sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Crónicas e ficções soltas - Alcoutim - Recordações XVII - Por Daniel Teixeira - Memórias de burros e não só



Crónicas e ficções soltas - Alcoutim - Recordações XVII - Por Daniel Teixeira - Memórias de burros e não só

Uma parte da minha vida foi passada com burros, com esses nem sempre simpáticos animais mas para os quais se guarda sempre um cantinho privilegiado nas nossas memórias. Dormia muitas vezes com o meu avô na arramada, na parte do palheiro próximo e salvo erro em dezenas de noites que lá passei em todos os anos só uma vez vi um burro «deitado» de joelhos porque sempre que acordava durante a noite os via de pé, sempre remoendo a palha na manjedoura, o que me levava a acreditar que os burros não dormiam.

O Jerico, esse meu paciente amigo suportava todas as minhas traquinices cavaleirescas com aquela paciência que só os burros têm. Queria eu à força que ele atingisse o galope e a velocidade de um cavalo no curto trajecto que nos levava da porta da casa da minha avó até a arramada. Sempre se recusou a fazer isso e ainda bem.

Quando montei uma égua pela primeira vez compreendi como era difícil ter mão nesses nervosos animais logo á primeira: em dias de trabalho usava-se até mesmo para os cavalos uma coisa que agora considero repreensível que eram as serrilhas nos cabrestos para funcionar como desmotivador do desabrochar nervoso do animal.

Umas vezes dava largas à arreata (rédeas era só terminologia para domingos e feriados) e ela entrava em trote; em resposta acabava por apertar demais e ela empinava. Mas nunca caí de cima de um animal o que por aqueles lados, com o pedregoso e o inclinado dos terrenos poderia ter sérias consequências.



Sem comentários:

Enviar um comentário