi ela que me ensinou a pensar assim.

- Estou muito contente por teres memorizado as coisas que te tenho ensinado! – disse a Coelhinha Rita, à Coelhinha Margarida, com um sorriso de orelha a orelha.

- Ó Coelhinha Rita, pensas que eu sou alguma “Dah”? – Venham daí para darmos início às tarefas que temos em mente, ou daqui a pouco chega o Natal e não teremos nada feito. – Já agora, meninos Coelhinhos Miguel e Tiago, não pensem que vão passear e não nos ajudam...!

Avómi

(Cremilde Vieira da Cruz)



Poesia de Cremilde Vieira da Cruz


Poesia de Cremilde Vieira da Cruz

 
ONDE MORAS, FELICIDADE?


Passei na rua onde moras, felicidade!
Ia ao teu encontro e deixei-te fugir,
Quando a noite, cheia de vaidade,
Veio para me castigar e denegrir.

Dia após dia, tempo sem idade,
Tentando encontrar-te sem o conseguir.
Meus olhos rasos de infelicidade,
Escondiam segredos de minha alma a fluir.

Chamava por ti, mas nunca me ouvias,
E eu procurava, procurava a medo,
A rua onde moras, ou onde vivias!

Nem sombra de ti, um gesto, ou leve rumor...
Nem a tua voz ou murmúrio em segredo
E eu tinha tanto que te dar, tanto amor!!!...

Cremilde Vieira da Cruz

 
FLORES DE SETEMBRO

Puseste a jarra no meu colo,
Quebraste meu coração.
Foi na Terra do Não,
Tempo de ocasião,
Aragem carregada de paixão.
Não foi nada, não!

Foram flores de Maio,
Ou talvez não.
Foram flores de Setembro.
Foi na Terra do Não.
Havia lágrimas nos odores da noite
E levavas-me pela mão.

Tu ias partir.
Eu ia partir.
Mas as flores,
As flores de Setembro,
Essas ficaram à beira do sonho,
Na Terra do Não,
Junto à lagoa azul,
Junto à vereda sem chão.

Bateram portas…
Estávamos à beira do vento.
Não foi nada, não,
Apenas nossa decisão.
Foi na Terra do Não.

Cremilde Vieira da Cruz