quinta-feira, 2 de abril de 2015

Jornal Raizonline Nº 266 de 2 de Abril de 2015 - Coluna Um - Daniel Teixeira


Jornal Raizonline Nº 266 de 2 de Abril de 2015 - Coluna Um - Daniel Teixeira


Eleições e Abstenção

As eleições para o Parlamento Europeu são universalmente conhecidas como sendo aquelas que maiores volumes de abstenção proporcionam.

Mas as razões para que tal aconteça são as mesmas que são argumentadas quando se obtêm números baixos de participação noutras eleições e que se resumem mais ou menos assim neste ping - pong : «Para quê ir votar se fica tudo na mesma?» - da parte dos abstencionistas, e:  «A nossa mensagem não chegou a todo o eleitorado!» da parte dos «abstencionados».

O que não deixa de ser curioso, tanto a repetição dos clichés, como a análise «científica» dos dirigentes e outros elementos partidários: porque não se pode dizer que uma coisa que está farta de partir (a tal de mensagem) não chega. Antes de ir apanhar a bola (votar) ela já foi mandada dezenas ou mesmo centenas de vezes para o campo das nossas misérrimas possibilidades de escolha.

Para mais sabe-se que, em termos estratégicos, os mais interessados na ida às urnas são precisamente os concorrentes, os partidos políticos (cada voto vale x €). Por isso com a significação que o voto atinge, é normal a afirmação repetida do «Para quê ir votar se fica tudo na mesma?».

Estamos convencidos que para que a situação se modificasse teria que ser estabelecido um significado real ao acto, porque se assim não for cada vez haverá uma maior abstenção e cada potencial eleitor acabará por tornar mais repetida a solução «moeda ao ar» da cara ou coroa da abstenção.

Ora entende-se que a base da democracia é a participação dos cidadãos e quanto menor for o volume de participação mais a democracia se esfuma e isto é dito de forma que quase toma um valor absoluto.

A base da democracia é ter gente capaz de ser escolhida para governar, em primeiro lugar. Para se participar em algo é preciso ter onde participar: não se joga futebol sozinho, dão-se uns toques na redondinha, nada mais.

As eleições europeias são a base mais expressiva, apresentado especificidades mais claras na rotura, que de uma forma geral se conjugam quase ao extremo: através da maior distância entre eleitorado e candidatos, através do nível de conhecimento e de complexidade dos nossos interesses em jogo. Ou seja, estes, quase nenhuns.

Ora, se hoje, mesmo a nível nacional de todos os países ninguém percebe pévia do que se passa, isso resulta talvez do facto de não haver nada para perceber senão aquilo que já se percebeu.

Aqui em Portugal, por exemplo :

sabe-se - agora bem mas antes (durante muitos anos e até dias mais recentes) pouca gente pensou nisso - onde se foram buscar milhares de milhões de Euros para comprar os passivos dos Bancos falidos,

sabe-se que se tem feito uma frenética corrida à poupança em serviços públicos, muitos deles ficando praticamente inviabilizados,

sabe-se da impossibilidade de resposta à vida de milhões de portugueses que vivem abaixo do nível de pobreza,

sabe-se que o acima falado nível de pobreza está fixado através de fórmulas devidamente abstractas de interdependência que ninguém consegue entender a menos que perca uma vida a tentar destrinçar as escorregadias Leis, Despachos, Esclarecimentos, etc.

sabe-se também que os factores de cálculo sobre este limiar e outros limiares mínimos são burocraticamente alteradas à velocidade do som.

e sabe-se que existe um verdadeiro saque tributário.

Enfim...percorrendo o caminho «exemplar» das Eleições para o Parlamento Europeu e entrando nos seus sub - sectores nacionais (Eleições Presidenciais, Eleições para a Assembleia da República, Eleições Autárquicas, etc.) sabemos que estas (todas elas) servem apenas como factor de diferença quantitativa mínima, diferença essa que é praticamente nula em termos de substância e resultados palpáveis para as populações.

Assim a ausência da possibilidade de entender o que quer que seja sobre a vantagem de votar ou não votar proporciona a repetição do hábito (por isso mesmo se chama de hábito, por ser repetido) e prevê-se, facilmente aquilo que vai progressivamente acontecendo.

Ao nível que as explicações sobre a utilidade do voto (ou da abstenção) se colocam no povo, acabamos por saber que tudo é  misterioso:

umas vezes resulta tudo, pelo menos verbalmente, em milagres da multiplicação dos pães, outras vezes são o passe de mágica da desaparição do singelo pão prometido.

Eu, espero sem esperança, que algo de inesperado aconteça, porque tem de ser mesmo inesperado: na verdade das cansadas rimas e refrões propagandísticos já se sabe tudo.




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