Histórias da Vida Real
Crónica por Martim Afonso Fernandes
O JOVEM VOADOR
Ícaro Passos de Araújo, era o nome de um rapazola de mais ou menos seus treze anos. Gostava muito de aventuras e mais ainda de fazer diabruras.
Não perdia filmes que pudessem lhe sugerir algo de importante e curioso. Certa ocasião sonhou que estava a voar. E resolveu começar um projeto voador!
Em primeiro lugar saltou de cima de uma casa com um guarda-chuva aberto, que deu-lhe alguns segundos de prazer, deslocou-se uns cinqüenta metros, mas a armadura metálica do sombreiro não resistiu e virou ao contrário.
Depois, a continuar suas experiências, pegou um pato, ave caseira, e começou a jogar para cima e a observar os movimentos das asas. A abrir e a fechar.
Com uma cartolina, resolveu desenhar modelos de asas e passou para a construção. Preparou uma armação de bambu e cobriu-a com tecido. Colocou o aparato sobre suas costas e os braços dentro dos suportes para acionar os movimentos de bater as asas.
Chegou o dia do teste. Chamou os colegas para ajudá-lo a fixar aquela armação móvel, que estava bem comentada na cidade e na escola onde estudava. Sua residência situava-se numa rua de declive bem acentuado. Tudo pronto. O Icaro sonhador partiu para a realização de seu grande projeto.
Ao se projetar do telhado de sua casa, a euforia e os aplausos dos presentes foram grandes, mas duraram pouco tempo. Faltou energia para que seus braços pudessem deslocar o ar e galgar uma distância e uma altura para completar o percurso de seu desejo. Por proteção de anjos, não chegou a quebrar-se muito, sua aterrissagem fé-lo cair de pé e sair a rolar pelo mato rasteiro que por ali existia.
Ao completar maior idade, Ícaro foi prestar serviço militar na Força Aérea Brasileira, podendo assim realizar uma parte de seu sonho. Não voou com asas próprias, mas com asas metálicas, com aviões a propulsão, motorizados ou turbinados.
Este jovem passou para a história. Dava seus longos passos no ar, cortando os ares que na sua infância tanto sonhara atravessar. Mais uma vez o homem sonhou voar. E realizou seu grande sonho.
Seria seu nome e seus sobrenomes que o incentivaram a querer subir às alturas? Aqui no Brasil chamamos aos tripulantes de navios de marujos, por andarem no mar. E, para completar, não ficaria nada mal chamar de araújo a quem anda pelos ares.
Ícaro, após terminar seu tempo de prestação ao serviço militar, retornou à vida civil. Há muitos anos passados, reencontrei um amigo nosso de infância e ao perguntar-lhe sobre alguns companheiros de nosso tempo, lembramo-nos entre outros das diabruras que fazíamos e do rumo profissional que cada um tomou. O nome do rapazola que acabou voando veio-nos à mente. Daí o nosso papo:
-Que rumo tomou o Ícaro? Meu amigo respondeu:
-Aquele encapetado trabalha numa fábrica de industrialização de carne de siri para exportação, numa cidade vizinha daqui.
Aí interroguei meu colega:
-Ele formou-se em química?
-Não, disse meu colega. Hoje ele é operador de caldeira para geração de vapor do sistema industrial. E o mais engraçado é que foi usada uma locomotiva antiga a vapor servindo para decoração da indústria que ele trabalha.
Ao ouvir esta resposta, dei aquela minha gargalhada que ecoa aos pés da montanha. Meu amigo assustou-se com o troar do barulho e me interrogou: -Por que tamanha gargalhada, homem?
Ao que respondi: - Se Ícaro ainda tiver aquela vontade doida de voar e fechar todas as válvulas de segurança da caldeira, com a pressão alta da mesma, ela explodirá e leva tudo para o espaço sideral!!!
Crónica por Martim Afonso Fernandes
O JOVEM VOADOR
Ícaro Passos de Araújo, era o nome de um rapazola de mais ou menos seus treze anos. Gostava muito de aventuras e mais ainda de fazer diabruras.
Não perdia filmes que pudessem lhe sugerir algo de importante e curioso. Certa ocasião sonhou que estava a voar. E resolveu começar um projeto voador!
Em primeiro lugar saltou de cima de uma casa com um guarda-chuva aberto, que deu-lhe alguns segundos de prazer, deslocou-se uns cinqüenta metros, mas a armadura metálica do sombreiro não resistiu e virou ao contrário.
Depois, a continuar suas experiências, pegou um pato, ave caseira, e começou a jogar para cima e a observar os movimentos das asas. A abrir e a fechar.
Com uma cartolina, resolveu desenhar modelos de asas e passou para a construção. Preparou uma armação de bambu e cobriu-a com tecido. Colocou o aparato sobre suas costas e os braços dentro dos suportes para acionar os movimentos de bater as asas.
Chegou o dia do teste. Chamou os colegas para ajudá-lo a fixar aquela armação móvel, que estava bem comentada na cidade e na escola onde estudava. Sua residência situava-se numa rua de declive bem acentuado. Tudo pronto. O Icaro sonhador partiu para a realização de seu grande projeto.
Ao se projetar do telhado de sua casa, a euforia e os aplausos dos presentes foram grandes, mas duraram pouco tempo. Faltou energia para que seus braços pudessem deslocar o ar e galgar uma distância e uma altura para completar o percurso de seu desejo. Por proteção de anjos, não chegou a quebrar-se muito, sua aterrissagem fé-lo cair de pé e sair a rolar pelo mato rasteiro que por ali existia.
Ao completar maior idade, Ícaro foi prestar serviço militar na Força Aérea Brasileira, podendo assim realizar uma parte de seu sonho. Não voou com asas próprias, mas com asas metálicas, com aviões a propulsão, motorizados ou turbinados.
Este jovem passou para a história. Dava seus longos passos no ar, cortando os ares que na sua infância tanto sonhara atravessar. Mais uma vez o homem sonhou voar. E realizou seu grande sonho.
Seria seu nome e seus sobrenomes que o incentivaram a querer subir às alturas? Aqui no Brasil chamamos aos tripulantes de navios de marujos, por andarem no mar. E, para completar, não ficaria nada mal chamar de araújo a quem anda pelos ares.
Ícaro, após terminar seu tempo de prestação ao serviço militar, retornou à vida civil. Há muitos anos passados, reencontrei um amigo nosso de infância e ao perguntar-lhe sobre alguns companheiros de nosso tempo, lembramo-nos entre outros das diabruras que fazíamos e do rumo profissional que cada um tomou. O nome do rapazola que acabou voando veio-nos à mente. Daí o nosso papo:
-Que rumo tomou o Ícaro? Meu amigo respondeu:
-Aquele encapetado trabalha numa fábrica de industrialização de carne de siri para exportação, numa cidade vizinha daqui.
Aí interroguei meu colega:
-Ele formou-se em química?
-Não, disse meu colega. Hoje ele é operador de caldeira para geração de vapor do sistema industrial. E o mais engraçado é que foi usada uma locomotiva antiga a vapor servindo para decoração da indústria que ele trabalha.
Ao ouvir esta resposta, dei aquela minha gargalhada que ecoa aos pés da montanha. Meu amigo assustou-se com o troar do barulho e me interrogou: -Por que tamanha gargalhada, homem?
Ao que respondi: - Se Ícaro ainda tiver aquela vontade doida de voar e fechar todas as válvulas de segurança da caldeira, com a pressão alta da mesma, ela explodirá e leva tudo para o espaço sideral!!!
Sem comentários:
Enviar um comentário