domingo, 18 de dezembro de 2011

TRISTE FADO - Conto de VIRGINIA TEIXEIRA



TRISTE FADO - Conto de VIRGINIA TEIXEIRA
  
 Arvores frondosas despontando do chão de terra batida, pelo meio rápidos roedores correndo num frenesim, buscando por entre as folhagens alimento e abrigo. Ao longe, plantas carregadas de séculos de existência, apontavam com as ramagens, ao ritmo da brisa suave, prenúncio de um Inverno ainda longínquo, uma cabana, casinha miúda e imperceptível, confundida pelos que ali sobrevoavam, com os troncos bastos da floresta.

 Ali há muito que não passava ninguém. Há séculos, o caçador que deixara a cabana como recordação da devastação que deixara, até ter sido atingido pelas suas próprias balas... Deixara penduradas no alpendre peles ainda a secar, para que todos os animais que por ali passassem lembrassem o seu nome, mesmo muitos anos depois, quando a sua presença se tornara lenda no mundo animal.

Há anos, talvez mais de meio século, tinha passado um rapazote, perdido da aldeia, que servira de pasto aos lobos escondidos, ansiando o anoitecer e a surpresa cruel, e que deixara por ali apenas um trilho de restos decompostos pelo tempo, e pelos pássaros que ali foçavam buscando um pouco de carne.

 E depois a velha, há pouco mais de duas décadas. A velha que chegara ali para enfrentá-los a todos. Aprendera a afastar os lobos e todos os que a observavam como uma presa fácil. Gritou pela floresta adentro que não tinha medo e convenceu.

 Não querendo atiçar a raiva dos animais, cultivava numa pequena horta, nascida miraculosamente naquela terra infértil, legumes e ervas mágicas para os chás que acompanhavam as suas tardes, em que a velha, que ainda não era muito velha quando ali chegou, se sentava no alpendre, baloiçando a sua cadeira, e escrevia.

 Escrevia sem parar. Escrevia com a sofreguidão de quem tem muito para deixar e pouco tempo para o fazer.

Leia este tema completo a partir de 19/12/2011

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