A minha avó - Crónica de Virgínia Teixeira
Lembro-me da minha avó, uma mulher forte que admirei toda a vida e que hoje se senta num cadeirão velho perto da janela partida a ouvir um pequeno radiozinho porque até a televisão deixou de lhe interessar.
O meu avô morreu e ela morreu um pouco com ele. E o triste é que nem posso relatar uma bela história de amor que justifique esta minha avó gasta de repente. Não se amavam da forma que os livros pedem, habituaram-se à presença e caprichos um do outro e a minha avó perdeu-se sem ele.
E eu, que nunca imaginei poder sentir menos admiração por ela, pela mulher lutadora, que trabalhava incansavelmente, vejo-me a sentir pena e medo. Um medo incrível de a ver partir sem vislumbrar a mulher de antes, e terror de um dia me ver espelhada nela. Ela foi forte, brava, e a luz apagou-se.
Adormece com o rádio ao colo muitas vezes, deita-se quase ao anoitecer porque não tem nada que fazer, vangloria-se dos vinte pares de peúgas dos netos que dobrou…
Ela acordava de madrugada, abria o pequeno comércio, trabalhava, fazia o almoço sempre variado, descansava um pouco, e trabalhava até à noite. Voltava e fazia o jantar.
Criou três filhos, cada qual com a sua particularidade, e nem do esquizofrénico algum dia a ouvi falar mal. Criou os netos quanto pôde e é justa o suficiente para ver o mal e o bem neles, por mais que se queixe de todos.
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