sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Oratura: A lenda do soma [soberano] Ndumba - Por Gociante Patissa



Oratura: A lenda do soma [soberano] Ndumba - Por Gociante Patissa 

«Otembo yaviluka, Soma Ndumba vowambatisa ewe; otala tala oloneke okuviluka», em português, «mudaram-se os tempos, até o Soberano Ndumba foi forçado a carregar pedra».

Essa é a essência da canção que satiriza e lendária figura do soberano Ndumba, uma lenda de resistência africana durante a colonização portuguesa, no princípio do século vinte. Para ser mais preciso, como se isso lá fosse possível em lendas, reportamo-nos à década de 1920, na região centro e sul, da «nação Ovimbundu».

Nas longas caminhadas, Ndumba revelava um inusitado sentido de exigência. Imagine-se, como contam, que num perímetro de pelo menos 40 quilómetros pernoitava umas cinco vezes. Mas para quê? Seria coxo? A isso não sei responder, nem o sabem as fontes. Podia ser apenas pelas mordomias que exigia aos anfitriões em cada aldeia (na ida e no caminho de volta). Perdia-se a conta das galinhas que chegavam à sua mesa (porque, como não devia deixar de ser, caminhava acompanhado).

Bom, mas sobre galinhas, não apertemos tanto o soberano, quando até os sipaios a tal regalia tinham direito, sem ser do seu orçamento, em qualquer aldeia onde tivessem de pernoitar em serviço. As gerações nascidas na Angola independente têm sempre dificuldades em imaginar certas coisas, se interpretarmos o termo como imagem em acção.


 

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