Ternura...
Marisa deu uma corrida e ainda conseguiu apanhar o comboio, que fechou logo as portas mal ela entrou. A carruagem nem estava muito cheia.
Olhou indecisa para o banco que estava logo à entrada da porta para se sentar, mas desistiu da ideia, porque a mulher que lia uma revista, estava sentada de tal forma, que não sobrava muito espaço para ela. Foi então que reparou na velhinha num dos bancos a meio da carruagem, que lhe lançou um sorriso convidativo:
- «Ah menina, ainda bem que se sentou aqui, estava com medo que fosse aquele sujeito que tem ar de ladrão...»
- «Ah menina, ainda bem que se sentou aqui, estava com medo que fosse aquele sujeito que tem ar de ladrão...»
Ela sorriu e acenou com a cabeça, num gesto cúmplice.
Sentada à janela do comboio, a velhinha confidenciou que já tinha tirado os «ouros», ou seja, os fios e pulseiras que habitualmente usava e que vinham já da sua avó. Filigranas raras, deviam valer bom dinheiro, se a roubassem... nem queria pensar no desgosto.
Tinha medo andar com eles assim à vista, pois o caminho da estação até a casa, a pé, era escuro e longo e agora andava por aí tanta malandragem, que todo o cuidado era pouco.
A «menina» olhou a idosa e enterneceu-se, lembrava-lhe a mãe, já falecida. A velhinha continuou a tagarelar, falando da filha, dos netos, da vida cara, do tempo cheio de humidade, que lhe atacava o reumático...
Saíram na mesma estação e foi cada uma para seu lado, enquanto a jovem se metia no carro, estacionado mesmo ali, a velha senhora seguia devagar junto à linha. Ela olhou-a e, lembrando-lhe mais uma vez a figura da mãe, sentiu uma enorme ternura.
O seu carro já tinha percorrido alguns metros, quando num impulso, meteu marcha -atrás e parou junto da velhinha:
-«Avozinha, entre!» - disse com um sorriso meigo, esticando o braço e abrindo-lhe a porta do lado do passageiro.
-«Avozinha, entre!» - disse com um sorriso meigo, esticando o braço e abrindo-lhe a porta do lado do passageiro.
Depois de a deixar à porta de casa, feliz por não ter de fazer a tal caminhada cheia de perigos de assaltantes e, entregue à filha e aos netos, Marisa retomou o seu caminho.
Chegou a casa, cansada mas contente. Bebeu um café e só então abriu a mala e despejou em cima da mesa o espólio desse dia, conseguido à custa de uns tantos empurrões nos transportes públicos...
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