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segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Poesia de Pedro Du Bois - SILÊNCIO - LADOS

 
Poesia de Pedro Du Bois

 
SILÊNCIO



A reafirmação do ocaso

sucessivo ao decorrido. Tempos

eleitos em esquecimentos. Torpor

                                       e formato.



A recondução do corpo ao silêncio

originário. O primeiro sinal de vida

escrito no todo universal.



            A solidão se completa

            em esquecimento

                  e silêncio.
 
(Pedro Du Bois, inédito)


LADOS



Na peça dos fundos
deposito o que não quero

que me acompanhe



no fundo do quarto
depósito as jóias



aos interesses maiores

deposito flores plastificadas

nas memórias arquivadas

dos inoxidáveis seres

desprovidos de passado



nos desinteresses

reverbero cânticos

e desprezo no rito

a sensação vazia

do conflito: entre

orações descubro

o texto analisado

no espúrio tempo

desconexo da vaidade



Faço o que me é pedido

perdido em estrelas

vistas em céus

anilados: anilhado

o pássaro se descobre

em céus abandonados



do que faço a pedido

relembro a ensolarada

tarde das tradições:

       antes do poente

     na desorientação

                 do corpo



Quando é hora

acordo em sonhos

e me desfaço do corpo

ao relento: na afirmação da gratidão
sou descrente emotivo



sendo hora do quando

me encontrar no bastante

faço do enjôo o sábado

aferido em descanso



Irrealizado termo
usado no subterfúgio

dos automóveis
em estreitas estradas:

o cotovelo do lado de fora

na sequência quilométrica



o termo correto na irrealização

do esteta no conforto da história:

habito a vida anterior do trajeto

e me recuso em novidades



ao morrerem malvadezas

se estendem sob o solo
no aguardo do perdão



malvadezas morrem

em perdões e se reabilitam

nas bondades contrariadas



Busco a fotografia publicada

na revista há tantos anos:

testemunho no aguardo

do desvelo com que notícias

praticam vaidades



a fotografia busca

representar em ânsia

a permanência: desbota

e envelhece personagens



Arrasto o tronco caído

sobre ao leito: não posso

estragar a rodovia no permitir
a interrupção da viagem



o tronco arrastado

permanece: leito desdobrado
na fluidez do trânsito

concatenado das saídas.





(Pedro Du Bois, inédito)


 
http://pedrodubois.blogspot.com
 
 
 


Poesia de Virgínia Teixeira - Vidas passadas - Caminho forjado - Sonhei que morrias

 
Poesia de Virgínia Teixeira
 
Vidas passadas
 
A minha alma deambula neste caminho agreste
Como tantas outras vezes deambulou noutras vidas
A minha alma procurou-te sem saber até que vieste
E a sede e a fome amansaram, por ti ávidas
 
Milhares de vidas percorri sem te encontrar
Milhares de vidas percorri apenas para te perder
Milhares de vidas roguei por ti sem me aperceber
Milhares de vidas gastas só para te procurar
 
E quando nos encontrámos, em cada vida passada
E me amaste por apenas um momento, ferozmente
A minha alma encontrou o seu porto e acreditou ter nele pousada
 
E quando nos perdemos, em cada vida passada
E nos despedimos com o olhar marejado e a alma pesada
Proferi mais uma vez a promessa de te procurar eternamente...

Caminho forjado
 
A amazona forja o seu próprio caminho,
Com uma espada de ferro incandescente
De um lado ao outro como um remoinho,
Cortando o mato bravio compassadamente
 
Desbrava o seu próprio caminho a guerreira
Com golpes desferidos com aparente bravura
De um lado ao outro, numa apaixonada cegueira
Abatendo as ervas daninhas e roseiras sem censura
 
A amazona assim desvenda o caminho da sua sina
Com golpes desferidos à falta de um caminho desimpedido
Cegamente, sem saber o que está para lá de cada colina
 
Marcando cada passo com uma grossa lágrima em pérola transformada
Sem hesitar, avança, com o seu peito de mulher aberto ao desconhecido
Não crente, não esperançosa, mas incapaz de se admitir derrotada!

 
Sonhei que morrias
 
Esta noite sonhei que morrias...
Encontrei-te deitado num caixão com aroma a eternidade
As mãos repousadas no peito que já não movias
E as pálpebras cerradas a esconder o teu olhar de tempestade...
 
As lágrimas corriam pelo meu rosto contorcido
E a minha voz transformada num grito alucinado
Som de besta selvagem, de espirito perdido...
Abracei o teu cadáver jurando manter-te acorrentado
 
Prometi-te o meu coração estraçalhado no peito
O meu corpo e a minha alma abandonadas à sua sorte
Deitei-me devagar junto a ti no teu eterno leito
 
E beijei-te como uma menina bravia que saboreia a morte
Envolvi-te com o desespero de mulher endoidecida
E ali restei, ao teu lado, eternamente adormecida...
 

 
 

domingo, 16 de agosto de 2015

Poesia de Adelina Velho da Palma - A NOVA VELHA - ANULAÇÃO - ÓDIO

 
Poesia de Adelina Velho da Palma
 
A NOVA VELHA
 
De longe faz lembrar uma menina
empoleirada nos saltos da mãe,
embora de estatura muito aquém
duma ideal figura feminina…
 
A cabeleira ruiva estilo crina
aderna num ridículo vaivém,
o traje é colorido, vê-se bem,
demasiado até, pra gente fina…
 
Mas eis que tal visão se aproxima
e nos permite enfim grato prazer
de lhe colocar bem a vista em cima…
 
Só então nos é dado perceber
verrugas, flacidez e pantomina
de velha que não soube envelhecer…
 
Adelina Velho da Palma

ANULAÇÃO
 
Ao pé de ti eu não sou como sou
visto a pele de alguém bem diferente
pois se fosse como sou realmente
não podias ficar aonde eu estou...
 
Não me opondo a que estejas onde estou
consinto em comportar-me como ausente
de vontade e opinião dormente
imune à enormidade que te dou...
 
Se tivesses alma suficiente
eu não abdicaria do que sou
e tu encarnarias outra gente...
 
Mas não consegues ir aonde eu vou
por isso quem avança para a frente
sou eu – não sendo aquilo que sou!...
 
Adelina Velho da Palma

AVISO
 
O soneto que se segue contem ideias e/ou palavras que podem chocar o
leitor mais sensível
 
ÓDIO
 
Quero-te exangue, tolhido com dores,
a súplica e o medo em teu olhar,
a boca desfigurada num esgar
e o corpo carcomido por tumores...
 
Quero-te esmagado por dissabores,
atormentado, contrito, alvar,
sem nada que te possa aliviar
nem arrependimento nem licores...
 
Quero-te humilhado sem esperança,
castrado, sem recurso nem vingança,
presa de patético frenesi...
 
Quero-te reduzido à nulidade,
cuspir-te na cara à minha vontade
e esquecer que um dia te conheci!...
 
Adelina Velho da Palma
 
 
 
 

Poesia de Arlete Deretti Fernandes - A Quem muito amei; Bolinhas de sabão; Sementes de Amor; Sonho

 
Poesia de Arlete Deretti Fernandes

A Quem muito amei; Bolinhas de sabão; Sementes de Amor; Sonho 

A Quem muito amei
 
 Queria ser uma flor, a rosa.
 De todas a mais delicada.
 Queria ser pedra preciosa
 que cintila ao sol, na madrugada.

Ao surgir de seus primeiros raios,
 a iluminar a natureza inteira,
 eu saio a vagar, a procurar-te,
 até chegar a lua branca e faceira.

Meu destino será amar-te para sempre,
 a plainar pela imensidão do Universo,
 qual ave a chamar a companheira.

Esta cicatriz jamais se fechará,
 espero encontrar-te em outra vida,
 minha saudade só assim se aplacará.

Arlete Deretti Fernandes
 
Bolinhas de sabão
 
A menina de vestido bonito,
 lá do topo da escada,
 solta bolinhas de sabão
 e as observa admirada!
 Multicoloridas bolhinhas !!!
 que voam nas asas do vento.

Vestido de bolinhas esvoaçante,
 Lá no topo da escada!
 a menina embevecida e deslumbrante,
 sonha que as bolinhas seguem sua estrada,
 sem saber que se acorda na vida num instante,
 E as bolinhas explodem no ar, espatifadas!.

Arlete Deretti Fernandes
 
Sementes de Amor
 
Se eu for um plantador de esperanças,
 jogarei lindas sementes pelos caminhos que passar.
 Sementes de amor aos carentes,
sementes de paz aos sofridos,
 sementes de alegria aos tristonhos.

E quando voltar da jornada,
 pularei, cantarei versos de esperança
 a todos que dela precisarem.
 Verei ao longe o arco íris depois da chuva,
 as estrelas, o capim e o cheiro de terra molhada.

E sorrirei, porque muitas sementes
 brotaram na minha volta, e de seus brotos
 saíram pétalas multicoloridas,
 e as crianças têm boas escolas,
 os doentes são tratados em bons hospitais,
 os idosos recebem carinho.
 E as sementes de amor proliferam cada vez mais...

Arlete Deretti Fernandes
 
Sonho
 
Quero chegar bem devagarinho.
 Pé antepé, e com carinho,
 Recordar aquela meiga criança
 Que um dia esperou o coelhinho.

Passar a mão em seus lindos cabelos,
 Beijar seu rosto inocente,
 Olhar com alegria seus olhos,
 Que amarei para sempre.

Quando chegam estas datas
 Meu coração sente mais saudades
 De um tempo que foi ontem.

Caminho pelos gramados
 E no meio das plantas revejo
 Um cinema inesquecível.

Arlete Deretti Fernandes


 

Poesia de António Cambeta - VENDAVAL; SAUDADES NO CAIS DEIXEI

 
Poesia de António Cambeta
 
VENDAVAL;  SAUDADES NO CAIS DEIXEI   
 
 VENDAVAL
 
 No meu pequeno, mas belo jardim
 entrou a tristeza
 o vendaval que assolou a região
 levou-me as belas flores
 as rosas negras, os crisântemos amarelos
 as orquídeas de âncora
 que eu tinha bem estimadas
 como um tesouro que Deus nos dá.

As plantei e tratei
 com paciência de bonzo
 numa tarde serena e luminosa
 de Maio

Diariamente
vigiava meu tesouro
 de orquídeas de âncora
 de Fá Mui e de tulipas

Visionava distante com se de um sonho
 se tratasse.
 De um sonho pleno de amor.

Viver o sonho que sonhei
 entre as orquídeas de âncora de meu jardim
 embriaga-me
 no seu perfume oriental
 das orquídeas de âncora.

Uma noite
 a tristeza
 entrou em meu pequeno mas belo jardim
 e com o vendaval da noite
 minhas orquídeas de âncora
 minhas rosas negras
 meus crisântemos amarelos
 foram levadas pelo vento.

Na manhã seguinte
 ao encontrar todo o meu tesouro
 desfeito, chorei lágrimas de sangue.
 no chão ainda pude ver uma orquídea de âncora
 tentar sobreviver foi só o que restou

De novo, com paciência de chinês
 tentarei fazer florir meu tesouro
 e o protegendo das intempéries
 irei fazer para que minhas orquídeas de ancora
 fiquem bem amarradas ao fundo da terra
 para que jamais as possa perder
 
 SAUDADES NO CAIS DEIXEI
 
 Saudades no cais deixei
 ficando assim aliviado,
 esqueci quem tanto amei jamais serei atraiçoado.

O mar, esse sei que é traiçoeiro,
 mas a ele estou habituado,
 o tenho por amigo e companheiro,
 sei que dele sou sempre amado.

Suas águas vou percorrendo,
 as marés as vou contando,
 e aos poucos envelhecendo
 mas dele sempre gostando.

Neste mar imenso e salgado
 suas águas vou sulcando,
 tendo o leme bem calibrado
 minhas mágoas vou soltando.

Tenho o mar e o céu por companhia,
 à noite as estrelas vou contemplando,
 e o sol que raia de dia,
 esses me vão acompanhando

Vivo um pouco na solidão
 não tendo com quem falar,
 fortalece meu coração,
 Tenho Deus para me ajudar.

O rumo nunca perdi,
 com o norte sempre atinei,
 foi nele que sempre vivi
 e nele sempre estarei.

é sempre bom conselheiro,
 para quem com ele souber falar,
 ele é bom é fiel companheiro
 que sempre nos sabe amar.

Meu rumo está destinado,
 ao longe, o cais já avisto,
 a ele ficarei amarrado
 nesta viagem tudo está já está previsto.

O mar, este, agora de berço me serve,
 depois será minha sepultura,
 minhas cinzas ele conserve
quando chegar à altura.

Depois, para sempre nele repousarei,
 findarão as minhas mágoas,
 e eternamente navegarei
 em suas serenas águas.

Outras marés outros oceanos,
 irei então encontrar,
 findam assim os desenganos
 a quem na vida tanto soube amar.


 

Poesia de Sanio Aguiar Morgado - CINQUENTA ANOS - TEMPO DA POESIA

 
Poesia de Sanio Aguiar Morgado

CINQUENTA ANOS
 
 Hoje acordei com
 cinquenta anos e fui procurar
minha cara no espelho.

Onde estará o rosto
 que era meu, com tudo que sou
 e sempre esteve comigo.

Os cabelos que me
 cobriam a testa, a pele sem
fungos e o olhar sem rugas.

Agora tenho que me
 aceitar todos os dias e acostumar
 com todas estas diferenças.

Não me encontrarei
 mais neste espelho, mas este olhar
sei que ainda é o meu.
 
TEMPO DA POESIA
 
 Não há como evitar
este tempo que se esvai,
 pelos meus dedos
 e o olhar.

Perdendo-se em
labirintos, com sonhos
 presos a abismos
 que não se comunicam

Agonizando pelas
paredes e nas fotos
e papéis esquecidos
em gavetas.

Guardarei comigo
 preso a correntes, meus
 versos, estrofes e rimas
 do tempo da poesia.
 
FLORBELA ESPANCA
 
 Versos que ecoam do além,
 dor que não é só tua,
 é minha também.

Os amantes e sofredores
 estarão sempre juntos,
 eternamente...

Florbela Espanca,
o amor que de ti se espalha,
como vento beijando rosas.

Vila Viçosa... a tempestade
 de todo teu sofrimento
 no chão desta aldeia.

Paixão eterna, antiga,
 vida tão breve, tão sofrida,
 flor bela…flor querida...
 
QUEBRA CABEÇAS
 
 Desde pequeno fui guardando
 peças curiosas que encontrava,
 algumas pareciam escondidas
 e outras pelo caminho onde passava.

A vida foi então seguindo
 e muitas depois fui achando
 como um quebra cabeças que
 aos poucos fui montando.

Já percebo a sua forma,
 seus inúmeros tons, sei
 as peças que me faltam e que
 dependem mais de mim.

Não é fácil encontrá-las agora,
 é já segredo, uma revelação,
 e a qualquer instante poderei ver
 o mistério desta emoção.

Sanio Morgado
 
 

 
 

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Poesia de Marcos Loures - PLANETA SONHO - APAIXONADAMENTE - PAIXÃO


Poesia de Marcos Loures

PLANETA SONHO

Mergulhando nos sonhos mais bonitos
Abraçando minha deusa tão amada.
Voando por espaços infinitos
Em busca da manhã iluminada;

Os raios deste sol brilhando tanto
Trazendo uma esperança, vivo amor.
Envolto na alegria, enfim te canto
E roubo deste sol todo o calor.

Amada como é bom viver contigo
Sem medo do tormento e da saudade.
Aqui, eu já pressinto, sem perigo,

Eu posso conhecer felicidade.
Amada, vem comigo, eu te proponho,
Na noite viajar, planeta sonho...

MARCOS LOURES

APAIXONADAMENTE

Apaixonadamente me perdi
Nos braços mais gostosos deste mundo.
Pois sempre desejei estar aqui
Nesta casa, contigo, num segundo...

Estrela incandescente, Deus me deu
Trazendo uma alegria sem igual
Acendes o luar no olhar que é meu
Fazendo a poesia natural.

Amando teus cabelos, tua boca.
Sorrisos que em minha alma já descansam.
As ânsias de te amar na vida louca,

O paraíso pleno sempre alcançam...
Pois sabem que encontraram o luar,
Ansiosamente vivem para amar...

MARCOS LOURES

PAIXÃO

De amores vou perdido pelo mundo
Percorro tantos astros que nem sei.
De tudo que te falo, já me inundo,
Da vida que sem tréguas eu busquei.

Paixão que me arrebata e me domina
Não deixa nem sequer achar o rumo.
Perfumando tua alma cristalina
Retendo dos prazeres todo o sumo.

Amar demais passou a ser a meta
Que traz o meu caminho mais florido
Por isso em minha voz, canta o poeta

Sem amor nada faz sequer sentido.
Amores percorrendo os universos
Vibrando nos desejos dos meus versos!

MARCOS LOURES


 

Dois poemas de Liliana Josué - POEMA PARA A CATARINA - OS DOIS ANOS DA CATARINA


Dois poemas de Liliana Josué

POEMA PARA A CATARINA

O tempo ainda é minúsculo
como gota acabada de soltar-se
fruto ainda verde
pendente na árvore vida
esperando que a sustentem

pezinho pequeno
passada incerta
na procura do seu futuro
sem saber que o está fazendo

o cabelo salta a compasso
brilhando de ingenuidade e encanto

boca sorrindo na alegria ver o gato
olhos atentos no presente
para que o amanhã se torne menos estranho
gargalhada ao tocar o pelo do cão
mãozinhas abertas pedindo auxílio

és a minha zínia de verão
o meu girassol de luz
petúnia dos meus dias.

19/07/2015

Liliana Josué


OS DOIS ANOS DA CATARINA

Eu sou uma menina de dois anos
Gosto de brincar com muitos bichanos

Quando um gato peludo faz ron-ron
Rio sem parar e imitou-lhe o som

Quando vou na rua e vejo um cão
Pulo de alegria ai que perdição

Se ele abana a cauda e faz ão-ão
Dou gargalhadas de satisfação

Já tive medo de todas as flores
Explicar não sei estes meus temores

Agora gosto pois sou mais crescida
Ponho-as no cabelo com ar de atrevida

Tenho uma cozinha só para mim
Tachos e pratos tornam-se um festim

Até já mexi sopa no fogão
E o leite entornei mesmo ali no chão

Vou-vos contar um segredo terrível
Se dizem a outros fico irascível

Então lá vai o que trago comigo
Com grande pesar aqui eu vos digo

Sou muito teimosa o dobro em mimada
Faço tais birras que fico estoirada

Não sei o porquê de eu ser assim
Talvez algum genes se colasse a mim

Mas sou muito alegre, feliz, amada
Pois muita paixão me tem sido dada

Eu sou uma menina de dois anos
Nada para mim’ inda são enganos

19/07/2015

Liliana Josué




terça-feira, 28 de julho de 2015

Poesia de Cremilde Vieira da Cruz - NÃO ME CITES - CONSCIENTES DE NOSSA INCONSCIÊNCIA - O POEMA QUE QUIS FAZER-TE (A MEUS FILHOS)


Poesia de Cremilde Vieira da Cruz - NÃO ME CITES - CONSCIENTES DE NOSSA INCONSCIÊNCIA - O POEMA QUE QUIS FAZER-TE (A MEUS FILHOS)


NÃO ME CITES


Não deixes que tua sombra te faça sombra,
Nem te despedaces de cansaço de fugir
De ti, num desespero que te assombra
De obscura tristeza, e te faz partir,

Receando o mundo inteiro, na penumbra
De teus passos, no jardim que não viste florir.
Diante de teus olhos nada se vislumbra,
Mas dentro em pouco, a alvorada vai surgir.

Se deslizares pelas ondas esculturais
De teus pensamentos nobres, na descoberta
De cada hora em cada hora certa,

Não me cites, nem recordes que existi.
Encontrarás então uma porta aberta
E deixarás de ter tua alma deserta.

Cremilde Vieira da Cruz


CONSCIENTES DE NOSSA INCONSCIÊNCIA


Percorremos conscientes,
A noite misteriosa,
Sob vagas altas que o mar atira sobre nós.
Ainda agora era a alvorada de nosso amor
Que agora, não sei porquê, é misterioso, mas enorme.
Talvez quando nascemos,
Alguém tenha trocado nossos caminhos.

Devia ser madrugada
E, de luzes apagadas, enganaram-se.
Nascemos para sentir nosso amor e dizer,
Mas esta distância desarrumada,
Quase muda e fria...
Não nascemos para ser aquecidos pelo mesmo sol,
Nem para caminhar na noite iluminada.

Envolve-nos uma escuridão enorme
E um mistério rude,
Mas esta força etérea que sentimos,
Faz-nos caminhar, caminhar...
Caminhamos de olhos fechados, mas conscientes,
Nesta distância desarrumada,
Como que abraçados por um mistério.

Quando abrimos os olhos,
Conscientes de nossa inconsciência,
Estamos abraçados.

Cremilde Vieira da Cruz



O POEMA QUE QUIS FAZER-TE (A MEUS FILHOS)


Quis fazer-te um poema tão belo,
Quanto o é teu coração,
Tão brilhante,
Como o brilho de teu olhar,
Tão grandioso,
Como o amor que te tenho.

Mas os meus pensamentos nublados
E empobrecidos de solidão,
Minha mente fatigada...
Oh, pobre inspiração que ruiu,
Como as paredes do castelo dos meus sonhos...!
Não te fiz o poema.

Todavia, quero que saibas,
Que tenho um poema dentro de mim,
Que sinto e é teu.
O meu poema,
Aquele que quis fazer-te...
Olha-me nos olhos,
Como quando te embalava,
Como quando te abraçavas a mim!

Olha-me nos olhos
E lerás o meu poema.

Cremilde Vieira da Cruz




segunda-feira, 27 de julho de 2015

Poesia de Conceição Tomé - O Mistério da Vida; Dia Outonal ; Paz Para o Mundo


Poesia de Conceição Tomé



 O Mistério da Vida; Dia Outonal ; Paz Para o Mundo  



 O Mistério da Vida

 

 Ninguém conhece se há vida
 Para além daquela que conhecemos
 Porque a vida é um mistério
 Que ainda não desvendamos.
Apenas sabemos,
Que nascemos e morremos.

 Quem somos nós na conjunção
Do Universo infinito
 Se ainda ignoramos
 O seu fim e o seu princípio?
 Talvez daqui a uns quantos milénios
 Se humanos ainda houver
 Esse mistério deixe de o ser.

 São Tomé

 

 Dia Outonal

 

 A manhã soturna e fria
 Deixou-me no coração
 Uma forte nostalgia
 E uma certa crispação.
 Um céu plúmbeo
 Descarregou a sua mágoa
 Que escorreu pelas vidraças
 Em forma de gotas de água.
 E vi as árvores da rua
 Trémulas de medo e de frio
 Uma a uma ficar nua.
As suas exuberantes vestes
 Num tom castanho - acobreado
 Serem arrancadas pelo vento
E rolarem pelo chão molhado
 Num frenético rodopio.
 Era o prenúncio do Inverno
Que se vai aproximando
Frio e intransigente
À espera da Primavera
 Que chegará brevemente
Para vestir de novo as árvores
Com um tom verde - brilhante.

 São Tomé

 

 Paz Para o Mundo

 

 Cessem os gritos
de fome e de terror
 das crianças abandonadas,
desnutridas!
 Sequem os rios
 do pranto e da dor
 e aflorem as puras fontes
de vergonha escondidas!
 Clamem bem alto
as palavras de todos os poetas
 Pela Paz do Mundo e pelo Amor,
 como um bom presságio de profetas!
 Obstrua-se
o curso da destruição
 pelas guerras hediondas,
sem sentido!
 Brote a fraternidade
em cada coração,
 para que o mal seja sempre vencido
 e só o Amor
seja engrandecido
 neste planeta ainda belo
que está a ficar moribundo!
 Haja Paz! Paz para o Mundo!

 São Tomé




domingo, 26 de julho de 2015

POESIA DE JOSÉ GERALDO MARTINEZ - Não fosse poesia ...; Preciso tanto...


POESIA DE JOSÉ GERALDO MARTINEZ


 Não fosse poesia ...; Preciso tanto...


 Não fosse poesia ...

Moça, valsar em ti eu queria,
 No amplo salão do corpo teu !
 Não fosse esta ilusão só poesia,
 A bordar este instante nos sonhos meus!

 Moça, como eu queria
 Esquecer do tempo em teu corpo!
 Rodopiando em ti,
 Por teus braços, envolto...

 Moça, se sem pressa, escalar
 Cada palmo de tua pele
E do teu suor então, provar...
 Todos segredos, talvez, reveles .

 Até a exaustão,
 Tombaria em teu chão,
 Dançarino de minha fantasia !
 Ah, moça, não fosse tudo ilusão,
 Não fosse tudo só poesia!



Preciso tanto...

Preciso tanto de você,
 qual as praias o mar sem fim...
 As estrelas ao escurecer,
 a própria alma que trago em mim!

 Preciso tanto...
 Qual moribundo buscando o ar!
 A primavera as flores todas...
 Os lagos tristes, manso luar!

 Quem manda ser o meu ombro?
 Ter esta candura no olhar?
 A mão estendida aos meus muitos tombos...
 O colo para o meu descansar?

 Quem manda sorrir sempre?
 Ainda que o pesadelo me tenha acometido...
 Carregar o fardo quando eu me entrego,
 caído aos seus pés, homem vencido!

 Preciso tanto de você...
 Quem manda me transformar em um menino?
 E quando esquece seu homem feito,
 abrigando, ao peito, meus desatinos!

 Quando se abandona criança
 e me espera alegre no portão...
 No seu olhar brilhante vivo só bonança
 e lhe entrego a alma na palma da mão!

 Preciso tanto de você...
 Qual estrada um destino,
 um pintor o pincel e o poeta
 a poesia...

 Tanto amor de mim...
 Loucamente!
 Que morro todos os dias
 na mais doce agonia...
 Para nascer em você, igualmente!

«A maior felicidade de um homem é nascer
 todos os dias dentro da alma do ser amado.»
( Martinez

«Nenhuma busca é perdida se o amor
 for encontrado.»
( Martinez)




COLUNA POÉTICA DE MARIA PETRONILHO - Que o vento me levante!; Jaz o semeador na seara; O Poeta Palhaço


COLUNA POÉTICA DE MARIA PETRONILHO



 Que o vento me levante!; Jaz o semeador na seara; O Poeta Palhaço



 Que o vento me levante!

 Docemente
 me eleve
 acima de toda a pena
 na sua diáfana
 asa
 proteja
 da dor salgada
 entranhe
 no azul profundo
 leve
 as cinzas magoadas
 na busca
 de nuvens brancas
 onde
 repouse a fronte
 adormeça e acorde
 sossegue
 de onde volte
 renascida
 para cantar a ternura
 e
 saudar a primavera
 na luz que a todos afaga,
 aspergindo amor na Terra!



 Jaz o semeador na seara

 Há gente que
 quando parte
 deixa o mundo tão mais pobre!

 tu, semeaste searas de verde esperança
 nas terras que a guerra devastava.
 tu foste onde não se ousava
 enfrentar a amargura
 onde quer que ela grassava.

 Eras bandeira de esperança,
 semeador de ventura

 Hoje ceifou-te a loucura.
 Jazes no chão, qual papoila
 que os campos iluminava!

 (Homenagem a Sérgio Vieira de Mello, diplomata brasileiro assassinado em Bagdad)

 

 O Poeta Palhaço

 Poeta, conto-te um caso
 Que conheço bem de perto:
 Era uma vez um palhaço
 Pobre e roto, caricato,
 De narizinho redondo
 De um carmesim esfolado.
 Entrava em cena quando
 Nos bastidores do circo
 Se maquilhava um outro
 Que usava fato bordado
 Riso pintado no rosto
 Chapéu como o de Tartufo
 Cantava em voz de contralto...

 O palhaço de que falo
 Voava em cada salto
 Como se o levasse um sonho
 Não se ria no entanto
 E ficava sempre mudo.
 Quando se achava no escuro,
 Ficava vazio o circo,
 Encolhia-se num canto
 Abria a voz de seu pranto
 E sozinho, libertado,
 Tirava um papel do bolso
 E, com o dedo lambuzado,
 No suor do próprio rosto,
 Ia escrevendo, escrevendo
 Em poemas, seu calvário
 De pobre palhaço risonho,
 Enfim assumindo o vulto
 Dessoutro sério, tristonho.

 Encolhido no seu canto,
 Descobria enfim o choro
 Do ai profundo, seu Fado
 Ser poeta alistado
 De peito dilacerado...

 Esquecendo então ser mudo
 Soava o alto carpido
 Estremecido, enfim solto.
 Mau grado tendo o pano
 Da tenda para abafá-lo,
 Soava tão dolorido
 Que alarmava todo o povo
 Perturbando-lhe o sono.

 Mal o amanhecia o dia
 Punha-se a varrer a areia
 E ao papel que escrevera,
 Usando a tinta da cara,
 Em confetes o rasgava;
 Ia enfim lavar a cara
 E de novo, pintalgava
 um semblante de alegria.

 Tomava assento a plateia
 Entrava o palhaço em cena
 ... No brilho da noite, ria! 




terça-feira, 14 de julho de 2015

EU COMIGO - Texto e Poema de Mário Matta e Silva


EU COMIGO

Texto e Poema de Mário Matta e Silva

Só encontro uma forma de vencer pela poesia: escrevê-la! Ficamos bem com o nosso Ego e com o Mundo que nos rodeia, seja ele bonito ou feio. Desse instante faz-se uma eternidade (conforme poema que já publiquei) e de cada sentimento um desejo de viver bem com tudo e com todos, mesmo que não conformado com o mal.

O Bem é a nossa bandeira e o mal o nosso inimigo que tentamos abater com palavras harmonizadas e articuladas de forma a expressarmos os nossos «estados de alma». O espaço, mesmo que pequenino é global. A universalidade da palavra torna-nos universais. Somos a palavra com que comunicamos.

Somos um elo que liga, pela estética e pela semântica das expressões, as sensações de todo o ser racional. Vibramos assim tão simplesmente comunicando como o fizeram, muito recuadamente, Orácio, Catulo, Ovídio, Virgílio ou até Moisés, Job, David, Salomão ou Isaías. O Bem e o Amor tornou-se na religião dos Poetas.


Poesia do meu primeiro livro «NUNCA VOS DIREI TUDO» ed. 2002

EU COMIGO

Cá estou eu de novo.
 Eu comigo.
 Comigo unicamente.
 Ausente inda que presente.
 Um querer sentir que me renovo
 Neste dar-me tão antigo!

Cá estou de novo... noutro apertado nó
 Num diálogo sem inimigo
 Olho-me, sinto-me... e só
 Viajo no tempo e louvo
 O facto de ser eu o meu melhor amigo
 Mesmo quando me torno em meu próprio estorvo

Lá estou eu de novo numa labiríntica encruzilhada
 Penso no que procuro e ainda não encontrei
 Tropeço e avanço neste acidentado caminho!
 Aturo-me, agrido-me, revolto-me... eu sei...
 Há dias em que o mundo é uma grande laranja vazia... sem nada
 E nele me refugio, só, comigo... gemendo em verso mas baixinho..




domingo, 12 de julho de 2015

COLUNA POÉTICA DE MARIA PETRONILHO


COLUNA POÉTICA DE MARIA PETRONILHO



 Preciso a vela de um barco; Em busca de uma centelha; Envelhecendo 

 

 Preciso a vela de um barco

 Uma vela larga e branca

 Habituada à salmoura

 Preciso secar o pranto

 Levar para longe a tristeza

 Vagueio só à deriva

 Sou a naufraga da vida

 Nada vislumbro no céu

 Tragam-me a vela de um barco

 Aonde sufoque o pranto

 E me leve para longe

 Do rasto deste momento

 Que me traz em desalento

 ... Preciso as asas de um anjo!

 



 Em busca de uma centelha

Mariposa que se lança

 Desvairada contra a chama

 Que o sentido lhe alucina

 Pássaro que o surto olvida

 Ao magnetismo da cobra

 Sem cuidar que perde a vida

 Assim tomba a minha alma

 Qual nuvem na trovoada

 Que pelo chão se derrama

 De si mesma compungida

 Procurando na negrura

 Sobras da própria centelha


 
 Envelhecendo


 Envelheço, sim, com orgulho!

 Que quererias?!

 Que pedisse emprestadas horas

 às gerações vindouras,

 Eu, que findo?!

 Cabe-me olhar amplo,

 Que já vi tanto

 E resisti de sobejo.

 Cabe-me ser tronco,

 Que não ramo prometendo

 Florir sem fruto.

 Cabe-me ser esteio

 Aos que no vento se arrojam.

 Serenamente aguardo o sagrado limbo

 De onde emergi e onde mergulharei

 Atavicamente

 De novo.





quinta-feira, 9 de julho de 2015

Poesia de José Manuel Veríssimo


Poesia de José Manuel Veríssimo


Equívocos

Sim!

Claro que  sofri!
  Mas  não sofremos todos
O  agora  e aqui ?
  Como  tolos
Num mundo
 que  construimos  assim?
Carpindo a  rodos
Com  maneiras
  modos
 culpas
dardos
 E  afins…………

Claro que  sofri
  Sofro
  Sofremos
  De  cegueiras
  De  fados
  Esfarrapados
  Pobres
 sem  bandeiras
 Sem  iras nem  beiras
 Ensopados
Em  piedades  próprias
E  nas  alheias
Pôdres
 E Vencidos
Como  quem desiste
A  pretexto  de  inclemências.

Antes  mesmo  das  sementeiras
Lamenta
 Sofre
Desespera
Sem  um  esboço de  resistência
Sem  um esforço
 De quem  supera
Os  excessos  de  paciência
De  quem é  manso
Mas  sem potência………………
De  quem  clama
Pela desobediência
 Em  quem
 A  inconsistência
 Se  confunde
 Com o princípio  da  irreverência.
                                                                   
 Seixal , 092.04.2015

José Manuel Veríssimo


No Jardim

 O Sol despontou
Receoso, tímido, volátil
Durou
O instante subtil
Em que o jardim brilhou
De novo o cinzento
Se instalou
Mas, ainda assim, o canto alado
 De um bando versátil
Sucedeu
Coisa que nem o cinzento
Interrompeu
Um forte vento
Se acendeu.
Hábil e persistente
Soprou nuvens
Tortuosos trilhos
Lutas brigas….sarilhos
Finalmente
Mais forte do que nunca
 O Sol voltou

Seixal 27.05.2013

José Manuel Veríssimo




Poesia de Pedro Du Bois


Poesia de Pedro Du Bois


ESCOLHER


 Escolho ser da geração o estigma

               e da terra o magma

                  na oração do devoto



         o coração se despedaça

         ao solo. Beijo o solo

         em homenagem.



Anos passados representam

a hora da jornada. O que falta

ao espírito. O que se deduz

em luz. A escolha.


(Pedro Du Bois, inédito)


SEMPRE


Na voracidade feito tempo

multiplico necessidades.

Não deixo a imagem perdurar.

Substituo feitos anteriores:

o produto recondicionado

transcende ao mito desprotegido.

A fome permanece como sempre.
 

(Pedro Du Bois, inédito)


VIVER



Vivo na ilusão

da água infinita

e da sede

saciada em goles.



vivo como intruso

destruindo o que não me pertence.



Alcanço o fruto e o desfruto.

Deixo o sumo escorrer pelas mãos.



Vivo na desilusão

de me intrometer

como abuso.
 

(Pedro Du Bois, inédito)
 

http://pedrodubois.blogspot.com 



 


 

Poesia de Jorge Vicente


Poesia de Jorge Vicente

YESOD

assim como em baixo, também em cima,
o fundamento de sermos apenas homens,
e não seres votados à magia.
deixemos os anjos murmurar as nossas
preces e vivamos incólumes ao medo:
se vacilarmos, apenas resta o desconsolo
de quem viveu acima da praia, na vertigem
das arcadas, pedaços de pedra transparentes,
sem pele.

sou inteiro em baixo como o sou em cima,
revejo-me no silencioso embaraço que tudo
esconde sem nada demonstrar.

para quê o cosmos se tenho em mim o
fundamento de toda a existência? a
roda do meu destino.

Jorge Vicente


MALKUTH

o rei desperta. sem as silvas a silenciar
a fonte apenas um olhar sorrateiro ao
redor das águas. caminha comigo por entre
os corpos que te envolvem e traz a taça
dourada. olha-me nos olhos e inventa-te no
gesto.

sê pescador de almas e escreve-me um poema
de rochas.

não há genocídio no interior da pedra.
apenas a voz do cego e do louco que
sabe tudo sem se ver.

Jorge Vicente


GEBURAH

a cidade procura-me
no atrito dos corpos caídos
aspiro às ruínas das pedras velhas
à calçada gasta pelas olheiras dos
lábios

são dois os corpos que se encontram
em mim não existe dualidade
senão no julgamento infinito do
teu rosto.

Jorge Vicente



Poesia de Cremilde Vieira da Cruz


Poesia de Cremilde Vieira da Cruz

ENTRE CORAÇÕES

Permaneço na penumbra das horas
E mais não sou que um pesadelo.
Oiço bater à porta do vizinho,
Oiço tocar o telefone d vizinho,
Oiço o ladrar do cão do vizinho...
Tudo para lá da porta fechada.

Falo com os pinheiros,
Mas olham-me de lado
E mandam-me não sei onde.

Não sei que distância vai
De meu coração a vossos corações,
Mas deve ser enorme,
Porque a percorro há milhões de anos
E não consigo alcançá-los.

O meu medo é que a memória se me apague,
O sangue me gele nas veias,
E o tempo me traia.

Se isso acontecer,
Quero que saibam que vivi
Colada à memória do passado,
No vácuo do delírio do presente.
O futuro não existe.

O amor foi ontem.
Sonho amarrada a fotografias emolduradas,
Balbucio meu amor,
Mas as lágrimas interrompem-me,
Enquanto a noite desce.

Sei lá de que tamanho é minha noite,
Neste dia a começar de madrugada!

Cremilde Vieira da Cruz


CONSCIENTES DE NOSSA INCONSCIÊNCIA

Percorremos conscientes,
A noite misteriosa,
Sob vagas altas que o mar atira sobre nós.

Ainda agora era a alvorada de nosso amor
Que agora, não sei porquê, é misterioso, mas enorme.
Talvez quando nascemos,
Alguém tenha trocado nossos caminhos.
Devia ser madrugada
E, de luzes apagadas, enganaram-se.

Nascemos para sentir nosso amor e dizer,
Mas esta distância desarrumada,
Quase muda e fria...
Não nascemos para ser aquecidos pelo mesmo sol,
Nem para caminhar na noite iluminada.

Envolve-nos uma escuridão enorme
E um mistério rude,
Mas esta força etérea que sentimos,
Faz-nos caminhar, caminhar...
Caminhamos de olhos fechados, mas conscientes,
Nesta distância desarrumada,
Como que abraçados por um mistério.

Quando abrimos os olhos,
Conscientes de nossa inconsciência,
Estamos abraçados.

Cremilde Vieira da Cruz




domingo, 28 de junho de 2015

SANTOS POPULARES - Por Liliana Josué


SANTOS POPULARES

Por Liliana Josué

Viva os Santos Populares
Nós os queremos vaidosos
Cantem , dancem, não aos pares
Pois tornam-se “duvidosos”

As santas, pobres senhoras
De populares nada têm
São mulheres provocadoras
Certo é não poupar ninguém

Sto. António e S. João
Num enfado bem notado
Perninha de dança dão
Mas sem fêmea a seu lado

S. Pedro fica sozinho
Nem chuva por companhia
Abre o céu devagarinho…
Resignação de santinho

As santas muito indignadas
Por tão infame injustiça
Protestam mas reservadas
Por não se verem na liça

Só têm direito a manto
E mãos postas a rezar
Nas igrejas, bem no canto
Para o padre não excitar

De olhares frouxos os santinhos
Lá vão nas marchas danadas
Sentem falta dos carinhos
Das santas enclausuradas

Lisboa, 17/06/2015

Liliana Josué




quarta-feira, 24 de junho de 2015

Poesia de Virgínia Teixeira


Poesia de Virgínia Teixeira

Saudade

A saudade nunca deixa de latejar
No peito cansado da guerreira
A saudade nunca deixa de angustiar
O coração já gasto da mulher

A saudade nunca deixa de insistir
Nas pernas acorrentadas da prisioneira
A saudade nunca deixa de ferir
Os olhos acostumados com a escuridão da menina

A saudade, sentimento estranho que nunca a chega a abandonar
Deixa-lhe a alma em pedaços, e não lamenta a morte
A saudade que ela abraça como um velho amigo que demorou a chegar

A saudade, que ela esconde porque não quer que a vejam como menos forte
A ânsia tremenda que carrega no peito como que a uma criança lamuriosa meio adormecida
A saudade, que lhe já vinha cravada na alma, de outros tempos, de outra vida…



Décadas

Décadas passadas e ele ainda marca o caminho
Anos de solidão e de espera  sem angústia nem pesar
Minutos que o relógio contou com um tiquetaque baixinho
Saudade que não cessa nem tem olvidar

Saudade da criança que se deitou no leito
Da menina que não conhecia a verdade
Da mulher com um furacão no peito
Que se descobriu naquela noite sem piedade

Pirata dos sonhos da menina que há muito morreu
Pirata negro de olhar profundo que a reconheceu
Saudade da mulher que nessa noite nasceu    

Saudade que não termina e penetra a mais forte couraça
Saudade que veio de outras vidas onde o amor se viveu
Saudade que não mata nem fere, morte que não magoa, vida que se abraça.


Marinheiro de águas revoltas

Oh marinheiro de águas revoltas sem porto onde atracar
Décadas de saudade me acompanham neste caminho da vida
Instantes de ânsia sem pesar, desejo sempre a sufocar
Recordando eternamente o momento da despedida

Oh marinheiro de águas revoltas que um dia visitaste o meu porto
Beijos de sal e canela que num sopro me enfeitiçaram
Deixando a tua marca na minha alma e no meu corpo
Mãos calejadas que me percorreram e a fogo me marcaram

Oh marinheiro de águas revoltas que partiste sem lamentar
Sem um adeus, ou a promessa de um dia regressar
Esquecido de cortar a amarra que a ti me aprisionou

Oh marinheiro de águas revoltas que foste sem me libertar
E deixaste esta ânsia, este desejo insatisfeito que trago no corpo a palpitar
Sou tua, pertence-te toda a minha alma, que por tantas vidas já te procurou...