sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Coluna de Manuel Fragata de Morais - O FANTASTICO NA PROSA ANGOLANA - O CABELO E A FOME de António Fonseca



Coluna de Manuel Fragata de Morais - O FANTASTICO NA PROSA ANGOLANA - O CABELO E A FOME de António Fonseca
O cabelo e a fome eram irmãos e viviam na mesma aldeia.
 Um dia foram às partes do leste fazer negócios para, de seguida, irem comprar escravos e bois. Foram ao leste e trocaram borracha com fardos de mantas e panos. Estavam já de regresso, quando, a meio do caminho, o céu ficou carregado ameaçando chuva.

A fome começou logo a cortar ramos de árvores, a arrancar capim e construiu uma cubata e meteu-se lá com o seu fardo. Quando o cabelo ia também meter lá o seu fardo, a fome disse-lhe:
 – Aqui não entras.
 O cabelo disse à fome:
 – Irmã, embora eu possa suportar as chuvas ficando fora, deixa-me guardar o meu fardo na tua cubata.
 Todavia, a fome não ligou ao pedido.

Choveu muito e o cabelo ficou ele molhado. Depois meteram-se a caminhar e, tendo andado bastante, dormiram. Quando nasceu o novo dia, o cabelo disse:
 – Irmã, fiquemos hoje aqui para eu estender e secar o meu fardo que se molhou com as chuvas de ontem.
 Mas a sua irmã fome não ligou novamente ao seu pedido.



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