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quarta-feira, 24 de junho de 2015

A Liberdade - Texto de Maria Álvaro


A Liberdade

Texto de Maria Álvaro

A Liberdade nunca é absoluta porque a própria natureza humana a condiciona, mas ela será tanto maior quanto mais educado, no sentido pleno, for o cidadão e quanto mais adequadas e dignas forem as suas condições de vida.

Liberdade não é a simples permissão para se dizer o que se pensa. E Educação não é a simples absorção do conhecimento. Ambas incluem também, e talvez principalmente, o desenvolvimento do espírito crítico, da criatividade e da cidadania, isto é o respeito pelos outros.

O exercício da Liberdade implica em Responsabilidade, que nos vem com a Educação.

Infelizmente, nas sociedades pouco educadas, e num mundo de individualismo extremado, em que os bens materiais são divinizados e os Governantes detêm, não apenas o poder político e administrativo, mas também o poder econômico, atrelado ao poder legislativo e ao executivo (adaptados estes aos seus próprios interesses), então a prática da Liberdade fica, assim, muito comprometida, pois as regalias são exclusividade dessas minorias e a restante população fica entregue a carências porque sofre os efeitos desses verdadeiros golpes sociais.

Além disso, ainda se regista a dramática existência de verdadeiros guetos étnicos e migratórios em muitos países, gente que, por sua vez, é também cruelmente marginalizada e explorada pelos preconceitos e interesses das restantes camadas das populações...

Na realidade não se detém uma verdadeira Democracia porque a maioria dos cidadãos não tem acesso a uma vida tranquila, não foi devidamente educada e está presa nos nós de uma rede gigantesca de interesses. Lutam, desesperada e ingloriamente, pela continuidade do pão nosso de cada dia. Poucos são os independentes, aqueles que tenham o privilégio de poder viver fora dessas malhas...

Como se poderá afirmar, então, que se vive, hoje, uma plena Democracia e como se pode defender a absoluta Liberdade de Expressão nestas precárias condições de Educação, Vida e Respeito pelo outro, quer seja numa boa parte dos países da Europa quer na África, na Ásia, na América ou na Oceania ?! O mundo precisa de mudança e o quanto antes!

Maria Álvaro





quinta-feira, 4 de junho de 2015

Poesia de Maria Álvaro


Poesia de Maria Álvaro


O MAR...

Veleiro ligeiro beija embevecido,
excitado,
de Tétis o seio cheio, acobreado
e cúpido;

E o Adamastor ora adormecido,
prostrado,
esquece seu furor e vira pr'o lado,
estendido.

Nas ondas eu sigo o seu lençol dourado
e persigo
estrelinhas piscando p'ra mim, deslumbrado,
rendido...

...são olhos espreitando por um véu rendilhado
e antigo
de ninfas pintando e bordando comigo
o meu fado...

Maria Álvaro


BURACO NO PEITO

No buraco bem fundo do meu peito
Aquele vácuo sôfrego de ti...
Um estremecer de todo este meu jeito
Que, da nuca ao ventre...leve...senti...

Uma maré que persegue o luar
Escorre subtil neste leito dolente...
E uma lânguida onda do mar
'Spuma queixume da rocha ausente...

Face risonha de um amor-perfeito...
Trêmula, tensa, querendo te amar
Exala suspiro fugaz... urgente,
Frêmito ansioso como eu nunca vi...
No buraco bem fundo do meu peito...

Lampejam dois pólos desta corrente...
Chamas e fogos que em ti acendi
Inflamam meus céus em noite estrelar...
No buraco bem fundo do meu peito
Aquele vácuo sôfrego de ti...

Maria Álvaro


As amendoeiras...

O sorriso mais subtil e breve da Natureza algarvia é o das amendoeiras em flor...

Não é o mar, nem as praias, nem a luminosidade, nem o sol, nem o céu azul.... Esses gargalham de alegria com toda a efusão!...

As amendoeiras são o sorriso de Gioconda desse Algarve das minhas lonjuras...

Lançam-me um olhar pueril e enigmático e um sorriso distante, imperceptível de quem sabe que tudo tem um fim...

Maria Álvaro




segunda-feira, 30 de março de 2015

Poesia de Maria Álvaro


Poesia de Maria Álvaro

O MAR...

Veleiro ligeiro beija embevecido,
excitado,
de Tétis o seio cheio, acobreado
e cúpido;
E o Adamastor ora adormecido,
prostrado,
esquece seu furor e vira pr'o lado,
estendido.

Nas ondas eu sigo o seu lençol dourado
e persigo
estrelinhas piscando p'ra mim, deslumbrado,
rendido...
...são olhos espreitando por um véu rendilhado
e antigo
de ninfas pintando e bordando comigo
o meu fado...

Maria Álvaro


NOS AÇORES

Sou uma lagoa, lânguida, estirada,
de expressões mutantes, matizes do céu;
intensa neblina dá-me a imprecisão
de uma realidade p'lo sonho ofuscada.

Inala as hortênses do ventre que é meu,
escuta os silêncios que grito dopada,
e afunda os teus olhos em minha amplidão...
Não ouses, porém, descobrir o meu véu,

Nem insinuar-te em minha morada,
que o colo tranquilo que embala Orfeu
cobre incandescente lava perturbada.

Ganhoa nas asas da minha Emoção
Voa no que é teu...
mergulha calada.

Maria Álvaro



quarta-feira, 18 de março de 2015

Poesia de Maria Álvaro


Poesia de Maria Álvaro


QUADRAS RICAS

Dinheiro?!
Cansei!
É deus traiçoeiro,
egoísta! --Eu sei.

Lobo disfarçado
espreitando o cordeiro,
fala açucarado,
mas morde o parceiro.

É outra maçã
de um éden criado
dentada, direi,
fruto envenenado.

Dono dos afectos
que meus eu julguei,
foi mel pr´os insectos
que agora matei.

É tiro certeiro
de alvo estudado,
Do-lar vai lançado
pr´as mãos do matreiro...

Hábil advogado
comandando a Lei :
se o tens, és honrado;
Se não, condenado.

Maria Álvaro

Cada poema, uma jóia...

Cada poema, uma jóia...
Um colar de palavras desfiando pérolas de cultura e emoção...
Filigranas de ouro retorcido insinuando arabescos de sentimentos populares...
Uns, pedras brutas de contornos primitivos e colorido rústico mas sábio...
Outros, as dramáticas peças de ouro verbal maciço cravejadas de rubis sangrentos de paixão e dor...

Há-os delicados como fios imperceptíveis que ligam as estrelas...
Cintilam subtilmente com uma suavidade distinta, só porque descobrem uma flor...
E há os que ostentam ansiosas esmeraldas de sonhada esperança ou amargo desespero...
Também os que mostram águas marinhas e terrestres de saudades natais profundas...
E ainda os que enriquecem de minerais cristalizados nas densas correntes de uma fonte original perdida no tempo...
Mas os mais preciosos têm brilhantes, lágrimas extraídas daquele diamante único, lapidado com o amor humano mais essencial...

Cada poema, uma jóia...
Cada jóia, uma emoção...

Maria Álvaro

BURACO NO PEITO

No buraco bem fundo do meu peito
Aquele vácuo sôfrego de ti...
Um estremecer de todo este meu jeito
Que, da nuca ao ventre...leve...senti...

Uma maré que persegue o luar
Escorre subtil neste leito dolente...
E uma lânguida onda do mar
'Spuma queixume da rocha ausente...

Face risonha de um amor-perfeito...
Trêmula, tensa, querendo te amar
Exala suspiro fugaz... urgente,
Frêmito ansioso como eu nunca vi...

No buraco bem fundo do meu peito...
Lampejam dois pólos desta corrente...
Chamas e fogos que em ti acendi

Inflamam meus céus em noite estrelar...
No buraco bem fundo do meu peito
Aquele vácuo sôfrego de ti...

Maria Álvaro




quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Dois textos de Maria Álvaro



Dois textos de Maria Álvaro


Juventude

Como escorrem pensamentos e emoções ao longo das palavras, assim escorre a juventude pelos dedos feita espuma de gel.... Ah! A juventude!...Sabonete perfumado num banho embebido de prazeres molhados, borbulha macio e nos escapa instante, deslizando vivaz e inconsequente por mãos ávidas por ele... Beleza mesmo na feiura, sem engenho, sem arte, súbita, generosa e impaciente... Não se apercebe que não É, que apenas Está! 

Desliza a juventude... ...ágil... afoita... iludida campeã de ilusões e futuras derrotas... Desliza se desfazendo...como uma nuvem passageira... vapor impalpável que se acaba, chorando na dureza da terra... Arco-íris esfuziante, que se esfumaça suave ao sol, na manhã cintilante encharcada de chuva... ignorante da noite que o espera......

Maria Álvaro



Vazio de mentes

Com a comunicação nas redes sociais, o uso de códigos por adolescentes, e não só, vem limitando a necessidade de se estruturar frases completas e bem construídas. Acredito que várias línguas, não só a Portuguesa, estejam ficando cada vez mais pobres. E expressão verbal pobre conduz a pensamento pobre...e vice versa... 

Além do mais, na vida real, ao vivo, pouco se lê e, consequentemente, a expressão verbal fica ainda mais empobrecida nestes casos . Os jovens comunicam-se oralmente e por escrito através de idiomas telegráficos e gírias metafóricas, que têm a pretensão de substituir toda uma estrutura. 

São expressões estratificadas que todos usam de forma igual, sem que haja a preocupação de mostrar uma identidade crítica individual. Paradoxal e ironicamente, no mundo hoje altamente individualista, o jovem fala a pobre linguagem dos grupos. Tenta a identificação com os grupos apenas no que é aparente, na linguagem corporal, na forma de se vestir, de se maquilhar ou de se pentear, na linguagem e não consegue se caracterizar como indivíduo. 

Estão ficando cada vez mais raros os que buscam outras razões de integração em grupos que tenham finalidades éticas e sociais.. Uma boa parcela da juventude hoje não sabe e não quer se distinguir linguisticamente e é altamente voltado para interesses materiais de caráter também comum...interesses esses neles inconscientemente incutidos, em parte, pela subtil insinuação interesseira dos Media e do mundo capitalista. 

Vive-se um vazio de mentes...

Maria Álvaro

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Texto de Maria Álvaro - Contradição


Texto de Maria Álvaro

Contradição

Ontem o dia fora compensador. Era o silêncio dos quartos adormecidos, e ainda em mim o palpitar entusiasta dos ecos de um rodopio sonoro que havia marcado os meus passos sonhadores na aula de dança das duas horas anteriores. Em meu leito, ainda em júbilo, os olhos bem abertos e vivazes, estavam direcionados para um alvo no escuro...a mente lúcida, os pensamentos fugazes...

Inicio, então, um deslizar involuntário e súbito por corredores, escadarias e salas de aula íntimas, muito íntimas.... Ouço o som monocórdico e agudo de múltiplas e simultâneas vozes femininas juvenis, risadas e ecos que ressoam fortes no meu peito. Ouço clamar e ecoar o meu nome : Maria Álvaro... álvaro... al-va-ro...! Voz que vem não sei de onde e nem para quê...

Mas vejo! Vejo as minhas colegas de turma, as minhas companheiras de estudo e de devaneios de tantos anos atrás, todas de bata branca e fitinha colorida ao peito. Vejo todos os rostos risonhos, irreverentes e sonhadores. Vejo a expectativa, vejo o entusiasmo estampado em cada olhar...

Vejo as carteiras de madeira onde as mocinhas se sentam e ocultam seus misteriosos enlevos, o estrado temeroso com seus degraus gélidos e escarpados, tal Alpes em dias invernosos... Vejo o quadro negro gigantesco empoado de branco, vejo os pedaços de giz pousados, esperando as mãos inquietas que irão fazer deslizar nele reproduções nervosas dos temas estudados... ou não ...Vejo um apagador que apaga erros e incertezas, mas não as notas atribuídas... Vejo o ponteiro de madeira tal enorme dedo condenatório e repressor, que mais do que apontar, intimida... Vejo o mapa- mundo autoritariamente pendurado na parede.
 
Exerce na perfeição a função de acentuar a localização e a geografia das "colônias", que, agora, não podem mais ser assim denominadas. Diz-se que são as "províncias ultramarinas", no dever de negar a atribuição de colonialista ao nosso País... No entanto, o mapa não nos desperta para a dimensão de isolamento absoluto que vivemos em relação às outras regiões da Europa e do Planeta...É um mapa que mente, um mapa que oculta!...

Vejo a professora de rosto seráfico e de voz emproada, como deusa em seu altar, este nada mais sendo do que a escrivaninha também de madeira onde repousam um tinteiro, com caneta de tinta permanente, o livro de ponto de um lado e a caderneta preta das notas do outro...

Vejo as janelas com as persianas de correr...Vejo o dia lá fora solarengo e as árvores da mata convidando para uma escapada...aquela escapada que nunca vem...Lembro-me da Feira de Faro, que está em curso... Penso na escapada de novo... _ "Vamos? Faltamos à aula de Inglês!...Depois a gente copia a matéria!", combinámos entre nós três... Hesito. Penso nas consequências... Mas o que é que isso interessa agora?! A Liberdade nos espera lá fora...na Feira!!!...

Na escuridão cega do meu quarto, a tudo assisti com tranquilidade. Não sofri, não desejei o regresso a esse cenário do passado...A música da minha aula de dança de duas horas atrás ainda ecoava como pano de fundo nesse palco juvenil da minha lembrança de outros tempos... Estava confortável, e prestes a ceder ao peso das minhas pálpebras ...

E, no entanto... subitamente...um detalhe aguçou o meu intelecto antes de me entregar definitivamente ao mundo dos sonhos ... Foi um detalhe que me deixou extremamente intrigada!... Intrigada porque, (imagine-se!) sem qualquer origem ou razão, sem qualquer emoção envolvida, sem o costumeiro nó na garganta em situações de comoção, sem o mínimo aperto no peito.......de repente .... uma lágrima viscosa, espessa, dolente,volumosa e contraditória começou a escorrer muito lentamente pelo canto de um único olho meu, deslizando injustificada pelo meu rosto imóvel e atónito...

Maria Álvaro