segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Jornal Raizonline Nº 274 de 16 de Agosto de 2015 - Coluna Um - Daniel Teixeira - O despertar para a escrita

 
Jornal Raizonline Nº 274 de 16 de Agosto de 2015 - Coluna Um - Daniel Teixeira - O despertar para a escrita
 
Já tenho lido várias vezes, até em biografias de escritores ou poetas  com algum relevo ou mesmo muito, que para eles tudo começou com uma redacção ou um poema feito na Escola.
 
A professora (normalmente é uma professora) gostou muito do escrito, mostrou às colegas e estas por sua vez juntaram-se aos elogios e ali, desde logo, traçaram um destino, que a ser cumprido, será sempre lembrado pelo aluno.
 
Claro que nestas coisas, como em tantas outras, acabamos por nos lembrar até do texto, ou parte do texto, (quando é texto) que originou esta precoce atenção magesterial.
 
Não nos sentimos obrigados a dar continuidade àquilo que nos foi apontado em criança mas se eventualmente um outro sucesso se segue a este serôdio evento depressa surge na nossa ideia, ou na ideia de muitos, que «desde criança, etc. etc.» se teve uma queda para as letras, ou para outra arte que seja.
 
Daí as referências dos autores quando biografados.
 
Pois eu tive uma redacção, na 4ª classe (aos 9/10 anos mais ou menos), cuja professora, ainda felizmente entre nós, se encarregou de me augurar um futuro promissor nas letras.
 
Anos depois vim a bater numa outra professora que também gostava daquilo que eu escrevia e que chegou a encarregar-me, em conjunto com outro colega, de fazer uma elegia histórica já nem me lembro a quem ou ao quê.
 
Fé assim solidificada com alguns anos de intervalo achei que era mesmo na escrita que estava o meu futuro, não propriamente a título profissional, mas como hobby preferencial.
 
Não me tenho dado muito mal nesta actividade que aqui agora procuro demonstrar mais uma vez (entre milhares que já passaram) mas há uma curiosidade que eu gostaria de apontar.
 
Em desenho artístico achava que sempre fui uma nulidade. Faço pintura e desenho desde há cerca de 50 anos, recebo alguns cumprimentos e elogios de pessoas que percebem mesmo do assunto, mas sempre considerei esta actividade artística como uma actividade paralela e o complexo da nulidade sempre me perseguiu: «Este gajo diz isto, que está bom, para não me deprimir» pensei eu durante muitos anos, muitos mesmo.
 
Pois aqui há cerca de dois anos encontro-me com um colega de escola há muito não visto que me diz passados uns minutos de bate papo : «É pá, o que eu admirava era a tua correcção de traço no desenho e aqueles efeitos de côr que tu conseguias fazer...».
 
Pensei que ele estava a gozar comigo porque não me lembrava de ter tido alguma referência doutoral nesse campo: tive uma vez uma maçã esverdeada no quadro de honra da sala, recordei para mim mesmo, mas mais nada. A média era chapa baixa, enfim...
 
Mas não era engano dele não senhor, eu até não era mau de todo a desenho embora o professor não me gramasse muito sabe-se lá porquê.
 
E esta minha potencialidade, durante 50 anos praticada por mim como arte menor subiu alguns degraus na minha consideração.
 
Assim e fazendo jus àquilo que gostaria de ter escrito na minha campa (daqui a muitos anos, claro) na minha opinião o epitáfio ideal seria este:
 
«Fartou-se de escrever pensando que era essa a sua arte e desenhou e pintou sem consciência de que o sabia fazer.»
 
Daniel Teixeira
 
 
 
 

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