Poesia de Jorge Vicente
POEMA
procura e encontrarás
o signo do mar nas
vertigens agrestes
de uma carícia. só
os marinheiros amantes
são dignos do vento.
jorge vicente
os cães ladram em são marcos,
sentem o chocalhar da chuva na terra seca.
amanhã, cairá a tempestade sobre a
aldeia. já não existem aldeias completamente
habitadas nem completamente desertas.
o céu é a própria habitação das casas,
as nuvens o silêncio demorado
das mulheres que olham o infinito.
no campo de futebol, jogadores cansam
as pernas dançando ao sabor da chuva.
o esférico rola como uma lua derretida
pelas águas que se movem do interior do
céu. a trovoada ergue-se ao fundo do monte,
como um tambor avassalador. quero correr,
atingir o limiar da aldeia para ver um pouco
de televisão e esquecer o combate inglório dos
elementos. e assim morrem as estrelas, deixadas
ao acaso e remetidas à correria desenfreada dos
homens que brincam com elas como se elas
fossem um esférico de porcelana.
os cães ladram, eu não os ouço,
ouço apenas a trovoada e o silêncio que cai entre
os trovões. é nesse silêncio que eu pressinto
o calor agreste da memória. que memória têm
as árvores? terão as árvores saudade? será
o silêncio o momento em que estamos mais
vulneráveis a essa memória e a essa saudade?
aproximo-me do portão da casa. a chuva. todo
o alentejo que pede lágrimas aos deuses. penso em
ti. és tu a chuva que cai das árvores em silêncio. és tu
que pressentes o silêncio ausente das minhas palavras.
Jorge Vicente
(são marcos da ataboeira, 2002)
alguém escreveu que a trovoada
é um lugar à volta do corpo:
a pele ou um círculo de som
abrindo o espaço entre os dedos.
alguém pensou:
abriremos o nosso corpo ao rio
e escreveremos palavras de desejo claro:
a luz e o amor não fazem
sentido fora do poema.
alguém morreu e nasceu
no preciso juntar das sílabas.
escrevo o anjo como escrevo
o tempo mau - todos os gestos
morrem e sufocam na giesta.
Jorge Vicente
POEMA
procura e encontrarás
o signo do mar nas
vertigens agrestes
de uma carícia. só
os marinheiros amantes
são dignos do vento.
jorge vicente
os cães ladram em são marcos,
sentem o chocalhar da chuva na terra seca.
amanhã, cairá a tempestade sobre a
aldeia. já não existem aldeias completamente
habitadas nem completamente desertas.
o céu é a própria habitação das casas,
as nuvens o silêncio demorado
das mulheres que olham o infinito.
no campo de futebol, jogadores cansam
as pernas dançando ao sabor da chuva.
o esférico rola como uma lua derretida
pelas águas que se movem do interior do
céu. a trovoada ergue-se ao fundo do monte,
como um tambor avassalador. quero correr,
atingir o limiar da aldeia para ver um pouco
de televisão e esquecer o combate inglório dos
elementos. e assim morrem as estrelas, deixadas
ao acaso e remetidas à correria desenfreada dos
homens que brincam com elas como se elas
fossem um esférico de porcelana.
os cães ladram, eu não os ouço,
ouço apenas a trovoada e o silêncio que cai entre
os trovões. é nesse silêncio que eu pressinto
o calor agreste da memória. que memória têm
as árvores? terão as árvores saudade? será
o silêncio o momento em que estamos mais
vulneráveis a essa memória e a essa saudade?
aproximo-me do portão da casa. a chuva. todo
o alentejo que pede lágrimas aos deuses. penso em
ti. és tu a chuva que cai das árvores em silêncio. és tu
que pressentes o silêncio ausente das minhas palavras.
Jorge Vicente
(são marcos da ataboeira, 2002)
alguém escreveu que a trovoada
é um lugar à volta do corpo:
a pele ou um círculo de som
abrindo o espaço entre os dedos.
alguém pensou:
abriremos o nosso corpo ao rio
e escreveremos palavras de desejo claro:
a luz e o amor não fazem
sentido fora do poema.
alguém morreu e nasceu
no preciso juntar das sílabas.
escrevo o anjo como escrevo
o tempo mau - todos os gestos
morrem e sufocam na giesta.
Jorge Vicente
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