sábado, 6 de junho de 2015

Jornal Raizonline Nº 270 de 7 de Junho de 2015 - Coluna Um - Daniel Teixeira - O efeito borboleta


Jornal Raizonline Nº 270 de 7 de Junho de 2015 - Coluna Um - Daniel Teixeira - O efeito borboleta


Daniel Teixeira

 
O efeito borboleta, por aquilo que sei, faz parte das teorias do caos, coisas para as quais nunca pendi muito em termos de pesquisa, embora tenha tropeçado em derivadas ou copiadas, várias vezes.

Por princípio o efeito borboleta é composto de uma série de eventos conjugados ou seguidos cronologicamente, intervindo num dado campo ou para um dado campo, levando à progressão aritmética e/ou geométrica do seu desenvolvimento com vista ou convergindo para um dado efeito.

Aqui há anos achei bastante piada (semi trágica, aliás) quando um responsável por uma Divisão de Obras Públicas do Estado, disse que a causa da queda de uma passadeira elevada sobre uma estrada, queda essa da qual resultaram alguns feridos e alguns carros esmagados, que essa tal de causa tinha sido uma borboleta que tinha batido as asas algures na Asia.

Isto é visto com sentido de gozo, porque pior que andar metido a debitar teorias é pensar-se que se as conhece. Pelos vistos o tal de engenheiro arranjou o argumento que só não foi mais gozado porque se tratava de uma questão séria, com gente ferida e bastantes danos materiais.

Pois, a surpresa veio depois : não é que foi feita inspecção, género necrópsia, à dita passadeira arruinada e não se chegou a qualquer conclusão sobre a causa do evento?

Enfim, não vamos aceitar agora a história da borboleta mas vamos dizer que talvez (maybe) as causas da queda da ponte apenas pudessem ser vistas antes dela cair, o que pode parecer absurdo, mas ao fim e ao cabo vai de encontro àquilo que se pretenderia, ou seja, evitar a sua queda. Por outras palavras aqui a própria queda da passadeira «apagou» as causas que originaram essa queda.

Simples...não há nada de sobrenatural aqui nem de borboletas de asear inoportuno.  As coisas, quando vistas numa perspectiva ou numa dada situação podem apresentar, e apresentam pelo menos parcelarmente, resultados diferentes.

Pois bem, eu já tinha quase jurado a mim mesmo que não falava mais na crise financeira mas não posso deixar de dizer que o que disse acima se aplica inteiramente às leituras que se fazem agora dos resultados dos inquéritos e dos julgamentos mais em voga sobre corrupção, fraude, lavagem de dinheiro, etc.

Na verdade, nestes campos atrás referidos, ainda não assisti a um único resultado de um inquérito que apontasse as causas ou as culpas de quem quer que seja sobre factos considerados pelo menos reprováveis.

A minha ideia é simples: tratando-se de dinheiro, seria lógico que uma contabilidade, ainda que ficcionada por normas unificadoras, desse para fazer o percurso inverso para se detectar o ponto crítico onde as coisas começaram a descambar, ou seja, onde a borboleta começou a bater as asas.

Mas não, em quase todos os casos - não quero generalizar - os factos reprovados ao serem realizados (quando o foram) não deixam traços que permitam a sua reconstrução para efeitos penais, pelo que, muito a contragosto, acabo por ter de acreditar na borboleta.




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