Tabuí e seus Causos
A MENINA E AS CABRAS
Numa manhã tranquila numa cidadezinha do sul das Minas Gerais, o padre estava em frente à igreja quando viu passar uma garotinha de uns nove ou dez anos, pés descalços, franzina, meio subnutrida, ar angelical, conduzindo umas seis ou sete cabras.
Era com esforço que a garotinha conseguia reunir as cabras e fazê-las caminhar.
O padre observava a cena. Começou a imaginar se aquilo não era um caso de exploração de trabalho infantil e foi conversar com a menina.
– Olá, minha jovem. Como é o seu nome?
– Rosineide, seu padre.
– O que é que você está fazendo com essas cabras, Rosineide?
– É pro bode cobrir elas, seu padre. Tô levando elas lá pro sítio de seu João.
– Me diga uma coisa, Rosineide, seu pai ou seu irmão não podiam fazer isso?
– Pode não, seu padre! Já fizeram… Mas num dá cria… Tem que ser um bode mesmo!
ACARMÔ?!…
Numa estradinha, o mineirim, dono de um alambique, vem dirigindo seu carrim véio e “entra com tudo” na traseira de uma BMW novinha em folha.
O dono da BMW sai que é uma fera pra cima do mineirim, que diz:
– Carma moço, tudo se resorve…
– Resolve nada, seu mineirim duma figa!
– Carma, moço! Toma uma aqui da minha fazenda, é da boa… o sinhô vai si acarmá logo.
O cara toma uma.
– Acarmô?
– Acalmei nada!
– Então toma mais uma…
E assim foi. Depois de uma meia dúzia, o mineirim pergunta:
– Acarmô?
– Sim, agora sim!
– Intão agora nóis vamu sentá aqui, chamá a pulícia pra fazê o tar di bafômetro, pramodi vê quem tá errado, tá bão?
MARIDO MADRUGADOR
O Euzébio era danado pra chegar em casa tarde da noite, depois de ter tomado umas no Copo Sujo e ficado na esbórnia. Chegava, tirava os sapatos e ia bem devagarzinho pra cama, pois que a sua mulher, a Fadalarete era famosa por ter o sono pesado.
Mas naquela madrugada, assim que o Euzébio tropeçou no penico esmaltado, Fadalarete virou-se na cama, exatamente quando ele desabotoava a camisa pra se deitar. Confundindo tudo, ela perguntou:
- Onquiocê tá ino tão cedo, meu bem?
- Ah, amô... Pensano bem, cê sabe quiocê tem razão? Vô é durmi mais um tiquim, né?
CALENDÁRIO DE CONFISSÕES
Padre Anacleto tava cansado de todas as manhãs ter que ouvir os pecados das suas ovelhas. Idoso, saúde precária, barriga grande, pernas inchadas...
Era sacrifício demais ouvir os mesmos pecados e dar os mesmos conselhos pras mesmas ovelhas, algumas de todos os dias.
Depois de muito craniar, teve uma ideia. Organizou um roteiro para as confissões e já no domingo seguinte comunicou à comunidade em forma de cartaz, pregado pelo sacristão na porta de saída da igreja.
“A partir de agora as confissões devem obedecer ao seguinte calendário, de acordo com o pecado:
Segunda-feira – fofoqueiras e mentirosas
Terça-feira – preguiçosas e ladras
Quarta-feira – quem fala mal da vida alheia
Quinta-feira – infiéis ao marido e portadoras de maus pensamentos
Sexta-feira – bêbadas e comilonas
Sábado – hipócritas e outros pecados
Domingo – descanso do padre”
Desse dia em diante a turma do confessionário diminuiu drasticamente, sobrando mais tempo para o padre Anacleto descansar e curtir as suas doenças.
©By Eurico de Andrade, in Tabuí e seus Causos
A MENINA E AS CABRAS
Numa manhã tranquila numa cidadezinha do sul das Minas Gerais, o padre estava em frente à igreja quando viu passar uma garotinha de uns nove ou dez anos, pés descalços, franzina, meio subnutrida, ar angelical, conduzindo umas seis ou sete cabras.
Era com esforço que a garotinha conseguia reunir as cabras e fazê-las caminhar.
O padre observava a cena. Começou a imaginar se aquilo não era um caso de exploração de trabalho infantil e foi conversar com a menina.
– Olá, minha jovem. Como é o seu nome?
– Rosineide, seu padre.
– O que é que você está fazendo com essas cabras, Rosineide?
– É pro bode cobrir elas, seu padre. Tô levando elas lá pro sítio de seu João.
– Me diga uma coisa, Rosineide, seu pai ou seu irmão não podiam fazer isso?
– Pode não, seu padre! Já fizeram… Mas num dá cria… Tem que ser um bode mesmo!
ACARMÔ?!…
Numa estradinha, o mineirim, dono de um alambique, vem dirigindo seu carrim véio e “entra com tudo” na traseira de uma BMW novinha em folha.
O dono da BMW sai que é uma fera pra cima do mineirim, que diz:
– Carma moço, tudo se resorve…
– Resolve nada, seu mineirim duma figa!
– Carma, moço! Toma uma aqui da minha fazenda, é da boa… o sinhô vai si acarmá logo.
O cara toma uma.
– Acarmô?
– Acalmei nada!
– Então toma mais uma…
E assim foi. Depois de uma meia dúzia, o mineirim pergunta:
– Acarmô?
– Sim, agora sim!
– Intão agora nóis vamu sentá aqui, chamá a pulícia pra fazê o tar di bafômetro, pramodi vê quem tá errado, tá bão?
MARIDO MADRUGADOR
O Euzébio era danado pra chegar em casa tarde da noite, depois de ter tomado umas no Copo Sujo e ficado na esbórnia. Chegava, tirava os sapatos e ia bem devagarzinho pra cama, pois que a sua mulher, a Fadalarete era famosa por ter o sono pesado.
Mas naquela madrugada, assim que o Euzébio tropeçou no penico esmaltado, Fadalarete virou-se na cama, exatamente quando ele desabotoava a camisa pra se deitar. Confundindo tudo, ela perguntou:
- Onquiocê tá ino tão cedo, meu bem?
- Ah, amô... Pensano bem, cê sabe quiocê tem razão? Vô é durmi mais um tiquim, né?
CALENDÁRIO DE CONFISSÕES
Padre Anacleto tava cansado de todas as manhãs ter que ouvir os pecados das suas ovelhas. Idoso, saúde precária, barriga grande, pernas inchadas...
Era sacrifício demais ouvir os mesmos pecados e dar os mesmos conselhos pras mesmas ovelhas, algumas de todos os dias.
Depois de muito craniar, teve uma ideia. Organizou um roteiro para as confissões e já no domingo seguinte comunicou à comunidade em forma de cartaz, pregado pelo sacristão na porta de saída da igreja.
“A partir de agora as confissões devem obedecer ao seguinte calendário, de acordo com o pecado:
Segunda-feira – fofoqueiras e mentirosas
Terça-feira – preguiçosas e ladras
Quarta-feira – quem fala mal da vida alheia
Quinta-feira – infiéis ao marido e portadoras de maus pensamentos
Sexta-feira – bêbadas e comilonas
Sábado – hipócritas e outros pecados
Domingo – descanso do padre”
Desse dia em diante a turma do confessionário diminuiu drasticamente, sobrando mais tempo para o padre Anacleto descansar e curtir as suas doenças.
©By Eurico de Andrade, in Tabuí e seus Causos
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