domingo, 12 de julho de 2015

A hora e vez do Romi-Isetta - Texto de Cecílio Elias Netto


A hora e vez do Romi-Isetta

 Texto de Cecílio Elias Netto

 
 Em 1955, a indústria Romi (barbarense) construiu o carro mais inteligente que podia existir. Mas foi esmagada pela estúpida indústria de carrões.

 Foi em 1956 que surgiu, no Brasil – e fabricado pelas Indústrias Romi, barbarenses – o revolucionário carro Romi-Isetta. Era o primeiro veículo produzido nacionalmente. O visionário Emílio Romi conseguiu, em 1955 – da empresa italiana Isso, que o idealizara – o direito de construção no Brasil. Tratava-se de um veículo de praticidade espetacular, mais ainda do que o já minúsculo Fusca. O automóvel de Emílio Romi era para duas pessoas, com portas que se abriam pela frente, atingindo velocidade de até 85km/h, com consumo de combustível de 25 km. por litro.

 Seus idealizadores, ainda no pós-guerra, haviam imaginado um veículo pequeno, seguro, barato, que atendesse as necessidades de famílias pequenas, de estudantes, de operários. Tratava-se de um carro mais para circulação urbana, digamos que para uso individual. E o sucesso foi imediato na Europa. Foi como se a Isso italiana – e o barbarense Emílio Romi – tivessem previsto o que haveria de acontecer, com a desvairada fabricação de carrões imensos e pouco inteligentes. Aliás, o próprio Henry Ford – há 90 anos – advertiu e reconheceu: «A cidade está condenada».


O Romi-Isetta durou muito pouco tempo. Acho que até 1961. Foi esmagado pelo poderio das bilionárias empresas automobilísticas que se instalavam no Brasil após a abertura dada por Juscelino Kubitschek. O preço daquele desenvolvimento alucinado foi a morte da razão em favor da ambição. A realidade foi construída para um crescimento desordenado no qual a pessoa humana não foi levada em conta. Como o próprio Marx previra, o capitalismo – depois de conseguir o máximo de onde se instalou – iria em busca de novas oportunidades, novos povos, novas terras. Nos 1960, a América do Sul tornou-se cobiça internacional. Em relação à mobilidade urbana e interurbana, as grandes vítimas foram: os trens, os bondes e o Romi Isetta.

 Atualmente, os carros pequenos – adequados aos graves problemas atuais – começam a ser, inteligentemente, construídos e usados especialmente na Europa. Aqui mesmo em Piracicaba, já circulam alguns. O Japão está em vias de lançar – se já não o fez – o pequeno automóvel dobrável, que se fecha, para estacionar, como duas páginas de caderno. Ou seja: há, sim, vida inteligente no mundo. Preocupações legítimas. E buscas de soluções racionais, de ordem prática, imaginativas, criativas.

 Estamos diante, novamente, da vez e da hora do Romi-Isetta. Piracicaba jamais teria a imaginação de participar dessa experiência inteligente de redescobrir que «menos pode ser mais». Pelo contrário. A vocação política dos últimos tempos parece ser a favor da burrice. Vai daí, passamos a produzir, orgulhosamente, grandes, imensos carrões. E quase ninguém percebeu estarmos próximos da hora em que exibi-los nas ruas, ostentá-los será humilhante e vergonhoso. Que se há de fazer? Bom dia.


 
O Romi-Isetta foi o primeiro automóvel produzido no Brasil, entre 1956 e 1961, pelas Indústrias Romi S.A., com sede em Santa Bárbara d'Oeste, interior de São Paulo.
 
 
 

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