quinta-feira, 4 de junho de 2015

Poesia de Maria Álvaro


Poesia de Maria Álvaro


O MAR...

Veleiro ligeiro beija embevecido,
excitado,
de Tétis o seio cheio, acobreado
e cúpido;

E o Adamastor ora adormecido,
prostrado,
esquece seu furor e vira pr'o lado,
estendido.

Nas ondas eu sigo o seu lençol dourado
e persigo
estrelinhas piscando p'ra mim, deslumbrado,
rendido...

...são olhos espreitando por um véu rendilhado
e antigo
de ninfas pintando e bordando comigo
o meu fado...

Maria Álvaro


BURACO NO PEITO

No buraco bem fundo do meu peito
Aquele vácuo sôfrego de ti...
Um estremecer de todo este meu jeito
Que, da nuca ao ventre...leve...senti...

Uma maré que persegue o luar
Escorre subtil neste leito dolente...
E uma lânguida onda do mar
'Spuma queixume da rocha ausente...

Face risonha de um amor-perfeito...
Trêmula, tensa, querendo te amar
Exala suspiro fugaz... urgente,
Frêmito ansioso como eu nunca vi...
No buraco bem fundo do meu peito...

Lampejam dois pólos desta corrente...
Chamas e fogos que em ti acendi
Inflamam meus céus em noite estrelar...
No buraco bem fundo do meu peito
Aquele vácuo sôfrego de ti...

Maria Álvaro


As amendoeiras...

O sorriso mais subtil e breve da Natureza algarvia é o das amendoeiras em flor...

Não é o mar, nem as praias, nem a luminosidade, nem o sol, nem o céu azul.... Esses gargalham de alegria com toda a efusão!...

As amendoeiras são o sorriso de Gioconda desse Algarve das minhas lonjuras...

Lançam-me um olhar pueril e enigmático e um sorriso distante, imperceptível de quem sabe que tudo tem um fim...

Maria Álvaro




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