domingo, 26 de julho de 2015

Estudo do Livro «Memórias Póstumas de Brás Cubas», de Machado de Assis.- Arlete Deretti Fernandes


Estudo do Livro «Memórias Póstumas de Brás Cubas», de Machado de Assis.

 

 Arlete Deretti Fernandes



 A forma errática e o olhar de classe.

- Brás Cubas, era filho de uma família que não era nobre, mas se fez de nobre. Voltado às aparências. Tinha a mentalidade da classe aristocrática: - Queria subir e ser deputado.

 Eugênia, significa a sociedade da época.

-E é preciso saltar fora da visão de Brás Cubas personagem, senão ficamos restritos. Necessário é interpretar o que Machado quer dizer e aonde quer chegar. Este livro traz uma extraordinária percepção psicológica e sociológica em relação à sociedade do século XIX.

 Memórias Póstumas de Brás Cubas, é considerado o primeiro grande romance da Literatura Brasileira, e, a primeira Obra Prima do século XIX, segundo Roberto Schwarz.

 Este romance quebra radicalmente com as formas do romance romântico e também naturalista. Quem ousou até então escrever um capítulo como o LV, «O Velho Diálogo de Adão e Eva»?

Machado não é linear neste romance, segue a forma ziguezagueante. Os episódios são difusos e fragmentados. São sub - enredos, várias histórias numa só. Ele diz que seu estilo é ébrio. São capítulos curtos, alguns de resistencias. Quebra com a verosimilhança.

 O texto é todo quebrado, não tem começo nem fim. O primeiro capítulo já é o óbito do personagem. O leitor comum do século XIX muito deve ter estranhado. Machado quer reinventar o mundo e rompe com uma tradição da época.




 A Sátira menipéia é um gênero clássico antigo, mas marginal, as sátiras misturam prosa e verso. Machado leu esta tradição marginal do Ocidente em Satiricon. Esta sátira foi um de seus pontos de apoio.

 Brás Cubas é o narrador, personagem da classe dominante, que espezinha os outros. Machado tem uma grande necessidade de brincar com o leitor, de explicar. Logo no primeiro capítulo quer se distinguir de Moisés, da Bíblia, dizendo que será mais original que o Pentatêuco.

 O narrador vai tendo variações em seu personagem de primeira pessoa, ora é sério, ora é irreverente. Ora é cínico e tem uma intimidade com o leitor, até o desrespeita quando vai alterando o personagem que compunha na frase anterior, como se fosse uma «volubilidade narrativa». Este romance tem vários sub-enredos, na forma de pequenos contos intercalados e unidos pela memória do defunto.

 Em 1814 ocorre o episódio com a empregada de Virgília, dona Plácida. Esta acabou sendo alcoviteira e morreu na miséria. O pai queria que se casasse com Dona Virgília porque esta era da alta sociedade.

 Euzébia era a mãe de Eugênia e conservou sua dignidade até o fim.

 O negro Prudêncio era um escravo que serviu de cavalo para o menino, e mais tarde conta a Brás que a mãe de Eugenia mora ali.

 Prudêncio foi alforriado por Brás. Este, um dia o encontra livre, mas conta a Brás que comprou um escravo para si e o maltrata, descarregando o que fizeram para ele, representando aí a sociedade contaminada pela escravidão.

 No capítulo sobre O Rei dos Tártaros, parece incompreensível, mas significa que o Brasil usou tanto a escravidão que se contaminou.

 Marcela, era uma menina bonita e pobre, que vivia da prostituição. Primeiro explorou Xavier, depois Brás. O sistema fazia com que Marcela se prostituísse.

 Eugênia, começa no capítulo XII, «filha da moita», de família pobre, morre na miséria. Seu defeito social aparece como físico, no romance.

 Há um absoluto cinismo no capítulo das botas, quando Brás se livra de Eugênia.(as botas apertadas); A borboleta era preta, se fosse azul, seria diferente.

 Lobo Neves, Cotrim e Brás representam a camada superior.

 No capítulo XXI, denominado «O Almocreve», Brás Cubas se torna um representante típico da classe dominante brasileira, revelando aí seu caráter: - Qualquer coisa satisfaz a quem está abaixo.

 No capítulo XVII e XVIII, entra Virgília . Ela é comparada a uma borboleta azul. Machado vai intercalando estas histórias. Organiza este romance de forma solta, não sabemos se é cinismo ou brincadeira.

 Este romance é escrito sob a visão dos proprietários, dos opressores, mas com a intenção de mostrar o mal que exercia a classe dominante sobre os dominados. O personagem Brás Cubas faz um uso brutal das pessoas, é uma figura cruel e bárbara. O mundo da dependência e do favor é de todos os momentos, é o dia complicado da população. Segundo Schwarz, «um enredo sem culminação, que caminha em direção ao cansaço».

Não são fatos notáveis, com pouca individualização, o que também é um traço especial na modernidade de Machado de Assis.




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