sexta-feira, 20 de março de 2015

Jornal Raizonline Nº 265 de 19 de Março de 2015 - Coluna Um - O Dia do Pai - Por Daniel Teixeira


Jornal Raizonline Nº 265 de 19 de Março de 2015 - Coluna Um - O Dia do Pai - Por Daniel Teixeira

Por norma não gosto muito de escrever sobre mim embora toda a escrita que tenho espalhada pela Net em geral e por este Jornal Raizonline em concreto, diga sempre um pouco sobre mim.

Trata-se daquelas coisas às quais não conseguimos fugir mesmo que em muita ficção a presença da minha pessoa possa ser menos notada. Contudo ela está lá, pelos temas muitas vezes, mesmo os mais humorísticos e alguns surrealistas mesmo, e também por um factor ao qual se dá normalmente pouca atenção, o gosto: ou seja, e para este caso, o facto de gostar de escrever sobre algo, mesmo que esse algo apenas remotamente aponte para mim, já demonstra pela escolha uma opção minha e logo eu.

Prefiro o chamado low profile... gozar em pleno e sem interferências a minha querida insignificância.

É difícil, senão impossível, reconheço, obter isto : e estando nestes dias a fazer um pequeno trabalho sobre a importância daqueles que da lei da morte se libertaram trago aqui - repescado desse meu texto em elaboração - o caso do escravo de Camões, Jau, um pobre javanês que na minha opinião e dentro desta minha perspectiva da quase invisibilidade que defendo, teve o azar de ter sido escravo de uma celebridade ficando à sua fama agregado.

Assim e tendo em atenção que este jornal tem no seu dia de publicação a data de 19 de Março e que nessa data é o Dia do Pai, falar do meu pai seria também falar um pouco sobre mim uma vez que eu me revejo nele pelo menos numa parte larga daquilo que sou.

A parte em que sou diferente de meu pai deve-se talvez, ainda na minha opinião, ao facto de o meu pai ter vivido num tempo e ter falecido entretanto não tendo assim as possibilidades de ser meu mentor naquilo que não alcançou transmitir-me em vida.

Claro que há outras diferenças, mas essas, de uma forma bastante clara resultam do facto de ele ter podido dar-me a mim aquilo que os seus pais (e meus avós) não lhe conseguiram dar a ele.

Alexandre O'Neill (um dos meus poetas preferidos) foi um dia questionado sobre aquilo que gostaria de ter como epitáfio na sua sepultura e respondeu, claramente: «Aqui dorme um homem que dormiu muito pouco em vida: bem o merece agora!»

O meu falecido pai não tem um epitáfio destes: tem o seu nome, a referência aos que deixou por cá e um cão de cerâmica em memória aos vários cães que foi tendo durante a sua vida e que assim o acompanham tal como ele os acompanhou.

Um dia, talvez um dia destes eu acrescente algumas palavras àquilo que ele hoje tem, umas palavras simples mas com muito significado para mim: «Obrigado Pai por me teres sempre ensinado a pescar!» 



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