domingo, 26 de julho de 2015

Crónica de José Pedreira da Cruz - As Cerejeiras do Japão


Crónica de José Pedreira da Cruz

 As Cerejeiras do Japão

 

 Sou um brasileiro que vergonhosamente nunca viu um Pau Brasil (razão do batismo de meu País), esquecido por todos e quase que exterminado descaradamente pelo ganancioso vandalismo económico no transcorrer de séculos, mas que muito admira a beleza exuberante do Sakura, ou «Sakurá», como se pronuncia em japonês; ou simplesmente cerejeira, como se diz por aqui.

Quando chega o mês de agosto as abelhas abrilhantam com seus zumbidos incessantes a festa das cerejeiras do Parque do Carmo: um dos maiores da cidade de São Paulo localizado na sua zona leste.

 A revoada de beija-flores e de insetos à procura do néctar das flores rosadas é intermitente e uma sensação de se estar envolvido com a natureza faz com que, todos os anos, este espaço ambiental se torne alvo da visitação pública, aonde os olhos se encantam com a beleza ímpar da florada das cerejeiras, sutilmente transformando em róseo tudo que por ali antes era verde.


 Sakurá

 
O quê deveria ser orgulhosamente chamado de festa do Pau Brasil, chama-se de festa do «Sakurá», isto em razão dos imigrantes japoneses terem pacientemente transladado oceanos com mudas de cerejeiras do Japão e presenteado o Brasil com sua árvore símbolo nacional, e que, anualmente, se jubilam com orgulho, cânticos, comilanças, danças, ritmos, respeito, alegria e admiração.

- E assim que se faz no Japão; é assim que matamos a saudade de lá! – foi o que me disse um velho nissei, que parecia voando na felicidade, e sorria prazeroso, ao ver sua neta vestida a rigor e dançando suavemente o Asadoya -Yunta, a dança da celebração do amor, com gestos leves na cadência rítmica da melodia nipónica.

 O colorido das vestimentas se misturava alegremente ao movimento sutil da dança típica embalada pela música suave que aquietava a plateia, e todos os olhares se focavam para o deslumbrante espetáculo de som e flores em meio ao cor-de-rosa das cerejeiras do Japão.

 E eu, como um simples assistente, mas com uma inquietante dúvida, sem resposta silenciosamente me questionava:
- Será que os brasileiros emigrantes no Japão têm por lá a festa do Pau Brasil?

 Pau Brasil

 Melhor seria se Pedro Alvares Cabral tivesse batizado esta terra como antes queria: Terra de Santa Cruz, assim, quem sabe?...

Esqueceriam nossas florestas e o Pau Brasil estaria a salvo dos assassinos florestais, e eu, assim como os netos e os bisnetos (nisseis e sanseis) dos japoneses fazem, também pudesse festejar alegre e orgulhosamente nossa árvore símbolo nacional, mas, como não a temos, continuarei a festejar o «Sakurá» que agora, também, é brasileiro.

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