A árvore das palavras
De Teolinda Gersão
Por Arlete Deretti Fernandes
Teolinda Gersão nasceu em Coimbra, estudou Germanística e Anglística nas Universidades de Coimbra, Tuebingen e Berlim. Foi leitora de Português na Universidade Técnica de Berlim, docente da Faculdade de Letras de Lisboa e posteriormente professora catedrática na Universidade Nova de Lisboa, onde lecionou Literatura alemã e Literatura Comparada até 1995.
Doutorou-se em 1976 defendendo uma tese intitulada Alfred Doblin: Indivíduo e Natureza. Teolinda começou a escrever com apenas catorze anos. Influenciada por formas várias de cultura e, dentro destas, pelo contato com diversos mundos (citadino e rural), a sua escrita está marcada pelas viagens e estadas em diferentes lugares, entre os quais se salientam a Africa e o Brasil.
Autora de nove livros ganhou os principais prêmios literários portugueses. Sua obra foi traduzida para o inglês, francês, alemão, holandês, espanhol e romeno.
Três de seus livros foram adaptados ao teatro e levados à cena, Os teclados e os Anjos, em Lisboa. A Casa da Cabeça de Cavalo, no Teatro Nacional de Bucareste, na Roménia.
De Teolinda Gersão
Por Arlete Deretti Fernandes
Teolinda Gersão nasceu em Coimbra, estudou Germanística e Anglística nas Universidades de Coimbra, Tuebingen e Berlim. Foi leitora de Português na Universidade Técnica de Berlim, docente da Faculdade de Letras de Lisboa e posteriormente professora catedrática na Universidade Nova de Lisboa, onde lecionou Literatura alemã e Literatura Comparada até 1995.
Doutorou-se em 1976 defendendo uma tese intitulada Alfred Doblin: Indivíduo e Natureza. Teolinda começou a escrever com apenas catorze anos. Influenciada por formas várias de cultura e, dentro destas, pelo contato com diversos mundos (citadino e rural), a sua escrita está marcada pelas viagens e estadas em diferentes lugares, entre os quais se salientam a Africa e o Brasil.
Autora de nove livros ganhou os principais prêmios literários portugueses. Sua obra foi traduzida para o inglês, francês, alemão, holandês, espanhol e romeno.
Três de seus livros foram adaptados ao teatro e levados à cena, Os teclados e os Anjos, em Lisboa. A Casa da Cabeça de Cavalo, no Teatro Nacional de Bucareste, na Roménia.
BREVE COMENTARIO SOBRE SUAS OBRAS
Esta autora abriu caminho para o romance contemporâneo em Portugal. Seus livros mostram aspectos da sociedade contemporânea, mesmo quando a ação é transportada para épocas diferentes.
Em quase todas as suas obras aparecem dois mundos diferentes, o do homem e o da mulher. Esta diferença é o resultado da opressão da sociedade que obriga os dois sexos a conformarem-se com papéis convencionados.
Teolinda conheceu Moçambique em 1960 e, mais tarde, durante o processo de escritura do livro Arvore das Palavras, regressou para poder «reconstruir com detalhe uma cidade que ainda não existe», e para recordar a espiritualidade e filosofia de vida de um continente que «me ensinou o respeito pela natureza e que não existem culturas superiores nem inferiores, senão culturas diferentes».
Esta autora abriu caminho para o romance contemporâneo em Portugal. Seus livros mostram aspectos da sociedade contemporânea, mesmo quando a ação é transportada para épocas diferentes.
Em quase todas as suas obras aparecem dois mundos diferentes, o do homem e o da mulher. Esta diferença é o resultado da opressão da sociedade que obriga os dois sexos a conformarem-se com papéis convencionados.
Teolinda conheceu Moçambique em 1960 e, mais tarde, durante o processo de escritura do livro Arvore das Palavras, regressou para poder «reconstruir com detalhe uma cidade que ainda não existe», e para recordar a espiritualidade e filosofia de vida de um continente que «me ensinou o respeito pela natureza e que não existem culturas superiores nem inferiores, senão culturas diferentes».
Para a escritora escrever é um jogo, uma maneira de organizar sentimentos, de encontrar uma unidade; confessa que lhe dá imenso trabalho, pois escreve uma primeira versão, depois reescreve e volta a reelaborar, mas este trabalho lhe dá imenso prazer.
A aposta da escritora vai para a qualidade e não para a quantidade, considera um livro acabado quando percebe que não pode fazer mais nada, portanto é bastante perfeccionista, não se importando com o tempo que leva para escrevê-lo.
O livro só é conseguido quando o escritor sente que domina o mundo que construiu, ou seja, é o próprio livro que determina o seu ritmo e tempo de elaboração.
Ela sabe que não é fácil escrever um livro, considera que a experiência faz com que a escrita se torne mais difícil, aumenta a exigência, mas também aumenta o prazer.
Pensa que a condição essencial para se ser um escritor é ter uma perspectiva própria das coisas, uma relação mais estreita com determinados temas e por fim ter a capacidade de dar e não de receber atenção. Escrever é também ser capaz de escutar o mundo.
A Arvore das Palavras é uma narrativa composta de 3 capítulos desprovidos de títulos, cuja variação de tamanho vai de 32,25 e 28 páginas respectivamente. A 1ª edição foi em 1997. Nela retrata a história de uma família, a cultura e a sociedade de Moçambique antes e durante a guerra colonial que precedeu a revolução portuguesa de 1974.
Por quê este livro tem o nome de «A arvore das palavras»?
Na Africa a árvore encarna a sabedoria, lembra Hutin. Sentado à sua sombra, gerações transmitem histórias seculares. O baobá é uma árvore símbolo do continente. O maior é o baobá de Sagole (Província de Limpopo, Africa do Sul), que tem 38 metros de circunferência e cerca de três mil anos de idade.
«Baobá, árvore símbolo da Africa retrata a savana africana, sua flor mede 20 centímetros, tem cheiro de Almíscar e quando seca, seus galhos parecem raízes».
CONTEXTO HISTORICO
Os portugueses chegam a Moçambique no final do século XV. Pero de Covilhã foi o primeiro português que fez contato com esta região em 1489, recolhendo informações sobre o tráfico e a navegação a mando de D. João II. Os primeiros produtos explorados foram marfim, cobre e escravos.
No século XVII vêm possessões na costa oriental da Africa. Foram atacados ao norte pelos árabes e ao sul pelos holandeses, assim é o fim das feitorias portuguesas. Os portugueses concentraram-se em Moçambique no século seguinte, mas não é fácil, pois há uma disputa entre as potências européias e os indígenas resistem à ocupação.
Em 1752 Moçambique passa a ter estatuto administrativo, «Governo e Capitania Geral de Moçambique Sofala, Rio de Sena», a exploração de escravos toma impulso. E sofre ataques piratas. Na primeira metade do século XIX há um verdadeiro reservatório de mão de obra para a exploração das colônias vizinhas. O centro político de Moçambique desloca-se para o sul começando a relação tipo capitalismo.
Os portos de Maputo (Lourenço Marques) e da Beira eram os portos de entrada e saída dos produtos da Rodésia. Após a 2ª guerra a idéia de descolonização começa e as colónias da Grã Bretanha são as primeiras. Mas, Portugal se opõe ao movimento.
Nos anos cinqüenta surgem os movimentos que defendem a independência de Moçambique e em 1964 começa a Guerra de Libertação conduzida pela Fremlimo, (Frente pela Libertação de Moçambique), que termina nos anos seguintes. A independência foi proclamada em 1975.
ESPACO ONDE SE PASSA O ROMANCE: Moçambique
TEMPO: Outro aspecto central é a atenção dada ao tempo, quer seja na estrutura narrativa ou no tempo histórico onde ocorre.: os anos 50 e 60 do século XX. Os fatos históricos são todavia encarados numa perspectiva que transcende a sua época e os situa em ligação com a atualidade. O tempo não é linear, tanto psicológico como histórico.
A autora utilizou uma das técnicas mais conhecidas utilizadas na narrativa do tempo psicológico, o flashback, que consiste em voltar no tempo. Há uma mistura de acontecimentos presentes e passados – e até futuros -, quebrando a continuidade «natural» dos acontecimentos.
LINGUAGEM – O livro está escrito com uma linguagem «muito criativa e um estilo pessoal», usando um novo tipo de linguagem, que faz sentir o leitor mais próximo da vida: mais oralizante, do cotidiano, com um ritmo poético e metafórico que confere vivacidade às palavras. Por exemplo: Moçambique retratada por Teolinda, metaforicamente, pode ser qualquer país africano colonizado por um país europeu.
O próprio título da obra em várias passagens do livro: «Ou sentava-se debaixo da árvore do quintal e falava com o vento e as folhas. A árvore abanava os ramos e eu pensava: a árvore das palavras.» (p. 32).«Eu sou, dizia a árvore agitando os ramos, a semente abrindo no escuro, a água apodrecendo nas lânguas, a floresta dormindo. Eu sou.» (p. 50).
A característica principal de sua escrita é o fragmentário e o simbólico, no qual a imaginação se sobrepõe à realidade. Foi mantida a grafia vigente em Portugal.
FOCO NARRATIVO- Predomina na escrita os flashes da memória, o fluxo da consciência e uma alternância do foco narrativo. São marcantes as mudanças abruptas do foco narrativo; ela é firmemente conduzida em 1ª pessoa pela personagem Gita. Porém, em outros momentos ela é transmitida por outros personagens da história., como por exemplo: Amélia, a mãe portuguesa; Laurano (pai); Lóia, (a ama-de-leite negra); Rodrigo, o namorado rico.
TEMA – Racismo, diversidade cultural, descoberta do amor, luta pela liberdade.
PERSONAGENS – São seis, quatro mulheres e dois homens.
A Narrativa desenvolve-se através da personagem Gita, protagonista, apresentando as suas reflexões em dois momentos; quando criança, sem reflexões desenvolvidas, simplesmente o olhar infantil sentindo as sensações que a levam a integrar-se ao mundo negro através de sua ama-de-leite que a alimenta com o «sangue negro» e com o cotidiano da «Casa Preta» que Lóia representa.
O quintal para Gita representa a Africa que ela ia absorvendo com o passar do tempo. A personagem Lóia e sua Orquídea representam o universo e a cultura africana, os colonizados, é a Casa Preta. A protagonista vai consumindo e passando a fazer parte do seu universo de criança.
A protagonista embora tenha digerida a cultura africana sempre conviveu com o outro lado: a Casa Branca sendo representada por sua mãe Amélia, que representa o pensamento do colonizador.
Temos na figura de Amélia e de Lindóia as duas faces da moeda: a do colonizador e a do colonizado, isto é a primeira está inserida em uma família preta e branca. Gita e Laureano, na Casa Preta, pois se identificam com a cultura africana e ela, a branca, «o pensamento colonizador», despreza, nega a cultura e discrimina os negros. Ela não faz parte dos colonizadores, pois é de família pobre que também é discriminada por aqueles que estão no poder em Moçambique.
Amélia discrimina os negros, nega a cultura africana, quer ficar o mais longe possível deles. Mas ela faz parte da família portuguesa pobre que vive em Lourenço Marques e assim como os negros são também desprezados e só servem para prestar serviços aos mais ricos.
Gita, e o pai correspondem à cultura africana. Mas ela sabe das diferenças que existem entre brancos e negros, pois presenciou na sua infância e percebe também que ela está do lado dos brancos, isto é, tem uma posição mais favorável do que os negros e sabe também reconhecer a grandeza africana. Seu pai também a ensinou a questionar o governo português.
Estes questionamentos a levam a pensar mais tarde na guerra colonial que acontece e que ela narra. Ela também tem consciência da discriminação que existe na cultura africana e faz pensar na luta pela independência de Moçambique mesmo quando adolescente.
A personagem ao brigar com o namorado sente a discriminação, pois ao dizer que estava grávida, ele lhe apresenta a idéia de aborto.
Gita resolve continuar seus estudos em Lisboa e tem consciência do que vai enfrentar na casa de seu tio, vivendo de favor. Mas persegue seu objetivo, assim como em Moçambique iria sofrer com as modificações que ocorriam pela luta do poder.
PALAVRAS FINAIS
Este romance transparece as adversidades sociais que sofrem os negros nativos, bem como os brancos pobres que foram para a Africa por não terem encontrado em sua própria terra, Portugal, horizontes para uma vida melhor e possibilidades de ser feliz.
A Africa como um lugar para todos os negros foi mais uma invenção do pensamento ocidental, (Appiah, Na casa de meu pai p. 42). Não se levou em consideração a pluralidade cultural dos povos que constituem o continente africano. Segundo a visão européia, todos os negros eram da mesma raça, logo, todos os africanos eram iguais, possuíam uma africanidade compartilhada. Considera-se um grande equívoco este pensamento ao deparar-se com as diversas culturas que constituem o continente africano; culturas diferentes que completam, preenchem e solidificam o continente africano.
A mulher negra africana, diferente das mulheres européias, que possuíam estigmas de como portarem-se e serem alguém dentro da sociedade, possui já uma cultura que a inferioriza e a maltrata por sua condição subjetiva de ser mulher. Sabe-se que é esta mesma mulher que cuida dos filhos, que faz o trabalho braçal e é vista e obrigada a servir o homem negro.
A mulher negra moçambicana já vinha sendo dominada antes mesmo da colonização. Era colonizada duplamente, por uma sociedade patriarcal já instituída e pelo novo colonizador. Muitas vezes, então, largada com os filhos, quando o marido ia tentar a sorte em outras regiões. Um grande número de mulheres da Africa procuram no suicídio a sua libertação, por não suportarem e nem ao menos saberem quais são as suas possibilidades como indivíduos. (RICH, Adriana, Gênero, identidade e desejo).
Elas não pensam ou refletem sobre a vida, procuram sustentar suas crenças e costumes e cultivar suas culturas subordinadas ao destino. E é para elas, como relata o livro, que os homens retornam quando perdem seu norte, sua direção. A mulher negra luta para manter um teto seu, de sua prole e também de seu marido.
Referências:
APPIAH, Na casa de meu pai
GERSAO, Teolinda. A árvore das Palavras. Ed. Planeta do Brasil, 2004.
RICH, Adriana, Gênero,identidade e desejo.
Wikipédia.
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