RECORDANDO "AS MÃES DA MINHA VIDA", NESTE DIA DAS MÃES:
Por Arlete Piedade Louro
Há anos fui convidada a escrever um texto sobre o Dia da Mãe, que se comemorará no próximo domingo, dia 3 de Maio em Portugal e que será dirigido a leitores de Portugal, do Brasil e outros países pelo mundo. Deparo-me portanto, com múltiplas escolhas sobre o que escrever e a quem dedicar a minha prosa. Geralmente escrevemos nestes dias, sobre a nossa mãe e também se diz que Mãe há só uma!
Sim, cada um tem a sua mãe, que também foram filhas e tiveram a sua mãe, que foi a nossa avó. Das avós também se diz que são mães duas vezes. Mães dos seus filhos e dos filhos dos seus filhos. Depois temos as nossas sogras, as mães dos nossos cônjuges, aquelas que geralmente têm má fama, mas que muitas vezes é imerecida, pois acabam por ser também mães duas vezes. Mães dos seus filhos ou filhas e mães das pessoas que foram escolhidas para parceiros de vida, através do casamento - ou não - dos seus filhos (as).
As nossas sogras além de serem também um pouco nossas mães, por sermos casadas com seus filhos, são também as outras avós dos nossos filhos, que seguindo o mesmo raciocínio, são mães a dobrar dos nossos filhos, que amamos tanto.
Então segue-se que temos não só as nossas mães, como também as nossas avós e ainda as nossas sogras, todas elas com o papel de nossas mães.
Depois - e aqui falo de outros casos que não o meu - temos as mães adotivas, as mães de acolhimento, as mães afetivas, as mães de criação, as madrastas, enfim, mulheres que em alguma altura das nossas vidas, nos acolhem e nos dão a ternura e a educação que a mãe biológica, não pode dar, seja por morte, afastamento, falta de condições económicas, ou outros motivos.
Mas voltando ao meu caso, as mães da minha vida, com que intitulei esta crónica, terei que falar em primeiro lugar da minha mãe. Nasci numa pequena aldeia no interior centro de Portugal, em finais da década de 50 do século passado.
A vida era difícil, minha mãe vinha de uma família pobre, mas ainda hoje diz que nunca passou fome, ela e as suas quatro irmãs, apesar de no inverno não haver trabalho e viverem só das reservas que a terra dava e do crédito na mercearia. No verão ela e as suas irmãs trabalhavam no campo nos ranchos que vinha para a lezíria de Santarém, trabalhar para os grandes proprietários, nos trabalhos do campo sazonais, como a monda, a vindima, a apanha da azeitona e outros.
O meu avô, seu pai, era pedreiro mas naquela época, as casas eram construídas com adobes, blocos feitos com terra seca ao sol e que portanto só no verão era possível construir. Meu pai, também filho de uma família dedicada aos trabalhos no campo e a pequenos negócios, foi serrador na sua juventude.
Iam em ranchos, os homens para os pinhais da Beira Baixa, distantes mais de 100 a 200 kms, nas suas bicicletas a pedal, carregados com mantimentos, roupas e instrumentos de trabalho para ficarem fora de casa, dois a três meses, e lá ficavam cortando os pinheiros e outras árvores que serravam em tábuas, tudo á mão com trabalho manual, portanto, até poderem regressar a casa.
Era uma vida dura, o trabalho era muitas vezes feito debaixo de neve e chuva, e a comida era feita numa fogueira e mantida pendurada nas árvores em sacos, para não ser comida pelos animais e se manter por mais tempo. A única maneira de se aguentar, era o sal com que era acondicionada, nomeadamente a carne que levavam, para cozer e fazer a sopa com feijões ou grãos.
Um dia o meu pai teve uma zanga com os companheiros penso que devido a contas, e jurou que nunca mais iria serrar. Veio para casa, e foi tirar a carta de condução de motorista profissional, o que na década de cinquenta e nas aldeias, era um grande feito.
Portanto quando eu nasci, meu pai já trabalhava como motorista e minha mãe tomava conta das propriedades que cultivavam, além do trabalho da casa, de dar comida aos animais que tinham, e de ir lavar a roupa ao ribeiro, porque nem tanque tinha em casa e era hábito naquele tempo.
Era uma vida trabalhosa, mas feliz. Quando chegou a altura de eu ir para a escola primária, que era numa aldeia vizinha, sede da junta de freguesia, ia a pé com as outras crianças, através dos campos, cerca de três quilómetros, e além dos livros, levava o almoço que a minha mãe me mandava e comia frio.
Como eu era boa aluna e segundo as professoras era inteligente, foi recomendado aos meus pais, para me "colocaram a estudar". Meu pai nessa altura trabalhava numa cerâmica com um camião que ia levar materiais de construção para Lisboa, principalmente tijolos e já ganhava relativamente bem para a época. Foi portanto decidido que eu iria estudar para Alcanena, uma vila que ficava a cerca de 15 Kms, e que tinha uma escola preparatória.
Mas não era fácil. Eu tinha que ficar fora de casa todo o dia e só tinha onze anos. Saía de casa às 7 h da manhã e regressava às 20 h ou mais tarde. Levava mais uma vez o almoço numa lancheira, embrulhada em jornais, para manter o calor, mas quando chegava a hora do almoço, já estava frio.
Minha mãe ainda há dias me dizia que naquela época, levantava-se às 2 h da manhã para fazer o almoço para o meu pai levar para o trabalho, pois ele saía de casa de madrugada, a seguir levantava-se de novo às 6 h da manhã para me preparar para ir para a escola e quando regressava a casa de me ir acompanhar ao autocarro, eram horas de chamar a minha irmã mais nova, para ir para a escola primária a tal que era a 3 kms de casa, através dos campos, e para lhe fazer o almoço também para ela.
Mas chegou nova época, quando eu terminei os dois anos da escola preparatória e tive que enfrentar nova escolha para continuar os estudos. E essa escolha implicou uma mudança radical para a família, em especial a minha mãe, pois foi decidido que eu viria estudar para Santarém, a capital do distrito, onde havia o curso que eu devia seguir, ou seja o Curso Geral de Comércio.
Dada a distância, 30 kms, não era viável eu ir de autocarro e regressar a casa todos os dias. Não havia horários compatíveis e era muito cansativo para mim. Portanto a opção dos meus pais, foi a minha mãe mudar-se para Santarém connosco, eu e a minha irmã para continuarmos os estudos, enquanto meu pai permaneceu na aldeia sozinho, indo só ficar connosco á nova casa alugada na cidade, quando as viagens de trabalho lhe permitiam passar perto de Santarém e fazer uma paragem.
Meus pais venderam os animais - cabras, porcos, uma mula e a carroça que ela puxava - porque não havia quem tratasse deles, e sei como essa mudança foi dolorosa para eles. Especialmente para meu pai e também para minha mãe que estava habituada á vida da aldeia e a ter o seu marido com ela.
Mas havia épocas em que era necessária a sua presença na aldeia, para fazer certos trabalhos do campo - como a apanha da azeitona - e nessas ocasiões, vinha a mãe nº 2, a minha avó materna, para cozinhar e tomar conta de mim e da minha irmã.
Se era difícil para a minha mãe, para a minha avó, era mesmo um sacrifício, mas ela lá se aguentava, até que uma trombose a apanhou e teve que ficar acamada na sua casa na aldeia.
Novo sacrífico para a minha mãe, já que naqueles tempos, não se falava em por os pais em lares. Quando adoeciam ou ficavam velhos, os filhos revezavam-se á vez, para tomar conta deles, cuidando-os e providenciando o que fosse necessário mesmo com prejuízo da vida familiar.
Assim a minha mãe dividia os dias da semana com as outras três irmãs, que moravam junto á minha avó, sendo a minha mãe a única que morava mais longe, na cidade a trinta quilómetros, e dois a três dias, de duas em duas semanas, ia para casa da mãe, para cuidar das suas necessidades mais básicas, já que estava paralisada na cama, até que ela faleceu.
Eu e a minha irmã, ficávamos sozinhas em casa. No entanto foi a minha irmã a que mais sofreu, pois eu entretanto já tinha casado e ido para a minha casa. E em especial, o meu pai, que mais uma vez ficou sozinho e teve que fazer de pai e mãe, nesses dias de ausência da esposa.
Mas não vou contar toda a vida da minha mãe e os sacrifícios que passou pelas filhas e a família, porque também quero falar um pouco da outra mãe da minha vida, já falecida: a minha sogra.
Contrariamente ao habitual quando se fala de sogras, a minha foi sempre como uma mãe para mim. Acolheu-me na sua casa e na sua família, desde o primeiro momento em que eu apareci como namorada do seu filho, com os meus 19 anos.
Tive desde o primeiro momento, um grande carinho e admiração por essa mulher franzina, sofrendo desde sempre com graves problemas de reumatismo, que se viu viúva quando tinha cerca de quarenta anos, com sete filhos para criar, o mais velho dos quais tinha 18 anos e mais pequena, era ainda bebé.
Nessa altura, eram colonos em Moçambique, ao abrigo dum programa do governo daquela época, que cedia as terras para cultivar às pessoas pobres que quisessem ir para lá.
Como é óbvio só conheço essa história por me ser contada pela família, porque só os conheci mais tarde, mas ao regressar ao continente, com os sete filhos, teve que recomeçar sozinha a vida desde o zero. Trabalhando no campo com os filhos mais velhos, enquanto os do meio, tomavam conta dos mais pequenos, com uma casa que foi sendo construída por eles e que inicialmente, só tinha quatro paredes e um telhado, com piso térreo, num terreno alugado, conseguiu unir a família em torno de si, e todos conseguiram bons trabalhos e boas casas, e uma vida digna.
Era verdadeiramente a matriarca da família, em torno da qual tudo girava e todos se uniam, e agora que se foi, com noventa anos, o seu espírito e os seus ensinamentos e exemplos de vida continuam vivos na família.
Da minha avó paterna, guardo também carinhosamente boas recordações, mas ela faleceu quando eu tinha quinze anos e portanto só a recordo quando eu era criança e ia á noite a sua casa, com o meu pai, e estavam a jantar á luz da candeia. Geralmente eram batatas cozidas com bacalhau, pelo menos é o que recordo e sempre me convidavam para comer com eles.
Muitas vezes era apenas um pouco de pão molhado no molho do bom azeite das suas oliveiras, que ainda estão lá dando os seus frutos, mas que me sabia muito bem.
Quem teve paciência para ler até aqui, eu agradeço por poder partilhar algumas recordações das mães da minha vida, e dedico em especial á minha mãe, única que ainda se mantém viva a meu lado, esta crónica, neste Dia das Mães.
Arlete Piedade Louro
Crónica publicada no meu livro ERA NO TEMPO DE...CRÓNICAS DE OUTRAS ÉPOCAS
Por Arlete Piedade Louro
Há anos fui convidada a escrever um texto sobre o Dia da Mãe, que se comemorará no próximo domingo, dia 3 de Maio em Portugal e que será dirigido a leitores de Portugal, do Brasil e outros países pelo mundo. Deparo-me portanto, com múltiplas escolhas sobre o que escrever e a quem dedicar a minha prosa. Geralmente escrevemos nestes dias, sobre a nossa mãe e também se diz que Mãe há só uma!
Sim, cada um tem a sua mãe, que também foram filhas e tiveram a sua mãe, que foi a nossa avó. Das avós também se diz que são mães duas vezes. Mães dos seus filhos e dos filhos dos seus filhos. Depois temos as nossas sogras, as mães dos nossos cônjuges, aquelas que geralmente têm má fama, mas que muitas vezes é imerecida, pois acabam por ser também mães duas vezes. Mães dos seus filhos ou filhas e mães das pessoas que foram escolhidas para parceiros de vida, através do casamento - ou não - dos seus filhos (as).
As nossas sogras além de serem também um pouco nossas mães, por sermos casadas com seus filhos, são também as outras avós dos nossos filhos, que seguindo o mesmo raciocínio, são mães a dobrar dos nossos filhos, que amamos tanto.
Então segue-se que temos não só as nossas mães, como também as nossas avós e ainda as nossas sogras, todas elas com o papel de nossas mães.
Depois - e aqui falo de outros casos que não o meu - temos as mães adotivas, as mães de acolhimento, as mães afetivas, as mães de criação, as madrastas, enfim, mulheres que em alguma altura das nossas vidas, nos acolhem e nos dão a ternura e a educação que a mãe biológica, não pode dar, seja por morte, afastamento, falta de condições económicas, ou outros motivos.
Mas voltando ao meu caso, as mães da minha vida, com que intitulei esta crónica, terei que falar em primeiro lugar da minha mãe. Nasci numa pequena aldeia no interior centro de Portugal, em finais da década de 50 do século passado.
A vida era difícil, minha mãe vinha de uma família pobre, mas ainda hoje diz que nunca passou fome, ela e as suas quatro irmãs, apesar de no inverno não haver trabalho e viverem só das reservas que a terra dava e do crédito na mercearia. No verão ela e as suas irmãs trabalhavam no campo nos ranchos que vinha para a lezíria de Santarém, trabalhar para os grandes proprietários, nos trabalhos do campo sazonais, como a monda, a vindima, a apanha da azeitona e outros.
O meu avô, seu pai, era pedreiro mas naquela época, as casas eram construídas com adobes, blocos feitos com terra seca ao sol e que portanto só no verão era possível construir. Meu pai, também filho de uma família dedicada aos trabalhos no campo e a pequenos negócios, foi serrador na sua juventude.
Iam em ranchos, os homens para os pinhais da Beira Baixa, distantes mais de 100 a 200 kms, nas suas bicicletas a pedal, carregados com mantimentos, roupas e instrumentos de trabalho para ficarem fora de casa, dois a três meses, e lá ficavam cortando os pinheiros e outras árvores que serravam em tábuas, tudo á mão com trabalho manual, portanto, até poderem regressar a casa.
Era uma vida dura, o trabalho era muitas vezes feito debaixo de neve e chuva, e a comida era feita numa fogueira e mantida pendurada nas árvores em sacos, para não ser comida pelos animais e se manter por mais tempo. A única maneira de se aguentar, era o sal com que era acondicionada, nomeadamente a carne que levavam, para cozer e fazer a sopa com feijões ou grãos.
Um dia o meu pai teve uma zanga com os companheiros penso que devido a contas, e jurou que nunca mais iria serrar. Veio para casa, e foi tirar a carta de condução de motorista profissional, o que na década de cinquenta e nas aldeias, era um grande feito.
Portanto quando eu nasci, meu pai já trabalhava como motorista e minha mãe tomava conta das propriedades que cultivavam, além do trabalho da casa, de dar comida aos animais que tinham, e de ir lavar a roupa ao ribeiro, porque nem tanque tinha em casa e era hábito naquele tempo.
Era uma vida trabalhosa, mas feliz. Quando chegou a altura de eu ir para a escola primária, que era numa aldeia vizinha, sede da junta de freguesia, ia a pé com as outras crianças, através dos campos, cerca de três quilómetros, e além dos livros, levava o almoço que a minha mãe me mandava e comia frio.
Como eu era boa aluna e segundo as professoras era inteligente, foi recomendado aos meus pais, para me "colocaram a estudar". Meu pai nessa altura trabalhava numa cerâmica com um camião que ia levar materiais de construção para Lisboa, principalmente tijolos e já ganhava relativamente bem para a época. Foi portanto decidido que eu iria estudar para Alcanena, uma vila que ficava a cerca de 15 Kms, e que tinha uma escola preparatória.
Mas não era fácil. Eu tinha que ficar fora de casa todo o dia e só tinha onze anos. Saía de casa às 7 h da manhã e regressava às 20 h ou mais tarde. Levava mais uma vez o almoço numa lancheira, embrulhada em jornais, para manter o calor, mas quando chegava a hora do almoço, já estava frio.
Minha mãe ainda há dias me dizia que naquela época, levantava-se às 2 h da manhã para fazer o almoço para o meu pai levar para o trabalho, pois ele saía de casa de madrugada, a seguir levantava-se de novo às 6 h da manhã para me preparar para ir para a escola e quando regressava a casa de me ir acompanhar ao autocarro, eram horas de chamar a minha irmã mais nova, para ir para a escola primária a tal que era a 3 kms de casa, através dos campos, e para lhe fazer o almoço também para ela.
Mas chegou nova época, quando eu terminei os dois anos da escola preparatória e tive que enfrentar nova escolha para continuar os estudos. E essa escolha implicou uma mudança radical para a família, em especial a minha mãe, pois foi decidido que eu viria estudar para Santarém, a capital do distrito, onde havia o curso que eu devia seguir, ou seja o Curso Geral de Comércio.
Dada a distância, 30 kms, não era viável eu ir de autocarro e regressar a casa todos os dias. Não havia horários compatíveis e era muito cansativo para mim. Portanto a opção dos meus pais, foi a minha mãe mudar-se para Santarém connosco, eu e a minha irmã para continuarmos os estudos, enquanto meu pai permaneceu na aldeia sozinho, indo só ficar connosco á nova casa alugada na cidade, quando as viagens de trabalho lhe permitiam passar perto de Santarém e fazer uma paragem.
Meus pais venderam os animais - cabras, porcos, uma mula e a carroça que ela puxava - porque não havia quem tratasse deles, e sei como essa mudança foi dolorosa para eles. Especialmente para meu pai e também para minha mãe que estava habituada á vida da aldeia e a ter o seu marido com ela.
Mas havia épocas em que era necessária a sua presença na aldeia, para fazer certos trabalhos do campo - como a apanha da azeitona - e nessas ocasiões, vinha a mãe nº 2, a minha avó materna, para cozinhar e tomar conta de mim e da minha irmã.
Se era difícil para a minha mãe, para a minha avó, era mesmo um sacrifício, mas ela lá se aguentava, até que uma trombose a apanhou e teve que ficar acamada na sua casa na aldeia.
Novo sacrífico para a minha mãe, já que naqueles tempos, não se falava em por os pais em lares. Quando adoeciam ou ficavam velhos, os filhos revezavam-se á vez, para tomar conta deles, cuidando-os e providenciando o que fosse necessário mesmo com prejuízo da vida familiar.
Assim a minha mãe dividia os dias da semana com as outras três irmãs, que moravam junto á minha avó, sendo a minha mãe a única que morava mais longe, na cidade a trinta quilómetros, e dois a três dias, de duas em duas semanas, ia para casa da mãe, para cuidar das suas necessidades mais básicas, já que estava paralisada na cama, até que ela faleceu.
Eu e a minha irmã, ficávamos sozinhas em casa. No entanto foi a minha irmã a que mais sofreu, pois eu entretanto já tinha casado e ido para a minha casa. E em especial, o meu pai, que mais uma vez ficou sozinho e teve que fazer de pai e mãe, nesses dias de ausência da esposa.
Mas não vou contar toda a vida da minha mãe e os sacrifícios que passou pelas filhas e a família, porque também quero falar um pouco da outra mãe da minha vida, já falecida: a minha sogra.
Contrariamente ao habitual quando se fala de sogras, a minha foi sempre como uma mãe para mim. Acolheu-me na sua casa e na sua família, desde o primeiro momento em que eu apareci como namorada do seu filho, com os meus 19 anos.
Tive desde o primeiro momento, um grande carinho e admiração por essa mulher franzina, sofrendo desde sempre com graves problemas de reumatismo, que se viu viúva quando tinha cerca de quarenta anos, com sete filhos para criar, o mais velho dos quais tinha 18 anos e mais pequena, era ainda bebé.
Nessa altura, eram colonos em Moçambique, ao abrigo dum programa do governo daquela época, que cedia as terras para cultivar às pessoas pobres que quisessem ir para lá.
Como é óbvio só conheço essa história por me ser contada pela família, porque só os conheci mais tarde, mas ao regressar ao continente, com os sete filhos, teve que recomeçar sozinha a vida desde o zero. Trabalhando no campo com os filhos mais velhos, enquanto os do meio, tomavam conta dos mais pequenos, com uma casa que foi sendo construída por eles e que inicialmente, só tinha quatro paredes e um telhado, com piso térreo, num terreno alugado, conseguiu unir a família em torno de si, e todos conseguiram bons trabalhos e boas casas, e uma vida digna.
Era verdadeiramente a matriarca da família, em torno da qual tudo girava e todos se uniam, e agora que se foi, com noventa anos, o seu espírito e os seus ensinamentos e exemplos de vida continuam vivos na família.
Da minha avó paterna, guardo também carinhosamente boas recordações, mas ela faleceu quando eu tinha quinze anos e portanto só a recordo quando eu era criança e ia á noite a sua casa, com o meu pai, e estavam a jantar á luz da candeia. Geralmente eram batatas cozidas com bacalhau, pelo menos é o que recordo e sempre me convidavam para comer com eles.
Muitas vezes era apenas um pouco de pão molhado no molho do bom azeite das suas oliveiras, que ainda estão lá dando os seus frutos, mas que me sabia muito bem.
Quem teve paciência para ler até aqui, eu agradeço por poder partilhar algumas recordações das mães da minha vida, e dedico em especial á minha mãe, única que ainda se mantém viva a meu lado, esta crónica, neste Dia das Mães.
Arlete Piedade Louro
Crónica publicada no meu livro ERA NO TEMPO DE...CRÓNICAS DE OUTRAS ÉPOCAS
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