My Blueberry Nights - crônicas da madrugada.
Lua, nua, lua...
Por Cynthia Kremer
Eu sou mesmo uma mulher lunar.
É impressionante, mas desde bem pequena tenho a sensação de que todos os chatos vão dormir cedo. Assim como os escoteiros, não fumantes, crentes, adeptos da vida saudável e todos os seres aborrecidos da mesma linhagem.
Outro dia estava assistindo um filme que adoro, chamado “Todas as Mulheres do Mundo” – e de repente me dei conta do teor de um diálogo do personagem do ator Paulo José, comentando com o amigo que a mulher dele estava deprimida, que há dias não saía do quarto e como ele dizia, havia dois tipos de mulher: as solares e as lunares; ele temia que sua mulher fosse uma mulher lunar...
Mas eis que de repente ela (Leila Diniz) aparece magnífica e cheia de vida na praia bem ao alcance da vista do marido - que aliviado - desabafa ao amigo: “ela é uma mulher solar!" Aquilo me soou quase como uma crítica, como um desprezo a minha condição de mulher lunar!
Mas a noite é minha amiga fiel. Traz-me aconchego, paz e vontade de fazer as coisas. Este é o problema; pouco do que quero e tenho ânimo, posso fazer à noite. Mudaria o mundo às três da madrugada! Mas aí chega o dia, que implacavelmente, apaga, como o sol a um letreiro de neon, as minhas vontades. Mas não reclamo. Faço o que posso e gosto ao longo das madrugadas.
Ouço minhas músicas, leio jornais, escrevo muito, mando e-mails atrevidos para lugares impensáveis, entro em blogs aleatoriamente, me afilio a ONGs de proteção animal e ambiental, etc. Fico meio pirada depois das três horas da madrugada! Sei que alguns dirão: "coitada, é solidão..."
Pois eu lhes asseguro: é paixão! Paixão pelo desconhecido, por uma sensação de algo suspenso no ar, pela quietude das coisas, das árvores, das ruas e de tudo em volta. É nesta hora que a minha percepção fica mais aguçada e as idéias fluem com mais facilidade.
Há um verso “Nox”, de Antero de Quental, (meu tio-trisavô), que pelos poemas e sonetos, era também um amante da noite.
NOX
Noite vão para ti meus pensamentos,
Quando olho e vejo, à luz cruel do dia,
Tanto estéril lutar, tanta agonia,
E inúteis tantos ásperos tormentos...
Tu, ao menos, abafas os lamentos,
Que se exalam da trágica enxovia...
O eterno Mal, que ruge e desvaria,
Em ti descansa e esquece alguns momentos...
Oh! Antes tu também adormecesses
Por uma vez, e eterna, Inalterável,
Caindo sobre o Mundo, Esquecesses,
E ele, o Mundo, sem mais lutar nem ver,
Dormisse no teu seio inviolável,
Noite sem termo, noite do Não-ser!
Antero de Quantal - in Sonetos
Lua, nua, lua...
Por Cynthia Kremer
Eu sou mesmo uma mulher lunar.
É impressionante, mas desde bem pequena tenho a sensação de que todos os chatos vão dormir cedo. Assim como os escoteiros, não fumantes, crentes, adeptos da vida saudável e todos os seres aborrecidos da mesma linhagem.
Outro dia estava assistindo um filme que adoro, chamado “Todas as Mulheres do Mundo” – e de repente me dei conta do teor de um diálogo do personagem do ator Paulo José, comentando com o amigo que a mulher dele estava deprimida, que há dias não saía do quarto e como ele dizia, havia dois tipos de mulher: as solares e as lunares; ele temia que sua mulher fosse uma mulher lunar...
Mas eis que de repente ela (Leila Diniz) aparece magnífica e cheia de vida na praia bem ao alcance da vista do marido - que aliviado - desabafa ao amigo: “ela é uma mulher solar!" Aquilo me soou quase como uma crítica, como um desprezo a minha condição de mulher lunar!
Mas a noite é minha amiga fiel. Traz-me aconchego, paz e vontade de fazer as coisas. Este é o problema; pouco do que quero e tenho ânimo, posso fazer à noite. Mudaria o mundo às três da madrugada! Mas aí chega o dia, que implacavelmente, apaga, como o sol a um letreiro de neon, as minhas vontades. Mas não reclamo. Faço o que posso e gosto ao longo das madrugadas.
Ouço minhas músicas, leio jornais, escrevo muito, mando e-mails atrevidos para lugares impensáveis, entro em blogs aleatoriamente, me afilio a ONGs de proteção animal e ambiental, etc. Fico meio pirada depois das três horas da madrugada! Sei que alguns dirão: "coitada, é solidão..."
Pois eu lhes asseguro: é paixão! Paixão pelo desconhecido, por uma sensação de algo suspenso no ar, pela quietude das coisas, das árvores, das ruas e de tudo em volta. É nesta hora que a minha percepção fica mais aguçada e as idéias fluem com mais facilidade.
Há um verso “Nox”, de Antero de Quental, (meu tio-trisavô), que pelos poemas e sonetos, era também um amante da noite.
NOX
Noite vão para ti meus pensamentos,
Quando olho e vejo, à luz cruel do dia,
Tanto estéril lutar, tanta agonia,
E inúteis tantos ásperos tormentos...
Tu, ao menos, abafas os lamentos,
Que se exalam da trágica enxovia...
O eterno Mal, que ruge e desvaria,
Em ti descansa e esquece alguns momentos...
Oh! Antes tu também adormecesses
Por uma vez, e eterna, Inalterável,
Caindo sobre o Mundo, Esquecesses,
E ele, o Mundo, sem mais lutar nem ver,
Dormisse no teu seio inviolável,
Noite sem termo, noite do Não-ser!
Antero de Quantal - in Sonetos
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