domingo, 28 de junho de 2015

Inesquecível Carrossel - Conto de José Pedreira da Cruz


Inesquecível Carrossel

Conto de José Pedreira  da Cruz

Era grande o movimento de gente que chegava para a festa da padroeira. A cidade já estava muito alegre e até o sino da igreja parecia musicado e mais festivo. As crianças corriam pra cima e pra baixo; pra lá e pra cá, alegrando a todos.

Um velho caminhão pára no centro da praça e dele desce um homem gorducho, carregando algumas ferramentas. A criançada, cheia de curiosidades, cerca o caminhão e tão logo se vai embora. Apenas uma ficou de plantão: o Chiquinho.

- Moço! O que está fazendo?

O homem de joelhos no chão, parou de cavar. Enxugou o suor da testa com a costa da mão, encostou a cabeça no cabo da cavadeira e, olhando para o menino, calmamente lhe respondeu:

- Estou cavando um buraco.

- Pra quê? Pra quê você quer esse buraco? - Insistiu o garoto.

- Para plantar um brinquedo. - Respondeu-lhe com um largo sorriso e voltou a cavar.

- O que é que tem em cima desse caminhão, moço?

- Um brinquedo! Um lindo carrossel!

- A gente pra brincar nele paga?

- Sim! Só duas moedinhas, um Real.

O menino ficou a se perguntar: - como será um carrossel? - E com um olhar inquieto começou a vistoriar aquele caminhão, enorme, coberto com uma lona amarela; parado na praça; bem na frente de sua casa. Ele via aquele caminhão como se fosse um brinquedo gigante e não parava de alisá-lo e de se olhar reflectido na pintura da boléia. Tudo lhe era novidade. E enquanto o homem cavava buracos na praça para erguer o carrossel, o menino fazia-lhe companhia e embaraçosas perguntas.

Suas curiosidades e a vontade de brincar no carrossel, eram tantas, que Chiquinho passou a desobedecer a sua própria mãe.

- Chiquinho! Oou Chiquinho. Eu vou te bater, entra! - Ela gritava a todo instante, para que o menino parasse de amolar ao homem e voltasse para casa. Mas ele dava pouca importância as ameaças de uma surra, pois o que mais lhe preocupava era ver o carrossel e nele poder brincar.

- Moço! Como é o carrossel?

- É grande! Tem luzes, cavalos, leões e elefantes. Você vai brincar nele? - Questionou-lhe o gorducho, enquanto, furiosamente, arremessava a cavadeira no buraco.

O menino fez cara de tristeza e aquietou-se. Ficou olhando para os cabelos esbranquiçados da barba do gorducho. Por pouco não lhe veio uma lágrima.

- Não! Não tenho dinheiro. Mamãe não tem dinheiro. Lá em casa, ninguém tem dinheiro. - Disse e depois se calou. Após um curto silencio o gorducho lhe consolou: - dinheiro você arranja. É fácil! Muito fácil. É só pedir

A noite não demorou e as luzes do carrossel piscavam dentro de seus olhos como se fossem estrelas. Muitas fantasias corriam em sua mente, mas sua felicidade era nula: todas as crianças do lugar brincavam nos cavalos, leões e elefantes, menos ele que, apenas, a tudo assistia correndo em volta do carrossel.

- Moço me dê uma moeda! Por favor, moço, me dê um dinheiro!

A resposta era-lhe sempre a mesma:

- Não.

- Moço deixa-me entrar! - E o bilheteiro dizia-lhe categórico:

- Não.

Aquele “não" deixava-o triste e magoado. Chiquinho percebia claramente que o caminhão iria embora e nunca brincaria num carrossel.

A festa acabou e todos se foram.

O homem desmontou o brinquedo e o cobriu com a mesma lona sobre o velho caminhão. Depois sumiu na curva da estrada, deixando para Chiquinho apenas o som de sua buzina como única recordação.

O menino voltou para casa e chorou.







José Pedreira da Cruz




 
Servidor Público do Estado de São Paulo.

Nasceu em 05 de Janeiro de 1948 em Sátiro Dias-Bahia/Brasil. Iniciou a escrever contos, crónicas e poesias aos cinquenta anos e, a cada letra que acrescenta a seus escritos, se sente mais prazeroso com a vida. Possui dezenas de textos em jornais, revistas e sites de literatura.




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