domingo, 16 de agosto de 2015

Poesia de António Cambeta - VENDAVAL; SAUDADES NO CAIS DEIXEI

 
Poesia de António Cambeta
 
VENDAVAL;  SAUDADES NO CAIS DEIXEI   
 
 VENDAVAL
 
 No meu pequeno, mas belo jardim
 entrou a tristeza
 o vendaval que assolou a região
 levou-me as belas flores
 as rosas negras, os crisântemos amarelos
 as orquídeas de âncora
 que eu tinha bem estimadas
 como um tesouro que Deus nos dá.

As plantei e tratei
 com paciência de bonzo
 numa tarde serena e luminosa
 de Maio

Diariamente
vigiava meu tesouro
 de orquídeas de âncora
 de Fá Mui e de tulipas

Visionava distante com se de um sonho
 se tratasse.
 De um sonho pleno de amor.

Viver o sonho que sonhei
 entre as orquídeas de âncora de meu jardim
 embriaga-me
 no seu perfume oriental
 das orquídeas de âncora.

Uma noite
 a tristeza
 entrou em meu pequeno mas belo jardim
 e com o vendaval da noite
 minhas orquídeas de âncora
 minhas rosas negras
 meus crisântemos amarelos
 foram levadas pelo vento.

Na manhã seguinte
 ao encontrar todo o meu tesouro
 desfeito, chorei lágrimas de sangue.
 no chão ainda pude ver uma orquídea de âncora
 tentar sobreviver foi só o que restou

De novo, com paciência de chinês
 tentarei fazer florir meu tesouro
 e o protegendo das intempéries
 irei fazer para que minhas orquídeas de ancora
 fiquem bem amarradas ao fundo da terra
 para que jamais as possa perder
 
 SAUDADES NO CAIS DEIXEI
 
 Saudades no cais deixei
 ficando assim aliviado,
 esqueci quem tanto amei jamais serei atraiçoado.

O mar, esse sei que é traiçoeiro,
 mas a ele estou habituado,
 o tenho por amigo e companheiro,
 sei que dele sou sempre amado.

Suas águas vou percorrendo,
 as marés as vou contando,
 e aos poucos envelhecendo
 mas dele sempre gostando.

Neste mar imenso e salgado
 suas águas vou sulcando,
 tendo o leme bem calibrado
 minhas mágoas vou soltando.

Tenho o mar e o céu por companhia,
 à noite as estrelas vou contemplando,
 e o sol que raia de dia,
 esses me vão acompanhando

Vivo um pouco na solidão
 não tendo com quem falar,
 fortalece meu coração,
 Tenho Deus para me ajudar.

O rumo nunca perdi,
 com o norte sempre atinei,
 foi nele que sempre vivi
 e nele sempre estarei.

é sempre bom conselheiro,
 para quem com ele souber falar,
 ele é bom é fiel companheiro
 que sempre nos sabe amar.

Meu rumo está destinado,
 ao longe, o cais já avisto,
 a ele ficarei amarrado
 nesta viagem tudo está já está previsto.

O mar, este, agora de berço me serve,
 depois será minha sepultura,
 minhas cinzas ele conserve
quando chegar à altura.

Depois, para sempre nele repousarei,
 findarão as minhas mágoas,
 e eternamente navegarei
 em suas serenas águas.

Outras marés outros oceanos,
 irei então encontrar,
 findam assim os desenganos
 a quem na vida tanto soube amar.


 

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