domingo, 8 de fevereiro de 2015

Poemas de Patrícia Neme


Poemas de Patrícia Neme



FUGA

O que existe em você, que me agita, incomoda...
E desperta em meu ser emoções escondidas?
Em meu corpo, minh'alma não mais se acomoda...
E eu vagueio num mar de ilusões proibidas.

Já não sei mais de mim, a cabeça anda em roda...
Tive as minhas defesas, sem dó, invadidas...
E você nem cogita que tanto incomoda,
nem supõe, em meu peito, as candentes batidas.

E eu me escondo, eu me guardo, não sei o que faço
- quanto anseio sentir o seu beijo, um abraço -,
O meu tempo passou... Nada mais a sonhar.

Nada mais... Como pode tal fado, ferino,
me falar de você e marcar-me o destino
de fugir, e fugir, e fugir... Sem parar?



Soneto da Saudade

 O céu desperta triste, em tom cinzento,
 qual lhe fora penoso um novo dia;
 aos poucos, verte, em gotas, seu lamento...
 Um pranto ensimesmado, de agonia.

Um rouco trovejar, pesado, lento,
 parece suplicar por alforria,
 num rogo já exangue, sem alento...
 A chuva... O cinza... A dor... A nostalgia...

O céu despertou triste... O céu sou eu,
 perdida num sonhar que feneceu,
 sou prisioneira à espera de mercê.

Sonhando conquistar a liberdade
 desta prisão, que existe na saudade...
 Saudade, tanta, tanta... De você!



 Estupidez

 No circo armado na praça,
 grita alucinada massa,
 sem algo de humanidade.

Chega o homem prepotente,
 embrulhado pra presente,
 com olhar de crueldade.

Bandeirolas enfeitadas,
 prontas pra serem fincadas
 no que, de mal, nada fez.

O portão escancarado,
 o touro vê-se empurrado
 à sanha da estupidez.

E a turba grita excitada,
 quer vida sacrificada,
 quer sangue banhando o chão.

E baila, dança o toureiro,
 ante o indefeso cordeiro,
 num rito fútil, pagão.

Até que o corpo ferido,
 sem vida, jaz consumido...
 Pela civilização!





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