quinta-feira, 30 de abril de 2015

Poesia de India Libriana


Poesia de India Libriana

 

 LAMENTOS; AO TEMPO QUE FOSTE; HABEAS CORPUS



 LAMENTOS

 

Parto sim, do jovem aconchego desse olhar
 que não retocará a sua fantasia primeira
 e só há bilhete para Lugar Nenhum a cobrar
 nesta Estação ubi cheguei tarde à bilheteira...

 Parto sim – de tudo – e parto suas promessas
 abandono o tango e volto ao crepúsculo da solidão
 e fragmento noites e vicio madrugadas travessas,
 no pranto do fadista há lamentos sentidos em vão...

 Em meu retorno ao calabouço do frio espectro
 há portas hipócritas abertas a festejar
 abanando convites para entrar e chorar na ruela

 Há lágrimas de reencontro e desencontro
 e há queixumes de paredes a atormentar
 com boas vindas cantadas a solo e a capela

 

 AO TEMPO QUE FOSTE

 

Es (és) de um tempo que foi e que já não dói
 em que eram tuas minhas ruas
 por onde passava e passeava
 copioso teu olhar, uma dor de amar;

 Eras caloroso espaço, regaço
 de maciez sedosa, tez preciosa
 cheirando a flores, dando calores
 aos sentidos e ruídos contidos;

 Es (és) da Imagem que foste, Cópia inópia
 poesia sem sentimento, o pejo do beijo
 que habitou o meu intenso silêncio
 de todas as horas em que te amava nas demoras;

 Es (és) saudade ausente, toque sem choque
 do exaurido perfume sem ciúme,
 da Ideia do inteligível no sensível
 do tempo que foste, passado sem enfado;

 Eras do tempo que eras e foram eras
 de muitas promessas, louças essas já partidas
 hoje nem saudades amenas, fóssil apenas
 de tão remoto na minha memória sem glória.

 

 HABEAS CORPUS

 

 Vim para soltar da garganta o verbo
 o grito que te sufoca e te prende no papel
 pois é este teu medo de alforria que te dá tropel
 Mas cautela! Nada de estar em assoberbo...

 Vim desatar o nó do laço que te aperta forte,
 fazer desaparecer dele medos e dores,
 fluir das suas entranhas flores e amores
 e fazer-te largar para os mares do norte...

 Que a tua voz se erga bem alto
 A altitude dos que esperam te ouvir
 E dos que te desconheçam deste asfalto!

 Esquece tudo o que antes te foi torpe,
 que na nova via seja de maiêutica teu esculpir.
 Estás solto dos teus grilhões. Que tenhas corpo!!!

 India Libriana 





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