quinta-feira, 5 de março de 2015

Crónica por Martim Afonso Fernandes


Crónica por Martim Afonso Fernandes

Histórias da Vida Real

A Cadeia Pública

Em minha cidade natal tive vários amigos mais velhos, ou melhor, «com mais tempo de casa neste planeta!». Há amizades que conservo até hoje.

Alguns já mudaram-se para o piso de cima. É muito bom recordar!

A cadeia pública ficava próxima da usina de geração de energia, da lagoa de alimentação e circulação do sistema energético. O acesso à cadeia era pela rua principal, onde localizavam-se estabelecimentos comerciais e residências.

Como os moradores eram ordeiros, se o carcereiro dependesse do dinheiro da carceragem para viver, morreria de fome.

A cadeia já servia de moradia para o policial responsável.

O movimento do Porto era ininterrupto. De vez em quando algum marinheiro tomava umas graspas fora da conta e aparecia fazendo algazarra.

A polícia logo fazia o convite e o levava para curtir o porre e «ver o sol nascer quadrado». A ordem de descanso era de doze horas.

Quando era alguém de Imbituba, conhecido do delegado ou do policial, que desse algum apronto, era recolhido para que servisse de lição.

A cela tinha grade de madeira e era fechada por fora. Só o nome «cadeia» já impunha respeito ou medo.

Geralmente depois do preso completar umas duas horas de estágio, o policial chamava o detento e dizia:

-Vou dar uma volta. Lá naquele canto tem uma taboa solta. Levanta e sai pelo buraco, mas coloca a taboa no lugar. Some, porque se eu te pegar por aí, vais passar uma semana toda dentro do cubículo.

O detento atendia a ordem do policial, e para se ver livre, corria direto para casa. Como a saída da cadeia era pela rua principal, geralmente deduzia-se que aquele tinha sido preso. O pior era no dia seguinte agüentar as piadas e gozações dos amigos.

Porque sempre tinha alguém para perguntar:
 -Fulano, pagaste a diária do hotel do delegado? Que tal, a cama era boa? E o café da manhã?

Velhos e bons tempos, que não voltam mais.

Imbituba era uma cidade tão tranqüila, que quando o delegado queria falar com alguém que cometia algum deslize ou que descumprisse alguma lei, mandava um recado por um amigo ou pelo vizinho, para que o dito cujo comparecesse à delegacia.

Aconselhava-o paternalmente e prometia-lhe que se reincidisse na falta, da próxima vez a pena seria de uma semana no xadrez.

Assim a tranqüila Imbituba ia levando seus dias de paz e ordem.

O progresso veio lentamente, a imigração foi aumentando, a população crescendo.

Felizmente, o índice de criminalidade e o tráfico de drogas é mínimo para a expansão demográfica desta bela cidade de avenidas bem traçadas e de praias, ilhas e lagoas espelhados pelas águas límpidas e azuis do Atlântico.




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