O Joãozinho e a fome - Conto de João Furtado
Era segundo ano consecutivo que a chuva nem vê-la. A cor castanha e informe da terra era desoladora. Só a grande esperança desmedida do Cabo-verdiano o fazia pegar na enxada e ir cavar para a sementeira de um novo e incerto ano agrícola. Verdade se diga, o José de Sousa havia visto no lunário perpetuo que o próximo ano era bom e de fartura.
O José de Sousa nunca costumava falhar duas vezes. Já havia falhado no ano passado e prometido um farto ano, mas deu no que se via. Nem palha para animal. Não havia jantado no dia anterior, sentia a barriga a roncar de fome. E não tinha onde ir buscar. O ultimo empréstimo foi a uma semana e os últimos grãos de milho serviu de jantar a dois dias. Do farelo a mulher, a sua Josefa, fez camoca com que tomou o pequeno almoço no dia anterior e levou uma parte que comeu enquanto trabalha.
Com fome e com barriga a roncar pegou na enxada e já ia a sair para ir trabalhar, quando a Josefa o chamou.
-Mário
-Sim, Josefa fala!
-Hoje não temos nada para comer!
-Vou trazer o que comer.
-Mário
-Sim, Josefa fala!
-Hoje não temos nada para comer!
-Vou trazer o que comer.
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