Poesia de Adelina Velho da Palma
A NOVA VELHA
De longe faz lembrar uma menina
empoleirada nos saltos da mãe,
embora de estatura muito aquém
duma ideal figura feminina…
empoleirada nos saltos da mãe,
embora de estatura muito aquém
duma ideal figura feminina…
A cabeleira ruiva estilo crina
aderna num ridículo vaivém,
o traje é colorido, vê-se bem,
demasiado até, pra gente fina…
aderna num ridículo vaivém,
o traje é colorido, vê-se bem,
demasiado até, pra gente fina…
Mas eis que tal visão se aproxima
e nos permite enfim grato prazer
de lhe colocar bem a vista em cima…
e nos permite enfim grato prazer
de lhe colocar bem a vista em cima…
Só então nos é dado perceber
verrugas, flacidez e pantomina
de velha que não soube envelhecer…
verrugas, flacidez e pantomina
de velha que não soube envelhecer…
Adelina Velho da Palma
ANULAÇÃO
Ao pé de ti eu não sou como sou
visto a pele de alguém bem diferente
pois se fosse como sou realmente
não podias ficar aonde eu estou...
visto a pele de alguém bem diferente
pois se fosse como sou realmente
não podias ficar aonde eu estou...
Não me opondo a que estejas onde estou
consinto em comportar-me como ausente
de vontade e opinião dormente
imune à enormidade que te dou...
consinto em comportar-me como ausente
de vontade e opinião dormente
imune à enormidade que te dou...
Se tivesses alma suficiente
eu não abdicaria do que sou
e tu encarnarias outra gente...
eu não abdicaria do que sou
e tu encarnarias outra gente...
Mas não consegues ir aonde eu vou
por isso quem avança para a frente
sou eu – não sendo aquilo que sou!...
por isso quem avança para a frente
sou eu – não sendo aquilo que sou!...
Adelina Velho da Palma
AVISO
O soneto que se segue contem ideias e/ou palavras que podem chocar o
leitor mais sensível
ÓDIO
Quero-te exangue, tolhido com dores,
a súplica e o medo em teu olhar,
a boca desfigurada num esgar
e o corpo carcomido por tumores...
a súplica e o medo em teu olhar,
a boca desfigurada num esgar
e o corpo carcomido por tumores...
Quero-te esmagado por dissabores,
atormentado, contrito, alvar,
sem nada que te possa aliviar
nem arrependimento nem licores...
atormentado, contrito, alvar,
sem nada que te possa aliviar
nem arrependimento nem licores...
Quero-te humilhado sem esperança,
castrado, sem recurso nem vingança,
presa de patético frenesi...
castrado, sem recurso nem vingança,
presa de patético frenesi...
Quero-te reduzido à nulidade,
cuspir-te na cara à minha vontade
e esquecer que um dia te conheci!...
cuspir-te na cara à minha vontade
e esquecer que um dia te conheci!...
Adelina Velho da Palma
O Ódio está visceral e sem papas na língua! Materializa em palavras o sentimento. Adoro!
ResponderEliminar