quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Escolhas - Um Conto/Novela de VIRGINIA TEIXEIRA - Parte V



Escolhas - Um Conto/Novela de VIRGINIA TEIXEIRA - Parte V

A casa na Inglaterra foi ideia dela. O que mais queria era sair deste pais de pobreza, mas não sabia para onde. França jamais. Espanha era perto demais. A Inglaterra devia ser bonita. Ele nunca lhe disse que não. Foram viver para uma propriedade no interior da Inglaterra, numa casa vitoriana que ele deixou que ela decorasse como bem quis.

Com o divórcio, decerto iria perder muito dinheiro, mas tentaria fugir disso o mais possível. Durante meses ninguém soube sequer onde estavam e o Dr. teve tempo de esconder jóias e riquezas. O engraçado é que, se chorou muito nos primeiros dias pelo que fez à sua família, quando deixou de chorar pareceu ser totalmente feliz.

Jamais voltou a ver os filhos, apesar de falar bastante deles. Mandou-lhes uma quantia reduzida durante o resto da sua curta vida, mas não lhes respondeu as cartas. Eram cartas raivosas, de filhos destroçados, de uma família totalmente despedaçada, e ele sentia-se cobarde demais para enfrentar aquelas palavras.

Pedia a Leonor que lesse as cartas, no caso de haver algo de importante, e não queria saber de mais. Ela leu as primeiras, as outras deitou-as fora. Não valiam a pena. O passado tinha de ser esquecido, pelos dois, e ela ajudá-lo-ia a fazê-lo.

No mês seguinte a ter saído de Portugal, enviou o primeiro cheque à mãe. Nunca foi descontado. Nem o segundo. Nem muitos outros, até que, vários anos mais tarde, começaram a ser descontados. Ela nunca soube porquê, a mãe não lhe respondia às cartas, mas ficou um pouco mais contente por isso.

Na altura começou a pensar em voltar, em ver a família, apenas para quebrar o vazio, mas levou muitos anos a faze-lo realmente. Entretanto a mãe morreu, mas os cheques continuaram a ser descontados e ela nunca soube, nem imaginou. O pai, em França, estava enterrado numa vala qualquer, e a mãe descansava no cemitério da terra.

E ela em Inglaterra, rica e quase feliz. Feliz tornou-se mesmo quando o Dr. morreu, cinco anos depois de terem comprado a casa. Entretanto já ela colocara quase todas as suas posses no nome dela, e a velhice que o atacara fora tão súbita que nos últimos três anos fora mais uma enfermeira que amante daquele homem.

O fogo dele extinguiu-se, mas continuava apaixonado por ela. Não a criticava por nada que fizesse, e não a via senão como uma menina linda e inocente. Mal sabia ele que nunca fora inocente… Ela estava rica, e era tudo aquilo que sempre quisera.

Destruíra pelo caminho duas famílias, e gostaria de se conseguir lamentar por isso, mas a verdade é que se sentia vitoriosa em tudo. Dera o seu corpo a um velho que não se cansara de a ferir sob o pretexto do amor e de uma paixão grande demais, mas conseguira tudo aquilo que tinha querido.


 

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