domingo, 16 de outubro de 2011

Jornal Raizonline nº 142 de 17 de Outubro de 2011 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - Uma indignada crónica



Jornal Raizonline nº 142 de 17 de Outubro de 2011 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - Uma indignada crónica

A sociedade civil, que tanto temos referido ao longo das nossas crónicas praticamente desde sempre, e para quem nos lê aqui no jornal desde que começámos a nossa cruzada de crónicas (vamos sensivelmente em cerca de 150) começa a fazer de forma mais activa aquilo que acha que deve fazer.

Sempre defendemos e continuaremos a defender que o problema das nossas dificuldades económicas deve e tem de ser resolvido pela sociedade civil porque afinal é ela que manda, foi ela que delegou mal, na minha modesta opinião, os seus poderes, que se deixou levar muito (e não só um pouco) pelos mantos diáfanos das fantasias das campanhas eleitorais, enfim...são coisas complicadas de verdade que não cabem todas aqui nem foram cabendo nos nossos textos ao longo dos tempos: falta sempre muito para dar por terminada esta tarefa.

Uma história que li na história, salvo erro foi Leão Tolstoi que a referiu, salvo erro, repito, num dos seus romances, e lembro-me do Don Tranquilo neste momento, conta uma história extraordinariamente interessante e com uma capacidade de análise social bem profunda. Conta-se que um Czar russo, cansado das criticas que lhe eram feitas resolveu fazer uma coisa impensável: demitiu-se e retirou-se para a sua casa de campo.

Pois ao contrário do que seria de pensar não apareceram alternativas possíveis nem pensáveis, nem entre os familiares do czar pelo que foram os mujiques (camponeses pobres), de chapéu na mão, que foram pedir ao «paizinho», como o tratavam, que voltasse para o Kremlim, que voltasse a governar.
Ora a nossa sociedade civil quando veste a farda de eleitor faz muitas vezes quase o mesmo que os pobres mujiques: não gosto nem quero meter-me em política, aliás gostaria que numa sociedade ideal que será sempre utópica, o representante do povo, na sua indispensabilidade, tivesse aquele perfil que Alexandre Herculano, igualmente utopicamente, descreve nas suas cartas quando uma deputação de cidadãos lhe foi pedir que se candidatasse a uma autarquia o que ele recusa.

«Escolham uma pessoa de bem, dedicada à coisa pública, que não tenha outro interesse senão servir o povo...» ...não são estas exactamente as palavras referidas por Alexandre Herculano mas a ideia que fica é esta. Nesse tempo, mesmo de forma já utópica, o ideólogo do municipalismo português ainda aventava a possibilidade de haver pessoas cumprindo estes requisitos. Hoje será mesmo muito difícil repetir com alguma convicção o mesmo que Herculano disse.



 

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