Tudo o que você sempre quis saber sobre:Fernando Pessoa, e não encontrou.- Texto e Recolha da Redacção - OS GRAUS DA POESIA LIRICA
O primeiro grau da poesia lírica é aquele em que o poeta, de temperamento intenso e emotivo, exprime espontânea ou reflectidamente esse temperamento e essas emoções. E é o tipo mais vulgar do poeta lírico; é também o de menos mérito, como tipo.
O primeiro grau da poesia lírica é aquele em que o poeta, de temperamento intenso e emotivo, exprime espontânea ou reflectidamente esse temperamento e essas emoções. E é o tipo mais vulgar do poeta lírico; é também o de menos mérito, como tipo.
A intensidade da emoção procede, em geral, da unidade do temperamento; e assim este tipo de poeta lírico é em geral monocórdico, e os seus poemas giram em torno de determinado número, em geral pequeno, de emoções.
Por isso, neste género de poetas, é vulgar dizer-se, porque com razão se nota que um é «um poeta do amor», outro «um poeta da saudade», um terceiro «um poeta da tristeza».
O segundo grau da poesia lírica é aquele em que o poeta, por mais intelectual ou imaginativo, pode ser mesmo que só por mais culto, não tem já a simplicidade de emoções, ou a limitação delas, que distingue o poeta do primeiro grau.
Este será também tipicamente um poeta lírico, no sentido vulgar do termo, mas não será já um poeta monocórdico. Os seus poemas abrangerão assuntos diversos, unificando-os todavia o temperamento e o estilo.
Sendo variado nos tipos de emoção, não o será na maneira de sentir. Assim, um Swinburne, tão monocórdico no temperamento e no estilo, pode contudo escrever com igual relevo um poema de amor, uma elegia mórbida, um poema revolucionário.
O terceiro grau da poesia lírica é aquele em que o poeta, ainda mais intelectual, começa a despersonalizar-se, a sentir, não já porque sente, mas porque pensa que sente; a sentir estados de alma que realmente não tem, simplesmente porque os compreende.
Estamos na antecâmara da poesia dramática, na sua essência íntima. O temperamento do poeta, seja qual for, está dissolvido pela inteligência. A sua obra será unificada só pelo estilo, último reduto da sua unidade espiritual, da sua coexistência consigo mesmo.
Assim é Tennyson, escrevendo por igual «Ulisses» e «The Lady of Shalott», assim, e mais, é Browning, escrevendo o que chamou «poemas dramáticos», que não são dialogados, mas monólogos revelando almas diversas, com que o poeta não tem identidade, não a pretende ter e muitas vezes não a quer ter.
Sem comentários:
Enviar um comentário