sexta-feira, 27 de março de 2015

O Suicídio - Por Daniel Teixeira


O Suicídio

Por Daniel Teixeira

Há diversas formas de se morrer. Uma delas é o suicídio. Hoje em dia enquadramos o suicídio num contexto psicológico e vemos aqueles que o cometem como pessoas com problemas, passíveis de ser ajudadas por profissionais.

Mas o suicídio, a sua prática sempre existiu, desde os tempos mais remotos, e foi a forma de o encarar que mudou radicalmente ao longo dos tempos. As mentalidades evoluíram e o suicídio tomou outros contornos.

Só no século IV é que se começa a tomar o suicídio como algo negativo, graças a S. Agostinho que rejeita a prática. Mais tarde, a Igreja, órgão de suma importância nas sociedades do século XIII , sob a forma de S. Tomás Aquino, veio a trazer um conceito que mudou para sempre a visão dos que cometiam suicídio. Foi o conceito de «pecado» que até hoje ainda influencia a opinião de muitos neste assunto.

Foi então que, através de «castigos», como a ameaça do Inferno (ao cometer o pecado), e a exposição do corpo em praça pública, denegrindo a pessoa morta e família, o suicídio ganhou o seu cunho de «proibido» e mau.

Hoje o suicídio é visto essencialmente de uma forma psicológica (considerando-se as problemáticas psicológicas relacionadas), e entendido mais abertamente que sob a suma influencia da Igreja.

No entanto, não existe uma posição permissiva em quase nenhuma sociedade, mas sim uma preocupação crescente da saúde mental e não só de proporcionar uma existência em que o suicídio não seja contemplado como alternativa. Assim, desenvolvem-se esforços vários para promover condições de vida em que o suicídio não seja visto como uma hipótese viável.

Este é um assunto muito complexo, e podemos começar por comparar as diferentes noções que vários autores dão do conceito de suicídio.

Parece-nos óbvio o que é o suicídio, mas há diversas teorias que abrangem mais do que o simples acto de morrer voluntariamente, utilizando instrumentos que se sabem provocar esse fim (a morte).

Durkheim (1897) refere que uma conduta suicidária alcança tudo o que a «vitima» causa, tendo consciência do seu possível resultado. Assim, segundo este autor, usar drogas, álcool ou até conduzir perigosamente, são condutas suicidárias.

Já Halbwachs (1930) refere que o suicídio é o acto realizado com instrumentos ou meios que nos levem a crer que o sujeito realmente tinha como objectivo a morte.

A definição que, talvez, se aproxime mais da noção em senso comum que vigora actualmente, é a de Vaz Serra (1971) que concebe o suicídio como a autodestruição consequente num acto voluntariamente realizado com vista a esse fim (morte).

Baechler (1975) vê o suicídio como todo o comportamento que procura solução para um problema existencial através do atentar ao Eu.

Estes autores, referidos por Daniel Sampaio, também ele muito atento a esta questão, dão-nos uma noção breve da extensão desta problemática.

Talvez ninguém saiba explicar completamente o suicídio, o que leva uma pessoa a recorrer a ele, que sentimento acompanha o momento do suicídio, que objectivo se pretende alcançar com esse acto.

Talvez seja diferente para cada pessoa, as pressões exercidas sobre os indivíduos são diferentes, as razões nunca poderiam comparar-se de pessoa para pessoa.

Será para alguns como Paulo Coelho escreve no seu livro, Verónika decide morrer:

«(...) Verónika decidira morrer naquela tarde bonita de Lubljana, com músicos bolivianos a tocar na praça, com um jovem a passar diante da sua janela, e estava contente com o que os seus olhos viam e os seus ouvidos escutavam. Mais contente ainda estava por não ter que ver aquelas mesmas coisas por mais trinta, quarenta, ou cinquenta anos - pois iam perder toda a sua originalidade, e transformar-se na tragédia de uma vida onde tudo se repete, e o dia anterior é sempre igual ao seguinte(...) .»;

para outros esta calma, é substituída por um desespero avassalador, uma angústia silenciosa.

O suicídio nem sempre é um adeus, na maior parte dos casos é uma mensagem, um pedido aos que os rodeiam.

Daniel Sampaio refere quatro tipos fundamentais de suicídio (baseou as suas conclusões num estudo de tentativas de suicídio adolescente): 

fala-nos do suicídio por apelo, em que o indivíduo pretende a comunicação, enviar determinada mensagem que, de outra forma, não consegue expressar;

o suicídio por desafio, em que o sujeito desafia os seus superiores, colocando-se numa posição de igualdade;

do suicídio de renascimento, em que a pessoa quer modificar o sistema em que está inserido, a seu modo;

e, por fim, temos o suicídio de fuga, em que o sujeito quer excluir-se.

Nestes quatro tipos de suicido encontra-se uma noção em comum, a noção de mudança. Os sujeitos desejam a mudança. A forma como encaram as suas tentativas de suicídio difere, mas o objectivo central é o mesmo, a mudança. A situação em que se encontram não lhes serve mais.

Não será o equivalente a sofrer de uma doença terminal em que a morte não é uma escolha, mas uma certeza incontornável, mas os últimos passos de quem um dia «escolhe» a morte, seja por que razão for, são também minutos de despedida que talvez nunca entendamos completamente.





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