quinta-feira, 16 de abril de 2015

A evolução da Linguagem e a Gramática - Por: Daniel Teixeira


A evolução da Linguagem e a Gramática



Por: Daniel Teixeira

Os antigos discutiam muito sobre se a gramática seria «empeiria», isto é, experiência em acto, pura e simples, ou técnica (tecnhé), quer dizer, um complexo de regras, de noções, coordenadas por um critério e destinadas a preencher uma finalidade. Todos facilmente concordaram que Gramática era uma técnica e procuraram por conseguinte construir o respectivo sistema.

O carácter normativo que acompanha a prática do ensino linguístico tinha forçosamente de levar a esta definição do conceito de gramática como um complexo de noções destinadas a um fim. Pelo próprio facto de pretender pôr o discente em condições de se servir de um meio expressivo mais cuidado e aperfeiçoado, e portanto diverso em medida maior ou menor do que lhe era fornecido pelo ambiente natural imediato, esse ensino desenvolve-se através de aperfeiçoamentos que vão das particularidades de pronúncia e da propriedade lexical, à esquematização normativa da estrutura da frase e do período em que se desdobra a actividade discursiva.

A intenção didáctica surgiu, sem qualquer espécie de dúvida, da necessidade de compreender os valores semânticos escondidos em tantas fórmulas da poesia homérica, que, com o tempo, se haviam tornado incompreensíveis.

Nunca devemos esquecer que a consciência crítica acorda na Grécia em função da exegese e da compreensão dos dois poemas que se impõem à totalidade do mundo grego como a primeira nascente de todas as verdades ( Ilíada e Odisseia ).

Enquanto a aquisição da língua se desenrola no âmbito da «empeiria» (experiência), e tendo-a por guia a tal ponto que se processa o impulso da imitação instrutiva, desde volitiva a determinado sistema expressivo, surge a necessidade de uma norma na qual o acto linguístico possa encontrar a sua plena justificação.

Neste aspecto cumpre esclarecer um pouco mais aquilo que se pretende afirmar nesta parte do texto: o facto de a aquisição da língua se processar no domínio da experiência (empeiria) não implica que a referida experiência (imitação) não tenha por pano de fundo um processo consciente e racionalizado. Não confundir experiência com costume, embora as fronteiras entre uma e outro nem sempre sejam nítidas.

Aliás, no domínio da experiência (empeiria) podemos encontrar desde o processo coordenador das sensações a que Kant chamou de pensamento até à sensação simples, ou seja, sem qualquer processo de reflexão / comparação / dedução. Que a experiência, entendida neste plano, não é acto de razão, ou seja, acto filtrado pelo intelecto , parece-nos claro.

De reparar que a gramática, pelo menos a formalização da mesma através de regras mais ou menos fixas, é posterior ao começo da escrita e da fala. Em certo sentido pode entender-se que os gramáticos, inicialmente, mais não fizeram do que recolher e ordenar as regras espontâneas já existentes e através das quais se movia já a linguagem.

A assunção da gramática, como facto definido e determinado, não nega a existência de uma gramática espontânea. O mesmo aspecto pode encontrar-se na linguagem gestual: ou seja, ela existe enquanto tal e contém em si já algumas regras que, ainda que não totalmente descritas ou fixadas, acabam por funcionar como parâmetros mínimos sistematizadores da linguagem gestual: a uns parâmetros e aos outros referidos atrás chamam-se parâmetros naturais.

A sistematização gramatical surge, assim, por necessidades didácticas. Não se pode ensinar ou aprender algo que não contenha em si um sistema seguro e a gramática esclarece a funcionalidade do sistema, fixando-o no esquema ideal, e todavia real, da norma.



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