COLUNA POÉTICA DE MARIA PETRONILHO
Que o vento me levante!; Jaz o semeador na seara; O Poeta Palhaço
Que o vento me levante!
Docemente
me eleve
acima de toda a pena
na sua diáfana
asa
proteja
da dor salgada
entranhe
no azul profundo
leve
as cinzas magoadas
na busca
de nuvens brancas
onde
repouse a fronte
adormeça e acorde
sossegue
de onde volte
renascida
para cantar a ternura
e
saudar a primavera
na luz que a todos afaga,
aspergindo amor na Terra!
Jaz o semeador na seara
Há gente que
quando parte
deixa o mundo tão mais pobre!
tu, semeaste searas de verde esperança
nas terras que a guerra devastava.
tu foste onde não se ousava
enfrentar a amargura
onde quer que ela grassava.
Eras bandeira de esperança,
semeador de ventura
Hoje ceifou-te a loucura.
Jazes no chão, qual papoila
que os campos iluminava!
(Homenagem a Sérgio Vieira de Mello, diplomata brasileiro assassinado em Bagdad)
O Poeta Palhaço
Poeta, conto-te um caso
Que conheço bem de perto:
Era uma vez um palhaço
Pobre e roto, caricato,
De narizinho redondo
De um carmesim esfolado.
Entrava em cena quando
Nos bastidores do circo
Se maquilhava um outro
Que usava fato bordado
Riso pintado no rosto
Chapéu como o de Tartufo
Cantava em voz de contralto...
O palhaço de que falo
Voava em cada salto
Como se o levasse um sonho
Não se ria no entanto
E ficava sempre mudo.
Quando se achava no escuro,
Ficava vazio o circo,
Encolhia-se num canto
Abria a voz de seu pranto
E sozinho, libertado,
Tirava um papel do bolso
E, com o dedo lambuzado,
No suor do próprio rosto,
Ia escrevendo, escrevendo
Em poemas, seu calvário
De pobre palhaço risonho,
Enfim assumindo o vulto
Dessoutro sério, tristonho.
Encolhido no seu canto,
Descobria enfim o choro
Do ai profundo, seu Fado
Ser poeta alistado
De peito dilacerado...
Esquecendo então ser mudo
Soava o alto carpido
Estremecido, enfim solto.
Mau grado tendo o pano
Da tenda para abafá-lo,
Soava tão dolorido
Que alarmava todo o povo
Perturbando-lhe o sono.
Mal o amanhecia o dia
Punha-se a varrer a areia
E ao papel que escrevera,
Usando a tinta da cara,
Em confetes o rasgava;
Ia enfim lavar a cara
E de novo, pintalgava
um semblante de alegria.
Tomava assento a plateia
Entrava o palhaço em cena
... No brilho da noite, ria!
Que o vento me levante!; Jaz o semeador na seara; O Poeta Palhaço
Que o vento me levante!
Docemente
me eleve
acima de toda a pena
na sua diáfana
asa
proteja
da dor salgada
entranhe
no azul profundo
leve
as cinzas magoadas
na busca
de nuvens brancas
onde
repouse a fronte
adormeça e acorde
sossegue
de onde volte
renascida
para cantar a ternura
e
saudar a primavera
na luz que a todos afaga,
aspergindo amor na Terra!
Jaz o semeador na seara
Há gente que
quando parte
deixa o mundo tão mais pobre!
tu, semeaste searas de verde esperança
nas terras que a guerra devastava.
tu foste onde não se ousava
enfrentar a amargura
onde quer que ela grassava.
Eras bandeira de esperança,
semeador de ventura
Hoje ceifou-te a loucura.
Jazes no chão, qual papoila
que os campos iluminava!
(Homenagem a Sérgio Vieira de Mello, diplomata brasileiro assassinado em Bagdad)
O Poeta Palhaço
Poeta, conto-te um caso
Que conheço bem de perto:
Era uma vez um palhaço
Pobre e roto, caricato,
De narizinho redondo
De um carmesim esfolado.
Entrava em cena quando
Nos bastidores do circo
Se maquilhava um outro
Que usava fato bordado
Riso pintado no rosto
Chapéu como o de Tartufo
Cantava em voz de contralto...
O palhaço de que falo
Voava em cada salto
Como se o levasse um sonho
Não se ria no entanto
E ficava sempre mudo.
Quando se achava no escuro,
Ficava vazio o circo,
Encolhia-se num canto
Abria a voz de seu pranto
E sozinho, libertado,
Tirava um papel do bolso
E, com o dedo lambuzado,
No suor do próprio rosto,
Ia escrevendo, escrevendo
Em poemas, seu calvário
De pobre palhaço risonho,
Enfim assumindo o vulto
Dessoutro sério, tristonho.
Encolhido no seu canto,
Descobria enfim o choro
Do ai profundo, seu Fado
Ser poeta alistado
De peito dilacerado...
Esquecendo então ser mudo
Soava o alto carpido
Estremecido, enfim solto.
Mau grado tendo o pano
Da tenda para abafá-lo,
Soava tão dolorido
Que alarmava todo o povo
Perturbando-lhe o sono.
Mal o amanhecia o dia
Punha-se a varrer a areia
E ao papel que escrevera,
Usando a tinta da cara,
Em confetes o rasgava;
Ia enfim lavar a cara
E de novo, pintalgava
um semblante de alegria.
Tomava assento a plateia
Entrava o palhaço em cena
... No brilho da noite, ria!
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