sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O conquistador da aldeia - Conto de Virgínia Teixeira



O conquistador da aldeia - Conto de Virgínia Teixeira 

Ele tinha calças finamente cortadas na modista da aldeiazinha. A camisa, desabotoada ao nível do coração, deixava entrever um peito liso, duro e forte. O sorriso matreiro denunciava-lhe a condição, sem afastar as meninas. Tinha aquele jeito tão retratado nos livros, o jeito de homem vazio, dotado de um dom único de tornar cativa qualquer uma que o sentisse por perto. Mais do que nos livros, o seu encanto espalhava-se pelas ruas como um perfume ordinário que, apesar de tudo, todas queriam salpicar no corpo.

Era esse o pensamento que as tomava quando o viam passar. Queriam-lhe os dedos espalhados pelas suas curvas, as mãos sôfregas em todos os recantos do corpo e os lábios pousados no suor dos corpos excitados. Até a velha pensava assim. Vira o menino crescer, tornar-se homem, sabia-o de cor (só precisava adivinhar a proporção do tempo) e mesmo depois de tantos anos de cama vazia, quando o via passar ainda se lembrava do beijo atrevido que lhe dera, ainda menino, curioso com os peitos meio descobertos da viúva. Só ela sabia quanto lhe custara mandá-lo embora, ardente como nunca antes.

As moças, novas ainda, algumas quase crianças, sustinham as lágrimas ao vê-lo passar, de mala na mão. Algumas queriam-no de novo, mesmo as que tinham tido a juventude estragada por ele. Não esqueciam o seu sabor. As outras que ele, apesar do empenho em percorrer todas da terra, ainda não tinha conseguido levar para os matos, por falta de tempo ou oportunidade, amaldiçoavam a idade e continham a angústia ao vê-lo passar. Quando ele partisse os bailes e festas perderiam a cor e nenhum peito voltaria a disparar ao vê-lo entrar com o seu olhar galante e o sorriso traquina de sempre.

Ele andava, direito e altivo, despedindo-se de cada uma com sorrisos tão especiais quanto vulgares que muitas recordariam para sempre como momentos mágicos. Olhava as novitas, sedento como sempre, mas sem tempo para as acorrentar também. Outros viriam.


 

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