sábado, 16 de maio de 2015

Poesia de Mário Matta e Silva


Poesia de Mário Matta e Silva

AS MÃOS PRODÍGIO

À memória de Herberto Hélder

Renovado canto na poesia toda duma vida
Silêncios por absoluto do ventre materno
E o ensejo telúrico da viagem já vencida
Alagando as têmporas de queixumes
Os astros de relâmpagos e lumes
Desfeitas as mensagens desabridas
Universal metáfora, de gestos, de costumes.

Faltou-lhe a mãe na luta dos seus dias
Sensações-vertigem em noites perfumadas
As horas foram na escrita desventradas
As palavras, milhares de palavras, esvoaçantes
Por aí foram ficando como eco de si mesmo
Ego em formas frenéticas, abismadas
Tão fortes, tão de gozo, ensanguentadas.

Deixados os escritos desfeitos em loucura
As flores, os espaços, os tempos e a candura
Que na Natureza cresce em arcos luminosos
Nessas felicidades temerárias e breves
Da mão a ansiedade e o pranto com que escreves
Contra poderes, haveres, cinismos e vergonha
Rascunhos de um Ser rebelde, impetuoso.

Trasladados versos para no presente ler
Futuros prenhes de vermes pra te receber
Na forma austera, viril e franca de Poeta
São sombras que ficam de ti que num registo
Em lombadas herméticas o teu nome se escreve
Um todo de ti, um pouco de nós, até à meta
Ó mãos-prodigio numa agonia incerta!

23 de Março de 2015

Mário Matta e Silva



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