quarta-feira, 18 de março de 2015

Poesia de Liliana Josué


Poesia de Liliana Josué

PEDRO

No meu gemido Universal nasceste
menino robusto e lindo
crucial momento na minha existência

criança adorável em choro de vida

despontou o lírio branco que eu embalei
e amei na solidão do meu mundo

não deixei que te transformassem em nada
não, não deixei
eras meu, estavas em mim
e sendo assim
mais nada contava

querida vozinha em soluço de agradecimento

choravas por causa da música
e brincavas com o reflexo dos espelhos

doce canto, doce pranto
plena certeza de te querer aqui.

22/02/2015
Liliana Josué

GATOS VERDES

 Quatro gatos verdes
 observavam o seu desventrado quarto.
 Gavetas voadoras com línguas de fora;
 armários navegando assustados
 por ondas de papeis;
 leito num furacão
 envolto em negras nuvens de pó.

 Os gatos... eram gatos?
 Sim! Eram gatos! Na certeza da dúvida...
 mas tinham cor de papagaios!
 Verdes, brilhantes...
 talvez fossem... gatos - papagaios!?
 Mas não falavam!

 Constrangidos
 observavam o mundo ressequido
 daquele quarto esquizofrénico.
 Que ambição dali poderem sair
 mas uma despudorada Força contrária
 puxava-os e impedia a desejada saída.
 A liberdade é só para alguns
 ou mesmos nenhuns.

 Um dos quatro gatos - papagaios
 fixou uma porta abstracta
 passou por ela, quis tentar a liberdade.
 Os outros três por lá ficaram
 no caos das suas vidas
 dentro do quarto
 sem se atreverem a olhar mais longe.
 O gato - papagaio que se soltou
 tornou-se azul, brilhante como o céu
 e conseguiu cheirar o ar sem mofo.

 Seria gato? Seria ave?
 Quem o saberia?
 Só se comprovaria ser ele lindo.

 Do seu futuro
 mais ninguém soube.
 Será que encontrou a liberdade?
 Ou terá morrido na saudade
 dos outros três gatos verdes
 fechados nas bolorentas paredes?

 Liliana Josué

 Primavera Branca

 Há sol azul
 nos olhos do ancião,
 metamorfoses de vidas
 esvoaçando como tule
 adormecem esse olhar
 de solidão.

 Cabeça pendendo sonhos
 recordações
 do distante
 memórias de luares antigos
 polvilhados de emoções
 de cor imaculada
 e cheiro a ontem.

 Tudo é Primavera branca
 cabelo, barba, ilusão...
 a face nívea desgostos tranca
 só os olhos é que não.

 Liliana Josué





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