quinta-feira, 9 de julho de 2015

Poesia de Jorge Vicente


Poesia de Jorge Vicente

YESOD

assim como em baixo, também em cima,
o fundamento de sermos apenas homens,
e não seres votados à magia.
deixemos os anjos murmurar as nossas
preces e vivamos incólumes ao medo:
se vacilarmos, apenas resta o desconsolo
de quem viveu acima da praia, na vertigem
das arcadas, pedaços de pedra transparentes,
sem pele.

sou inteiro em baixo como o sou em cima,
revejo-me no silencioso embaraço que tudo
esconde sem nada demonstrar.

para quê o cosmos se tenho em mim o
fundamento de toda a existência? a
roda do meu destino.

Jorge Vicente


MALKUTH

o rei desperta. sem as silvas a silenciar
a fonte apenas um olhar sorrateiro ao
redor das águas. caminha comigo por entre
os corpos que te envolvem e traz a taça
dourada. olha-me nos olhos e inventa-te no
gesto.

sê pescador de almas e escreve-me um poema
de rochas.

não há genocídio no interior da pedra.
apenas a voz do cego e do louco que
sabe tudo sem se ver.

Jorge Vicente


GEBURAH

a cidade procura-me
no atrito dos corpos caídos
aspiro às ruínas das pedras velhas
à calçada gasta pelas olheiras dos
lábios

são dois os corpos que se encontram
em mim não existe dualidade
senão no julgamento infinito do
teu rosto.

Jorge Vicente



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