domingo, 16 de agosto de 2015

Casimiro de Abreu - Por Sanio Morgado

 
 
Casimiro de Abreu
 
Por Sanio Morgado
 
José Marques Casimiro de Abreu nasceu numa antiga freguesia que correspondia aos atuais municípios de Casimiro de Abreu e Rio das Ostras, no Rio de Janeiro, Brasil, aos 4 dias do mês de janeiro de 1839.
 
Filho de rico fazendeiro e comerciante português, que tinha atividades clandestinas relacionada com a escravidão, Casimiro inicia ali mesmo seus estudos na própria fazenda da família, continuando em Nova Friburgo e no Rio de janeiro, embora ocorressem interrupções nos estudos, devido aos problemas de seu pai com a justiça que lhe obrigava a contragosto as atividades comerciais.
 
Viajando a Portugal já com 14 anos, dedica-se às letras , publicando páginas em prosa e um drama «Camões e o Jaú», representado quando o poeta contava 17 anos. Pouco depois retorna ao Rio e com a atividade literária intensa, já que não gostava do comércio.
 

 
Casimiro era profundamente religioso e bom caráter, meio moleque, gozador e fumante de bons charutos. Em 1859 publicou-se «AS PRIMAVERAS» , livro de grande valor literário. Sua obra escassa com pouco mais de 100 poemas distingue-se pela leveza e meiguice com um tom nostálgico advindo de sua enfermidade e saudades da pátria.
 
Antes mesmo de completar 22 anos , atacado pela tuberculose, em 18 de outubro de 1860 o grande ícone da cultura fluminense faleceu , após 8 meses de pavoroso calvário. E um dos patronos da Academia Brasileira de Letras.
 
-«Oh! Que saudades que eu tenho da aurora da minha vida , da minha infância querida que os anos não trazem mais!» (Meus oito anos).
«Se eu tenho de morrer na flor dos anos Meu Deus! Não seja já; Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, cantar o sabiá!» (Canção do Exílio).
 
Ao passarmos por sua terra natal, hoje em sua homenagem CASIMIRO DE ABREU, há um tom poético em sua arquitetura e beleza, conhecida como a cidade dos poetas, nos reserva na região dos lagos do Rio de Janeiro um dos mais belos cartões postais com seu mar e sua montanha.
 

 
 DESEJO
 
Se eu soubesse que no mundo
 existia um coração,
 que só por mim palpitasse
 de amor em terna expansão;
 do peito calara as mágoas,
 bem feliz eu era então!
 
Se essa mulher fosse linda
como os anjos lindos são,
 se tivesse quinze anos,
 se fosse rosa em botão,
 se ainda brincasse inocente
 descuidosa no gazão;
 
Se tivesse a tez morena,
 os olhos com expressão,
 negros, negros, que matassem,
 que morressem de paixão,
 impondo sempre tiranos
 um jugo de sedução;
 
Se as tranças fossem escuras,
 lá castanhas é que não,
 e que caíssem formosas
 ao sopro da viração,
 sobre uns ombros torneados,
 em amável confusão;
 
Se a fronte pura e serena
 brilhasse d’inspiração,
 se o tronco fosse flexível
 como a rama do chorão,
 se tivesse lábios rubros,
 pé pequeno e linda mão;
 
Se a voz fosse harmoniosa
 como d’harpa a vibração,
 suave como a da rola
 que geme na solidão,
 apaixonada e sentida
como do bardo a canção;
 
E se o peito lhe ondulasse
 em suave ondulação,
 ocultando em brancas vestes
 na mais branda comoção
 tesouros de seios virgens,
 dois pomos de tentação;
 
E se essa mulher formosa
 que me aparece em visão,
 possuísse uma alma ardente,
 fosse de amor um vulcão;
 por ela tudo daria...
-A vida, o céu, a razão!
 
 Sanio Morgado
 
 
 

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