Poemas de Jorge Vicente
POEMA UM; POEMA DOIS; POEMA TRES; NUVEM
POEMA UM
1.
diz o mestre ao discípulo:
reúne a cor na sua expressão
máxima e juntai-a de luz branca
só assim as aves serão
mais do que pontos negros
na copa dos dedos
2.
as crianças fogem. e do seu
cálice retomará o espírito
a sua longa caminhada
3.
fácil é a palavra que se
incendeia quando dita;
difícil o poema que dança
no colo de um vulcão
POEMA DOIS
eu digo: chamaremos as mulheres e invocaremos o sacro império do corpo. não existe
pedra maior (ou mais bela) do que aquela onde dioniso se esconde, o deus entre os
homens, a pedra ante a gélida raiz dos antepassados. formaremos uma roda e
imitaremos o som de todos os animais. todo o poema é proibido: só a origem, a
hierofania do ritual e da pele contra pele.
POEMA TRES
responde-me se ouvires os pássaros, ou se do teu interior a voz é de guerra, um
silvo constante, o boum das palavras grandes, das palavras santificadas pelo uso,
mesmo que o uso seja o apanágio da noite - aquela noite que não pertence a ninguém,
é apenas nossa e da paisagem que nos cerca:
uma casa,
a ribanceira entre as casas,
um abrigo onde o pastor se alimenta,
o caminho milenar por entre as águas do rio,
um trovão é apenas isso: uma voz sobre o alentejo,
um rumor que rompe o guadiana e nos sobra de pele
e de versos entre os relâmpagos.
sei que tudo sobra, mas a casa é só minha.
NUVEM
carrego uma nuvem às costas
como se dependesse de mim
permanecer no silêncio
naquele silêncio
que não se quer rígido
esquecendo-se do propósito de
existir e de alimentar o fogo
sossega-me ver uma casa ao
longe, adormecida no ceptro
de terra abandonada
uma casa caiada de branco, todas
as casas o são, mesmo que os olhos
roubem a realidade
e deus a ignore.
a memória verga todas as coisas,
mesmo o silencioso movimento
da não-existência.
tudo é ilusório.
a casa abraça
a ferrugem dos corpos caiados
de gestos. os dedos movimentam-se
numa sinfonia de trevas
jorge vicente
POEMA UM; POEMA DOIS; POEMA TRES; NUVEM
POEMA UM
1.
diz o mestre ao discípulo:
reúne a cor na sua expressão
máxima e juntai-a de luz branca
só assim as aves serão
mais do que pontos negros
na copa dos dedos
2.
as crianças fogem. e do seu
cálice retomará o espírito
a sua longa caminhada
3.
fácil é a palavra que se
incendeia quando dita;
difícil o poema que dança
no colo de um vulcão
POEMA DOIS
eu digo: chamaremos as mulheres e invocaremos o sacro império do corpo. não existe
pedra maior (ou mais bela) do que aquela onde dioniso se esconde, o deus entre os
homens, a pedra ante a gélida raiz dos antepassados. formaremos uma roda e
imitaremos o som de todos os animais. todo o poema é proibido: só a origem, a
hierofania do ritual e da pele contra pele.
POEMA TRES
responde-me se ouvires os pássaros, ou se do teu interior a voz é de guerra, um
silvo constante, o boum das palavras grandes, das palavras santificadas pelo uso,
mesmo que o uso seja o apanágio da noite - aquela noite que não pertence a ninguém,
é apenas nossa e da paisagem que nos cerca:
uma casa,
a ribanceira entre as casas,
um abrigo onde o pastor se alimenta,
o caminho milenar por entre as águas do rio,
um trovão é apenas isso: uma voz sobre o alentejo,
um rumor que rompe o guadiana e nos sobra de pele
e de versos entre os relâmpagos.
sei que tudo sobra, mas a casa é só minha.
NUVEM
carrego uma nuvem às costas
como se dependesse de mim
permanecer no silêncio
naquele silêncio
que não se quer rígido
esquecendo-se do propósito de
existir e de alimentar o fogo
sossega-me ver uma casa ao
longe, adormecida no ceptro
de terra abandonada
uma casa caiada de branco, todas
as casas o são, mesmo que os olhos
roubem a realidade
e deus a ignore.
a memória verga todas as coisas,
mesmo o silencioso movimento
da não-existência.
tudo é ilusório.
a casa abraça
a ferrugem dos corpos caiados
de gestos. os dedos movimentam-se
numa sinfonia de trevas
jorge vicente
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