segunda-feira, 27 de julho de 2015

Poesia de João Furtado - VAGUEANDO POR AQUI NESTE MUNDO


Poesia de João Furtado



VAGUEANDO POR AQUI NESTE MUNDO

Andei naquele, noutro e neste autocarro
 Ao lado esteve, está e estará um amigo caro
 Que com encontros e desencontro já nem reparo!

Desta vez ia ver minha querida e estimada tia
 O aniversário dela mais uma vez era o dia
 Nada pude eu comer, um dente muito doía...

Enquanto o autocarro violentamente trepidava
 Eu este poema imaginava e escrevê-lo tentava
 Uma menina indiscreta ao lado gargalhada dava!

Perto uma madura mulher casada com o Baco
 Tentava a força dar ao rapaz novo um cavaco
 Ele, o rapaz na jovem força olhava com asco!

Meu pensamento continuava vagueando
 Ao ritmo do autocarro sempre viajando
 Aos homens e ao mundo meditando!

De Quioto à Copenhaga à Cancun há anos
 De reuniões de certezas e de enganos
 No céu o ozono chora com os danos!

Africa de Sul é a próxima esperança
 Nesta caminhada que nada alcança
 Porque o homem quer cheia a pança!

Na China continua recluso o dissidente
 Que recebe o Nobel e fica ausente
 E oferece ao mundo mais um presente!

No Ocidente prega-se a divina liberdade
 E Wekliks pensa que é pura verdade
 E vasculha, vira e revira sem necessidade!

O segredo dos deuses chega aos ouvidos
E muitos no Olimpo sentem-se ofendidos
 E acusam o ladrão de dados perdidos!

Mais o crime não pode ser crime
 Procura outro que só pode ser crime
 Como é livre o polvo do livre Regime…

Entre os cínicos deuses do Ocidente
E o pachorrento e obeso Buda do Oriente
 Situa a virtuosa Terra do Médio Oriente!

Passam os tempos e os costumes permanecem
 E a justiça e os hábitos duros e cegos fazem
 Com pedras mulheres e meninas perecerem!

Não havendo por rectidão dos machos as violações
 Adultérios são para suas fêmeas as acusações
Nobres homens, belas acções e puros corações!

O autocarro parara… era a última paragem do destino
 Ainda tinha tempo para lembrar do menino
 Recém-nascido e abandonado ao seu destino!

Era das treze de hoje o jornal da tarde de sábado
 Do dia depois dos direitos humanos desejados
 E do jornalista reclamando direitos atropelados!

Triste e envergonhado por pertencer a espécie humana
 Descia e via uma vendedeira com uma única banana
 Que me dizia, feliz e dengosa, que se chamava Bela Susana!

João Furtado




 

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