Ode ao Quinhentão
Poema de Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS
(Esta poesia foi feita em sala de aula, durante Curso Livre de Poesias e Literatura Brasileira, no distante ano de 2000)
I
A bruxa vestida de negro
Com muitas verrugas e muitos pêlos
No nariz, pilota vassoura
Já gasta puída, careca
Que o diabo à guinchar agoura.
II
O que é o Brasil, que ninguém vê?
-Zunzuns, assovios, vastos gritos
Permeiam a mata, onde o ipê
Se destaca, belo altaneiro:
Onde mora o saci pererê.
III
Montado num porco, o caipóra
Vigia gnomos brasucas e Yara
Mãe d’água, que sonha com botos
Que atraem moças virgens pro rio...
E o curupira que vigia as matas
Por cinco e longos séculos à fio
Pra que não se façam queimadas
Nem deixar que poluam as cascatas
Onde se banha Yemanjá.
O esforço parece que é vão...
IV
Matas tantas, quantas, imensas
Manacás, mandaquis, jabotis
Mangabas, goiabas, sapotis
Que o fogo aos poucos consome...
Fechemos nossos olhos à dor
Joguemos sal por sobre os ombros
-Que vá de retro, lobisomem.
V
São os entes imaginários
Que povoam nossas cabeças
Antropofagia de mários
Provocando muitos enleios
Bois-mamão, bumbá e as mulas
Sem cabeça, são os cavalos
Marinhos, reizados, catiras
E o negrinho do pastoreio
Cabeça urbana, pés caipiras.
VI
Justifica-se o meu Brasil
Tão caboclo, caipira, gentil
Tão audaz, sereno, dolente
Esse mulato insoneiro
Ainda moço, só quinhentão
Que crê: para ser brasileiro
E preciso amansar barbatão
E com meia braça de corda
Chegar um touro ao mourão
E preciso calçar esporas
E cair muitos, muitos tombos
E sentir o ardor das chibatas
E fugir para poucos quilombos
E ter na cabeça um mote
Paciência, a mais não poder
E muito peso no cangote
Fazer verso de pé quebrado
E sofrer, viver o agora
Ser índio, ou mulato indolente
Contar «causos», onde se gabe
Que o Brasil é terra da gente!
Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS
Poema de Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS
(Esta poesia foi feita em sala de aula, durante Curso Livre de Poesias e Literatura Brasileira, no distante ano de 2000)
I
A bruxa vestida de negro
Com muitas verrugas e muitos pêlos
No nariz, pilota vassoura
Já gasta puída, careca
Que o diabo à guinchar agoura.
II
O que é o Brasil, que ninguém vê?
-Zunzuns, assovios, vastos gritos
Permeiam a mata, onde o ipê
Se destaca, belo altaneiro:
Onde mora o saci pererê.
III
Montado num porco, o caipóra
Vigia gnomos brasucas e Yara
Mãe d’água, que sonha com botos
Que atraem moças virgens pro rio...
E o curupira que vigia as matas
Por cinco e longos séculos à fio
Pra que não se façam queimadas
Nem deixar que poluam as cascatas
Onde se banha Yemanjá.
O esforço parece que é vão...
IV
Matas tantas, quantas, imensas
Manacás, mandaquis, jabotis
Mangabas, goiabas, sapotis
Que o fogo aos poucos consome...
Fechemos nossos olhos à dor
Joguemos sal por sobre os ombros
-Que vá de retro, lobisomem.
V
São os entes imaginários
Que povoam nossas cabeças
Antropofagia de mários
Provocando muitos enleios
Bois-mamão, bumbá e as mulas
Sem cabeça, são os cavalos
Marinhos, reizados, catiras
E o negrinho do pastoreio
Cabeça urbana, pés caipiras.
VI
Justifica-se o meu Brasil
Tão caboclo, caipira, gentil
Tão audaz, sereno, dolente
Esse mulato insoneiro
Ainda moço, só quinhentão
Que crê: para ser brasileiro
E preciso amansar barbatão
E com meia braça de corda
Chegar um touro ao mourão
E preciso calçar esporas
E cair muitos, muitos tombos
E sentir o ardor das chibatas
E fugir para poucos quilombos
E ter na cabeça um mote
Paciência, a mais não poder
E muito peso no cangote
Fazer verso de pé quebrado
E sofrer, viver o agora
Ser índio, ou mulato indolente
Contar «causos», onde se gabe
Que o Brasil é terra da gente!
Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS
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