terça-feira, 23 de junho de 2015

Poesia de Jorge Vicente


Poesia de Jorge Vicente

entre as montanhas do velebit
e os lagos de plitvice,
os maravilhosos lagos de água
silenciosa e pura
que tornam famosa toda a região
nordeste da croácia,
entre essas cordilheiras brancas,
que protegem a costa do vento,
e os lagos: imensos socalcos de
árvores e jardins, turistas e
jovens homens de negócios,
entre o cume do mundo
e o ar da chuva que consome plantas,
animais, seres do interior da terra
e dos livros de fantasmas de toda
a região norte,
entre esse mundo e o outro
mais perfeito,
muitas campas rasas escolhem
o seu lugar junto à estrada.

dizem: não houve dinheiro para fazer
um jazigo que pudesse celebrar
a vida daqueles que, em tempos,
trabalhavam de solo a solo e que
amavam, dançavam, riam e comiam
no ajuntamento das estrelas,
entre as montanhas do mundo mais
à frente e dos lagos que tocavam os
seus dedos,

dizem: não houve tempo para
celebrar e para regressar à
verdadeira génese das plantas
e dos solos. apenas
se amontoam crianças, velhos
e os homens que amavam e riam
e dormiam no colo dos pais.

entre as montanhas do velebit e as
águas de plitvice, não há mais
lugares de memória.

Jorge Vicente


NETZACH

a roda no momento calado da primavera
é o caminho que leva ao deus do fogo
os teus dedos entrelaçados na janela –
a vitória do espírito sobre o corpo, sem
a matéria doce o saborear da árvore
o rio em frente mais a casa. não descubro
no teu pranto o aproximar da verdade.

sei apenas de um riso breve e da conquista
de uma palavra mais suave – a subtileza do
teu lento murmurar. em setembro arde a
primavera.

Jorge Vicente


TIPARETH

não negues a beleza da sacerdotisa branca,
aquela que do mar se revelou encapelada.
não a submetas ao teu olhar indiscreto,
como se do teu corpo saísse uma rocha,
invasora e tenebrosa. o rosto do abismo
na lenta aspiração do mar.

esconde os teus olhos para que se possa
cumprir o amor – o ritual na pedra,
o desejo no lado errado da História.

as vestes voam enquanto tu te escondes,
os seios molhados na iniciação carnal
da religião.

Jorge Vicente




Sem comentários:

Enviar um comentário