Jornal Raizonline nº 137 de 12 de Setembro de 2011 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - Sobre ressaltos
No nosso ultimo numero falámos sobre saltos sobretudo qualitativos e o titulo desta crónica pode dar a entender que existe algum humor relacionado com o conteúdo e o título do exemplar anterior. Há, de facto, alguma ironia, coisa que cultivo como se ela tivesse sempre estado comigo e nunca me tivesse largado um segundo que fosse.
Na verdade a ironia, o humor, fazem-me a mim e a muita gente uma falta danada mas há quem tenha e quem não tenha, infelizmente. A distribuição dos humores e das formas de encarar o estar (o ser) , apesar do criador se ter esforçado bastante, é uma daquelas coisas em que existe muita desigualdade: ser pobre em humor e em ironia deveria a meu ver ser considerado como um factor merecedor de compensação.
Não digo que essa compensação devesse ser dada pelo famoso Estado, que afinal somos nós todos, embora «representados», mas devia haver uma maneira de andar pelas ruas distribuindo humor e boa disposição àqueles pobres que os não têm. Mentes macambúzias, pessoas que vivem descontentes consigo mesmas, que têm falta de confiança em si mesmas, que se atrapalham ao menor embaraço, que não conseguem contornar situações mesmo as mais simples deveriam receber gratuitamente doses regulares de boa disposição, de alegria de viver, de confiança no futuro.
Eu sei que estar a falar deste assunto, assim, numa situação de crise mundial pode parecer paradoxal mas não é assim tanto: crises piores que esta que vivemos hoje foram vividas e contornadas pelos nossos antepassados: também é certo que muita gente ficou pelo caminho, perdidos na voragem das crises e que muita gente morreu mesmo, muito mais gente do que aquela que devia...toda a vida conta e toda a perca de vidas conta, mesmo que seja só uma.
O que me preocupa e o que sempre me preocupou, e já tenho aqui falado nisso várias vezes, seja neste jornal seja na nossa rádio, é verificar a inexistência de uma visão de conjunto, o esquecimento dos tempos passados e do constante devir e o facto de se verem algumas vezes as coisas apenas pela foto do presente, pelo instantâneo, em suma, o que me preocupa é o facto de se ver a árvore e não se ver a floresta.
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