Idiotas e zumbis
Por Tom Coelho
"Os sábios aprendem com os erros dos outros,
os tolos com os próprios erros
e os idiotas não aprendem nunca."
(Provérbio chinês)
Um estudante morre após sofrer coma alcoólico. Um juiz é afastado por usar um bem apreendido. Um motorista digita no celular enquanto dirige. O que estes episódios têm em comum?
Em Bauru, o estudante de engenharia Humberto Moura Fonseca, de 23 anos, sofreu parada cardiorrespiratória após ingerir cerca de 30 doses de vodca, o equivalente a uma garrafa e meia. Ele participava de uma competição absurda para celebrar quem tinha capacidade de beber álcool em maior quantidade.
A idiotice da situação não se restringe ao morto. Envolve os outros seis colegas que também passaram mal (três deles sendo internados em UTI) e todos os demais participantes, incluindo os que estavam no entorno, registrando com seus celulares e postando em mídias sociais a imbecilidade da disputa como se fosse um ato admirável. A competição havia sido anunciada publicamente e a festa não foi interrompida mesmo após o registro de óbito. Todos, sem exceção, são igualmente idiotas e cúmplices por omissão.
Pergunto-me: o que acontece no meio estudantil nos tempos atuais? Não importa se a faculdade é pública ou privada, de alto ou baixo poder aquisitivo. Não importa a região geográfica ou o tipo de curso. Em lugar da preponderância do estudar, do aprender, o que vemos é a recorrência dos trotes e a ocorrência de festas regadas a atos de violência, com estupros e mortes.
No Rio de Janeiro, o juiz federal Flávio Roberto de Souza foi afastado do cargo, e está sob investigação, após ser flagrado dirigindo um dos veículos apreendidos do réu Eike Batista, além de ter determinado que um piano do empresário ficasse sob a guarda de um vizinho seu. O magistrado feriu o princípio básico da imparcialidade e provocou a suspensão de todos os processos sob sua tutela. Detalhe: embora afastado, continuará a receber seus vencimentos.
Em São Paulo, um motorista de ônibus foi filmado utilizando as duas mãos para se comunicar pelo WhatsApp com o veículo em movimento transportando dezenas de passageiros. Um ato de irresponsabilidade extrema, cada vez mais praticado por pessoas que vivem como zumbis conectados aos seus eletrônicos e desconectados da vida. Não são mortos-vivos, mas sim vivos-mortos.
O que há em comum entre estes três episódios? A educação, ou melhor, a falta dela. Uma dose de vodca oferece prazer, 30 doses, a morte. O poder de um juiz deve ser canalizado para o bem, não para benefício próprio. A tecnologia facilita a vida, aproxima pessoas, compartilha conhecimento, mas a mesma vida não se restringe a bits e bytes.
A palavra “idiota”, oriunda do latim, remete a “falta de instrução”. Certamente não falta a estudantes universitários acesso a informação, não falta a um juiz federal conhecimento dos fundamentos éticos, não falta a um motorista entendimento do risco ao qual está se submetendo. Falta a todos o mínimo de discernimento, bom senso e respeito.
Data de publicação: 13/03/2015
Tom Coelho é educador, palestrante em temas sobre gestão de pessoas e negócios, escritor com artigos publicados em 17 países e autor de oito livros. Contato: tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite: www.tomcoelho.com.br e www.setevidas.com.br.
Por Tom Coelho
"Os sábios aprendem com os erros dos outros,
os tolos com os próprios erros
e os idiotas não aprendem nunca."
(Provérbio chinês)
Um estudante morre após sofrer coma alcoólico. Um juiz é afastado por usar um bem apreendido. Um motorista digita no celular enquanto dirige. O que estes episódios têm em comum?
Em Bauru, o estudante de engenharia Humberto Moura Fonseca, de 23 anos, sofreu parada cardiorrespiratória após ingerir cerca de 30 doses de vodca, o equivalente a uma garrafa e meia. Ele participava de uma competição absurda para celebrar quem tinha capacidade de beber álcool em maior quantidade.
A idiotice da situação não se restringe ao morto. Envolve os outros seis colegas que também passaram mal (três deles sendo internados em UTI) e todos os demais participantes, incluindo os que estavam no entorno, registrando com seus celulares e postando em mídias sociais a imbecilidade da disputa como se fosse um ato admirável. A competição havia sido anunciada publicamente e a festa não foi interrompida mesmo após o registro de óbito. Todos, sem exceção, são igualmente idiotas e cúmplices por omissão.
Pergunto-me: o que acontece no meio estudantil nos tempos atuais? Não importa se a faculdade é pública ou privada, de alto ou baixo poder aquisitivo. Não importa a região geográfica ou o tipo de curso. Em lugar da preponderância do estudar, do aprender, o que vemos é a recorrência dos trotes e a ocorrência de festas regadas a atos de violência, com estupros e mortes.
No Rio de Janeiro, o juiz federal Flávio Roberto de Souza foi afastado do cargo, e está sob investigação, após ser flagrado dirigindo um dos veículos apreendidos do réu Eike Batista, além de ter determinado que um piano do empresário ficasse sob a guarda de um vizinho seu. O magistrado feriu o princípio básico da imparcialidade e provocou a suspensão de todos os processos sob sua tutela. Detalhe: embora afastado, continuará a receber seus vencimentos.
Em São Paulo, um motorista de ônibus foi filmado utilizando as duas mãos para se comunicar pelo WhatsApp com o veículo em movimento transportando dezenas de passageiros. Um ato de irresponsabilidade extrema, cada vez mais praticado por pessoas que vivem como zumbis conectados aos seus eletrônicos e desconectados da vida. Não são mortos-vivos, mas sim vivos-mortos.
O que há em comum entre estes três episódios? A educação, ou melhor, a falta dela. Uma dose de vodca oferece prazer, 30 doses, a morte. O poder de um juiz deve ser canalizado para o bem, não para benefício próprio. A tecnologia facilita a vida, aproxima pessoas, compartilha conhecimento, mas a mesma vida não se restringe a bits e bytes.
A palavra “idiota”, oriunda do latim, remete a “falta de instrução”. Certamente não falta a estudantes universitários acesso a informação, não falta a um juiz federal conhecimento dos fundamentos éticos, não falta a um motorista entendimento do risco ao qual está se submetendo. Falta a todos o mínimo de discernimento, bom senso e respeito.
Data de publicação: 13/03/2015
Tom Coelho é educador, palestrante em temas sobre gestão de pessoas e negócios, escritor com artigos publicados em 17 países e autor de oito livros. Contato: tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite: www.tomcoelho.com.br e www.setevidas.com.br.
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