quarta-feira, 24 de junho de 2015

Poesia de Virgínia Teixeira


Poesia de Virgínia Teixeira

Saudade

A saudade nunca deixa de latejar
No peito cansado da guerreira
A saudade nunca deixa de angustiar
O coração já gasto da mulher

A saudade nunca deixa de insistir
Nas pernas acorrentadas da prisioneira
A saudade nunca deixa de ferir
Os olhos acostumados com a escuridão da menina

A saudade, sentimento estranho que nunca a chega a abandonar
Deixa-lhe a alma em pedaços, e não lamenta a morte
A saudade que ela abraça como um velho amigo que demorou a chegar

A saudade, que ela esconde porque não quer que a vejam como menos forte
A ânsia tremenda que carrega no peito como que a uma criança lamuriosa meio adormecida
A saudade, que lhe já vinha cravada na alma, de outros tempos, de outra vida…



Décadas

Décadas passadas e ele ainda marca o caminho
Anos de solidão e de espera  sem angústia nem pesar
Minutos que o relógio contou com um tiquetaque baixinho
Saudade que não cessa nem tem olvidar

Saudade da criança que se deitou no leito
Da menina que não conhecia a verdade
Da mulher com um furacão no peito
Que se descobriu naquela noite sem piedade

Pirata dos sonhos da menina que há muito morreu
Pirata negro de olhar profundo que a reconheceu
Saudade da mulher que nessa noite nasceu    

Saudade que não termina e penetra a mais forte couraça
Saudade que veio de outras vidas onde o amor se viveu
Saudade que não mata nem fere, morte que não magoa, vida que se abraça.


Marinheiro de águas revoltas

Oh marinheiro de águas revoltas sem porto onde atracar
Décadas de saudade me acompanham neste caminho da vida
Instantes de ânsia sem pesar, desejo sempre a sufocar
Recordando eternamente o momento da despedida

Oh marinheiro de águas revoltas que um dia visitaste o meu porto
Beijos de sal e canela que num sopro me enfeitiçaram
Deixando a tua marca na minha alma e no meu corpo
Mãos calejadas que me percorreram e a fogo me marcaram

Oh marinheiro de águas revoltas que partiste sem lamentar
Sem um adeus, ou a promessa de um dia regressar
Esquecido de cortar a amarra que a ti me aprisionou

Oh marinheiro de águas revoltas que foste sem me libertar
E deixaste esta ânsia, este desejo insatisfeito que trago no corpo a palpitar
Sou tua, pertence-te toda a minha alma, que por tantas vidas já te procurou...



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