domingo, 5 de fevereiro de 2012

Jornal Raizonline nº 157 de 6 de Fevereiro de 2012 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - Sair da casca



Jornal Raizonline nº 157 de 6 de Fevereiro de 2012 - COLUNA UM - Daniel Teixeira - Sair da casca

Sair da casca é aquilo que as aves e outros ovíparos fazem quando chegam ao final do seu período de gestação «in ovo» (neste caso). Quem teve a possibilidade de ver os pintos a rasgarem a casca do ovo sabe que o relativamente aflitivo trabalho só remotamente pode ser considerado de instintivo. Sendo lógico e sem rede científica aqui a suportar-me tenho de acreditar que os pintos e outros ovíparos (e não só) vêm para esta triste vida cá fora porque se acabaram as possibilidades de continuarem lá dentro.

Entre os humanos, já nascidos ou não, tem havido alguma referência romanesca à permanência in utero de duas formas: uma, ficando mesmo dentro do útero (ficção e alegoria é claro) ou recusando-se a crescer. Este último aspecto tem sido muito interessante nos desenvolvimentos porque retirando os casos patológicos e de impossibilidade de fazer diferente que respeitamos e lamentamos se nota que cada vez os jovens saem do processo juvenil mais tarde, de uma forma geral.

Os casamentos cada vez mais tardios, que podem ser utilizados apenas como termómetro estatístico dizem isso mesmo assim como o cada vez mais tardio nascimento de filhos: normalmente estes são de alguma forma programados para nascerem depois de cursos completados ou depois de processos relativamente instalados a nível profissional e de carreira.

Ora, como vivemos uma cada vez mais forte situação de precariedade a nível profissional e mesmo social tudo indica que teremos bastante manga sem pano nos próximos anos que podem ser longos e podem inclusivamente instalar uma forma de pensar que não deixa de ser pelo menos preocupante. Em termos de biologia as colónias são viáveis ou inviáveis consoante o número de nascimentos é ou não superior ao número de falecimentos.


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